Amigo foi cobrado por reforma de imóvel da filha de Temer

E-mail encontrado pela Polícia Federal reforça indício de que coronel Lima Filho pode ser laranja do presidente conforme aponta delação da JBS

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  • Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2017 às 11:33

- Atualizado há um ano

Um documento encontrado pela Polícia Federal na casa do coronel João Baptista Lima Filho é um indício a mais de que o militar pode ser um laranja do presidente Michel Temer, conforme apontou executivos da JBS em delação premiada. Segundo os executivos, Temer indicou o coronel para receber R$ 1 milhão dos R$ 15 milhões que a empresa destinou para o caixa dois da campanha do peemedebista em 2014, quando concorreu a vice-presidente na chapa encabeçada pela petista Dilma Rousseff, afastada do cargo depois de um processo de impeachment.

Segundo reportagem publicada hoje (15/6) pelo jornal Folha de São Paulo, agentes da Polícia Federal encontraram uma cópia de e-mail na casa do coronel com sinais de que ele cuidou de pagamentos da reforma de um imóvel de Maristela, uma das filhas do presidente.  O documento de 2014, enviado por um arquiteto, cobra de Lima o valor de R$ 44.394,42 pela obra.

O jornal lembra que o coronel aposentado da PM, aliado do presidente há mais de 30 anos, é investigado pelo Supremo sob suspeita de atuar como laranja dele. Segundo a delação da JBS, Temer indicou o coronel para receber R$ 1 milhão dos R$ 15 milhões que a empresa destinou para o caixa dois da campanha dele em 2014.

Na mensagem apreendida pela PF, segundo a reportagem, o arquiteto Luiz Visani, da Visani Engenharia, informa a mulher do coronel, Maria Rita Fratezi, sobre os pagamentos que devem ser feitos em novembro de 2014 . "Segue a previsão de pagamentos deste mês", escreve Visani, listando em seguida três itens: "1. Mão de obra "" R$ 26.610,00; 2. Reembolso de material "" R$ 14.501,70; 3. Complemento 5 de setembro/14 "" R$ 3.282,72", totalizando os R$ 44.394,42. Como se trata de um documento isolado, não é possível saber qual foi o custo total da reforma, realizada entre 2014 e 2015, quando Temer era vice de Dilma Rousseff (PT).

Sem explicação

Questionada pela Folha, a assessoria de Temer não explicou por que a mulher do coronel cuidou de pagamentos da reforma. Disse que na época a filha de Temer "tinha recursos para custear a obra". O imóvel reformado fica no Alto de Pinheiros, área de classe média alta na zona oeste. Segundo registros da Prefeitura de São Paulo, trata-se de uma casa de 219 m², construída num terreno de 392 m².

O valor de mercado do imóvel é de cerca de R$ 4 milhões, segundo o serviço Fipezap. A cópia da mensagem foi apreendida pela Polícia Federal no dia 18 de maio, um dia depois de o jornal "O Globo" ter noticiado que Joesley Batista, da JBS, gravara uma conversa com presidente Temer na qual, segundo a Procuradoria-Geral da República, o presidente deu aval para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.

Destinatária da mensagem, a mulher do coronel é arquiteta e trabalha na empresa de construção da qual ele é dono, a Argeplan. Uma cópia do e-mail foi encontrada pela Polícia Federal no apartamento do coronel. O papel com a mensagem estava rasgado, assim como outros apreendidos com Lima. 

Os papéis rasgados foram interpretados pela PF como uma tentativa de destruir provas. O coronel está sob investigação no mesmo inquérito que apura a suspeita de compra do silêncio de Cunha com suposta anuência de Temer.

Recibo

Na busca realizada pela PF no escritório da empresa do coronel, a Argeplan, a PF encontrou outro documento que vincula o amigo à obra. Trata-se de um recibo no valor de R$ 5.500 da empresa Móveis e Esquadrias Santos Ltda., que fica em Garça, interior de São Paulo. Uma fazenda do coronel fica numa cidade vizinha, Duartina. Lima é conhecido cliente da empresa, que forneceu batentes de madeira e janelas para a casa da filha de Temer. Esse recibo é o último de uma série de sete, que aponta que o trabalho custou R$ 38.500.

Segundo a Folha, o presidente Temer deu respostas incompatíveis entre si sobre a reforma da casa da filha. Inicialmente, disse que os documentos sobre a reforma foram encontrados com o coronel porque ele orçara a obra, mas sua filha achou o preço alto e preferiu outra empresa. Quando fornecedores confirmaram ao "Jornal Nacional" que negociaram com Lima, a Presidência informou que o militar coordenou a reforma. Diante do questionamento da Folha sobre a cobrança de R$ 44.394,42 à mulher do coronel Lima, a Presidência não respondeu.

A assessoria do presidente Michel Temer não respondeu por que o coronel João Baptista Lima Filho cuidou de pagamentos da reforma da casa de Maristela Temer. Ao ser questionada por que o aliado cuidara de pagamentos da reforma, a assessoria enviou a seguinte resposta: "À época da reforma, Maristela Temer tinha recursos para custear as obras".

A Folha quis saber se era possível checar eventuais pagamentos de Maristela Temer ao coronel, mas a assessoria de Temer não respondeu.

A Presidência também ignorou aos seguintes questionamentos: 1) o coronel fez os pagamentos a pedido de quem?; 2) o presidente sabia que o coronel pagava despesas da reforma da filha?; 3) Temer ou Maristela Temer reembolsaram o coronel?; 4) há documentos comprovando o reembolso? 5) qual foi o custo total da reforma?

O coronel Lima também não quis se pronunciar à reportagem, garante a Folha de São Paulo. Assim como Luiz Visani, da Visani Engenharia. Já o antigo dono da Móveis e Esquadrias Santos, Marcos Lourenço, repetiu quatro vezes "não tenho nada a declarar" diante das perguntas feitas pela reportagem.