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Daniela Leone
Publicado em 15 de setembro de 2022 às 05:01
- Atualizado há 2 anos
Ângelo Alves é candidato à presidência do Vitória pela chapa Vitória Para Todos, que tem Agenor Gordilho Neto como vice-presidente. Ele tem 39 anos, é formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e está fazendo doutorado na área pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Também é formado em Gestão de Futebol pela CBF Academy. Ângelo é servidor público federal no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e tem residência tanto em Salvador como no Rio de Janeiro.>
Apelidado de ‘Ângelo Colecionador’, devido à paixão por colecionar camisas de times, entre outros itens, ele enfrenta o desafio de se desvincular do estereótipo. Uma das propostas dele é a aplicação nas divisões de base de uma metodologia intitulada neurobol.>
Ao longo desta semana, o CORREIO publica entrevistas com os quatro candidatos à presidência do Leão. Algumas perguntas são iguais para todos e outras foram elaboradas especificamente para cada entrevistado, levando em consideração propostas e trajetória. A eleição acontecerá no sábado (17), no Barradão. Quem vencer o pleito, irá tomar posse em dezembro e comandar o clube nos próximos três anos, de 2023 a 2025. >
Por que você quer ser presidente do Vitória? Eu acredito que, com tudo que eu estudei na academia, na universidade, tenha conseguido uma bagagem muito boa, muito forte, muito sólida, e com isso, a gente fez um curso de gestão de futebol e foi desenvolvendo um projeto, foi apresentando para o torcedor, para o sócio torcedor, até que depois de um ano e meio tem um projeto sólido, maduro, com uma proposta de inovação que a gente tem certeza que pode mudar a situação do clube, reerguer e, com a implementação da nossa inovação, pode colocar até o Vitória em outro patamar. >
De onde tirar dinheiro para investir na temporada 2023 caso o clube não conquiste o acesso à Série B este ano? Temos já um patrocinador, a gente fez uma apresentação para ele, conversamos com ele mostrando as nossas propostas e ele se colocou à disposição para patrocinar o clube para os próximos três anos. Não é o patrocinador master, mas já é um patrocinador que já nos garantiu uma receita, e a gente pode conseguir também outros patrocínios assim que entre. A gente já fez uma leitura toda do mercado, já viu onde pode captar valores. Esse montante de valores seria até R$ 24 milhões. Pode chegar próximo a esse valor, a gente botou como teto para arrecadar total de patrocínio e publicidade em 2023. Uma parte vai ser para a divisão de base, outra vai ser para a responsabilidade social e outra vai ser para o departamento de futebol profissional.>
Você pretende manter João Burse e a atual comissão técnica? João Burse tem feito um bom trabalho e, na minha visão, na visão de toda a minha equipe, conseguiu arrumar o time para classificar para a segunda fase, então ele tem o mérito, junto com a torcida, a torcida sendo o combustível para os jogadores, tendo essa simbiose com os jogadores, com o elenco. Então o mérito vai para João Burse e para a torcida, o mérito por ter classificado. A gente não dá esse mérito à gestão, porque a contratação de Burse não foi planejada. Diante disso tudo, há sim um planejamento de manter Burse, mas poderia, talvez, trocar o diretor de futebol. A gente já tem conversas com um diretor de futebol, mas manteria Burse sim. Não posso dizer quem é, até porque a gente não está garantido entrar ainda, então às vezes é melhor manter essa informação confidencial.>
