Ambulante morta pelo ex-cunhado na Estação Mussurunga é sepultada

"A gente fazia tudo junto. Agora eu não sei como vai ser", lamentou o filho de 11 anos

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  • Milena Hildete

Publicado em 13 de outubro de 2017 às 18:53

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Vítima de mais um caso de violência contra a mulher, a vendedora Jacineide Alves Lima, 42 anos, foi sepultada na tarde desta sexta-feira (13), no cemitério Jardim Celestial, em Feira de Santana. Familiares, amigos e ambulantes lotaram a cerimônia para se despedir da comerciante, que foi assassinada a facadas pelo ex-cunhado na Estação Mussuranga, em Salvador.

Emocionado, Gabriel Lima, 11 anos, filho de Jacineide, lamentou a perda da mãe durante toda a cerimônia. "Apesar dela trabalhar muito, a gente fazia tudo junto. Agora eu não sei como vai ser. Eu ainda não entendi porque fizeram isso com minha mãe", diz o garoto. Ele estava passando o Dia das Crianças na casa do pai quando soube da morte da ambulante . Ao seu lado, as tias se juntavam para consolá-lo. "Pode contar comigo, Gabi. Eu prometo que vou fazer tudo que sua mãe fazia por você", disse Denise Alves Lima, irmã de Jacineide. 

Pessoas que conviveram diariamente com a vendedora destacavam sua determinação no trabalho. "Ela tinha vontade de vencer. Era uma guerreira, que estava conquistando tudo o que merecia", diz um vendedor, que prefere não se identificar. 

Moradora do bairro de Mussuranga, a ambulante costumava  acordar às 4h para trabalhar no ponto da Estação Mussuranga. A rotina se repetia há seis meses, desde que foi demitida de um emprego do Shopping Bela Vista. Ela também arranjava bicos como diarista e confeteira para conseguir uma renda extra para terminar de quitar o próprio box na estação. Filho da ambulante foi consolado pelas tias (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) "Jacineide dividia o box com a irmã antes, mas depois de lutar muito ela conseguiu comprar um ponto só pra ela", explica Marli Almeida, líder dos ambulantes da estação e amiga da vítima. Marli também comentou  sobre o relacionamento de Jacineide com Eleni. "As duas eram um só coração, elas se ajudam e se davam muito bem, todo mundo na Estação sabia disso".

Sob efeito de medicamentos, Eleni participou do sepultamento da irmã. Ela, segundo informações dos familiares, se sente culpada pelo crime cometido pelo ex-companheiro. "Eleni está se sentindo muito mal, porque Jacineide tinha um filho. Ela acha que a culpa é dela, mas ele [Nelson] faria isso como qualquer pessoa", completou. 

A vítima é de Feira de Santana, mas estava a Salvador há 18 anos para trabalhar. 

Crime Separado há um mês e meio de Eleni Alves Lima, Nelson Messias dos Santos, 48 anos, foi até a Estação Mussurunga na manhã de ontem, e matou a ex-cunhada com golpes de faca. Na tentativa de detê-lo, o ambulante José Geraldo Nunes Leite, 52, e o segurança Euclides Oliveira, 47, também foram feridos. Depois, Nelson se matou com facadas no pescoço. Euclides já teve alta e José Geraldo passou por cirurgia.

Jacineide e Eleni têm boxes dentro do terminal, onde vendem salgados e doces. A ação aconteceu rapidamente, de acordo com relato de testemunhas. Nelson chegou no local com duas facas e foi direto para o boxe de Jacineide. Algumas testemunhas contaram também que ao ver o ex-marido, Eleni fugiu do ex e correu na direção da irmã gritando por ajuda. De acordo com informações da Polícia Militar (PM), Jacineide foi atingida no abdômen. 

Ainda segundo os depoimentos, pelo menos oito pessoas tentaram deter o agressor, mas não conseguiram impedir a ação. "Ele deixou o carro ligado próximo ao local do crime", disse Marcelo Alves, ambulante que testemunhou o crime. Eleni não ficou ferida."Ele ligou para a cunhada hoje pela manhã, e ela [Jacineide] mandou ele esquecer a irmã dela. Quando desligou o telefone, ele veio direto para a estação. Quando chegou aqui, foi direto na barraca da cunhada" conta o ambulante Marcelo Alves, que testemunhou o crime."Eu vi quando ele [Nelson] já estava aqui no meio, um companheiro tentou segurar ele e tomou duas facadas. Fui correndo e ela já estava no chão. Olhei para ela [Jacineide], segurei a mão dela e ela não tinha mais forças para segurar a minha mão", contou a ambulante e amiga da vitima, Ivonete Moreira, 45.

Segundo a CCR Metrô Bahia, concessionária que administra o metrô da capital, o atentado aconteceu na área do terminal de ônibus -- na plataforma C, entre as saídas 16 e 17. 

Após o ataque, a plataforma C foi interditada. As barracas de ambulantes do terminal foram fechadas. "Amanhã [sexta-feira] também fecharemos, em homenagem às nossa amiga", contou Marli Almeida, que se apresentou como líder dos ambulantes da Estação Mussurunga.

"Ouvi gritos e depois ele se esfaqueando aqui em frente. Nunca vi uma coisa assim", conta a funcionária de uma farmácia que fica em frente ao local do ataque, que não quis se identificar. 

Em nota, a CCR Metrô Bahia diz lamentar o ocorrido, que prestou os primeiros-socorros às vitimas e está colaborando com as autoridades policiais nas investigações. 

Prisão e medida protetiva Nelson foi preso em flagrante por lesão corporal em 15 de setembro, de acordo com informações do portal do Tribunal de Justiça da Bahia. A vítima foi a ex-esposa Eleni. Segundo a SSP, ele ficou custodiado quatro dias e ganhou a liberdade provisória após audiência de custódia.

Familiares de Jacineide e Eleni contaram no posto policial do HGE que Nelson tinha comportamento agressivo e era muito ciumento. Foram cinco anos de relacionamento tumultuado, com idas e vindas, ainda de acordo com os parentes das ambulantes. 

Amigos das irmãs ambulantes relataram ainda que o autor das facadas não aceitava a separação e tinha que manter distância de 100 metros de Eleni, por decisão judicial. O CORREIO não conseguiu confirmar se Eleni tem medida protetiva contra o ex-marido.

Jacineide deixa um filho. "Ela me contou que ia sair mais cedo daqui [da estação] para dar o presente de dia das crianças para o filho Gabriel que tem 10 anos", contou Ivonete, que tem uma barraca próximo à da vítima.