Após nova punição da Fifa, o Vitória está impedido de registrar atletas até junho de 2023. O clube precisa quitar uma dívida de 350 mil dólares (R$ 1,8 milhão) com o Boca Juniors, da Argentina, pelo não pagamento do empréstimo de Walter Bou. Quando e de que forma você irá solucionar esse problema?? Primeiro a gente tem que tentar renegociar. A gente ouviu boatos de que o Boca Juniors não quer renegociar, porque tinha feito uma negociação com antigo gestor, que não foi efetivada, não foi cumprida, e eles estão relutantes para renegociar novamente, mas pode sim tentar uma renegociação. Eu acho que o que vai fazer com que eles aceitem é a quantidade da entrada que a gente pode dar para renegociar o restante. Então, quem sabe, conversando, renegociando, até porque é importante renegociar essa dívida para que faça contratações de atletas e melhore, qualifique o elenco. Então é preciso sim fazer essa renegociação de dívidas.>
Dado o atual cenário financeiro e futebolístico do clube, como você acha que pode deixar o Vitória após três anos de sua gestão, se for eleito? E o que precisa mudar no clube para chegar lá? A gente tem um projeto sólido e maduro, onde vai investir na divisão de base. Temos um projeto para a divisão de base, de acordo com o DNA formador do clube, que é um projeto de inovação, onde a gente identificou na base do clube que existem problemas na tomada de decisões dos atletas. A gente vai propor uma metodologia de formação complementar à formação de futebol, então abriria uma escola lá no Barradão para os atletas da divisão de base, de 14 a 20 anos, e acredito que a partir do momento que implemente essa inovação no clube, em três anos já vai ter colhido bastante. A gente acredita que em um ano já tenha resultados. Melhores atletas performados, mais novos, com tomadas de decisões. Porque o clube já produz atletas de bom nível, mas com problemas na tomada de decisão, então são problemas pontuais ali, que se conseguir corrigir, pode produzir muito mais atletas, tanto para o time profissional quanto para a venda.>
Então essa inovação é o grande diferencial do nosso projeto e do nosso grupo para as eleições do Vitória. A gente acredita que depois de três anos pode entregar o clube sim na Série A. Tem uma pretensão de subir para a Série A de 2026, em 2026 já estaríamos na Série A. Quando a gente fez o nosso projeto, o clube estava na zona de rebaixamento da Série C, então foi conservador: manteve o clube em 2023 na Série C, em 2024 estaria na B, em 2025 estaria na B também e subiria em 2026. Subindo degrau por degrau, de forma conservadora, de forma responsável, para que não dê um passo para trás. E à medida que o tempo vai passando, a nossa inovação já vai dando mais resultados.>
Você pretende transformar o Vitória em SAF? Por quê? Se o nosso projeto der certo, vamos dizer, se 80% do nosso projeto der certo, o clube não precisa de SAF, nem nos três primeiros anos e nem nos três anos seguintes, porque o nosso projeto é muito bom, tem projeto de inovação, a gente conseguiria recursos para investir no time profissional. A gente vê clubes aí, como o Fortaleza, que tem sucesso, conseguiram até chegar à Libertadores sem SAF, enquanto tem outros clubes que tiveram SAF, como o Botafogo, e não estão tendo tanto sucesso assim, apesar de estar no início. Existe sim a possibilidade de clubes como associação civil se manterem competitivos desde que com boa gestão. O que impacta no clube é a gestão. Se for de qualidade, se tiver um bom projeto, se tiver projeto de inovação, de responsabilidade social, se for bem gerido com profissionais de mercado, o clube pode ter sucesso sem SAF. E depois de alguns anos a gente pode sim discutir SAF, mas de forma democrática, de forma transparente, discutida com toda a comunidade rubro-negra, conselheiros, sócios torcedores. O que importa é isso, discutir com todos para definir se vai virar SAF ou não.>
Desde o final do mandato de Alexi Portela Júnior, em 2013, nenhum presidente eleito do Vitória conseguiu terminar o mandato, com exceção daqueles com caráter tampão. O que pretende fazer para que isso não aconteça com você também? Dialogar com todos os conselheiros, com todos os agentes políticos do Vitória. O que a gente não vai aceitar são imposições da gestão e nem que pessoas de fora, conselheiros antigos, cardeais, queiram gerir no nosso lugar. Entretanto, a gente deve mostrar uma segurança para todos os agentes, deve ter transparência, mostrar os números, mostrar as contas, o detalhamento dessas contas, ter uma governança corporativa bastante forte para que ganhe credibilidade de toda a comunidade rubro-negra, incluindo esses agentes políticos antigos, os agentes políticos novos que estão chegando, sócios-torcedores. O importante é isso, ter o diálogo com todo mundo, não fechar portas, mas também ter limites, para que eles não queiram gerir no nosso lugar, que é uma coisa que a gente não vai aceitar.>
Uma das propostas da chapa Vitória Para Todos é o que foi intitulado de "neurobol". No que consiste isso e como funcionaria? O neurobol é uma metodologia desenvolvida por dois especialistas, dois médicos, junto com minha contribuição também, onde a gente vai criar uma escola no Barradão e vai aplicar essa metodologia para a divisão de base, para crianças de 14 a 20 anos, para que elas amadureçam mais, tomem melhores decisões. Esse melhoramento vai ser tanto dentro de campo quanto no comportamento fora de campo, evitando com que esses atletas percam o foco. A gente pretende aplicar essa metodologia, que não é uma metodologia de ensino regular como matemática, ciências, física, não é esse tipo de conhecimento, é um conhecimento mais direcionado à produtividade, ao comportamento fora do campo, vai trabalhar a cabeça do atleta. Esse conhecimento é todo baseado em neurociências, está na fronteira da ciência moderna.>
A gente está trazendo todo esse conhecimento científico para dentro do clube, para que os nossos atletas estejam muito mais preparados mais cedo e que tenham mais valor, até para que se a gente for vender, venda eles por um bom valor, e eles continuem levando a nossa marca, do nosso clube, para fora, para o exterior, trazendo também rendimentos pelo mecanismo de solidariedade, e antes de ser vendido ele também ser usado no clube. Esses atletas estando mais maduros e mais produtivos, a gente evita contratações, pagamento de comissões, então tem muitos benefícios em aplicar essa metodologia.>
A gente já tem uma empresa que vai financiar uma parte desse valor e aí, com esse valor que a gente vai trazer para financiar essa escola, já vai financiar a base. Hoje, o clube gasta por volta de R$ 5 milhões a R$ 6 milhões na base, e implementando a nossa escola vai trazer recursos e substituir o dinheiro que o clube paga. Então, o dinheiro que o clube paga na divisão de base, que o clube gasta, ele vai jogar no futebol profissional. Tem um custo zero para o clube, só de uso da estrutura mesmo, então acho que é bem valioso, é bom a gente aplicar esse neurobol e, a partir de um ano, acredito que tenha resultados significativos.>
Muitos te conhecem por Ângelo Colecionador. Para o pleito, esse apelido te ajuda ou atrapalha? Isso foi muito discutido pela nossa equipe. Antes de eu me imaginar como candidato à presidência do Vitória, eu já era colecionador de camisas, já gostava de estudar a história do clube, já era um rubro-negro apaixonado. Tenho mais de 500 camisas de futebol, desde a década de 60 até as atuais, tenho livros, revistas e algumas pessoas me disseram que talvez atrapalharia na campanha, então a gente procurou esclarecer o torcedor de que a gente também é formado, é gestor de futebol pela CBF Academy, a gente tem um projeto qualificado, então a gente procurou informar o torcedor para que ele tenha consciência que, além dessa paixão do colecionismo, a gente também se preparou para assumir a função de presidente. Quando a gente começou lá atrás, em 2021, as pessoas não acreditavam na gente, porque diziam isso ‘é colecionador’, mas as pessoas foram vendo que a gente veio se preparando ao longo do tempo e hoje em dia as pessoas já acreditam mais na gente. Quando Agenor Gordilho aceitou ser o nosso vice-presidente, aí que as pessoas realmente se deram conta que o nosso trabalho é sério, que a gente está preparado. Senão, uma pessoa do gabarito de Agenor Gordilho não teria aceitado esse desafio, se ele não achasse que somos os mais preparados e que temos o melhor projeto.>