Após assalto, ônibus não têm previsão para voltar a rodar na Capelinha de São Caetano

Moradores preferem o silêncio; sindicato suspeita de ação de facção criminosa e a Semob ordenou retirada dos veículos

Publicado em 21 de janeiro de 2020 às 14:23

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Eduardo Dias/CORREIO)

No início da manhã desta terça-feira (21), o clima de tensão tomou conta do bairro da Capelinha de São Caetano. Após homens encapuzados invadirem e roubarem dois ônibus, levando as chaves dos coletivos e pertences dos passageiros, os veículos pararam de trafegar no bairro durante o restante da manhã.

O crime ocorreu na Rua Padre Antônio Vieira, principal via da Capelinha. No local, o policiamento foi reforçado, mas os moradores não quiseram falar sobre o assunto.

Os veículos envolvidos no assalto foram um ônibus do Consórcio Integra OT Trans, que faz a linha Capelinha/Campo Grande, e um microônibus do Subsistema de Transporte Especial Complementar (Stec), que faz a linha Capelinha/Aeroclube. Os dois veículos foram desligados pelos criminosos e tiveram as chaves retiradas da ignição, impossibilitando a passagem de outros veículos na pista. Depois da ação, apenas três passageiros foram à sede do Grupo Especial de Repressão a Roubos de Coletivos (GERC), na Calçada, para registrar boletim de ocorrência.

Por conta da presença da polícia no bairro, os moradores evitavam falar com a imprensa. Após 5 horas, três viaturas da Polícia Militar, que faziam rondas em busca dos criminosos, deixaram o final de linha do bairro.

O CORREIO esteve no local e notou que os ônibus não estavam entrando no bairro. Os veículos estavam retornando de seus destinos no Largo da Argeral, divisão entre o São Caetano e a entrada da Capelinha.

Inicialmente, a polícia informou que o fato ocorreu após um assalto com homens encapuzados, que levaram pertences de passageiros e as chaves dos coletivos.

Em contato com a reportagem, o diretor adjunto do departamento jurídico do Sindicato dos Rodoviários, Pedro Celestino, apresentou uma outra versão. Segundo ele, não foi um assalto comum, e sim uma ação de traficantes de facções criminosas do bairro."Não foi um simples assalto. Isso foi uma retaliação contra trabalhadores e moradores. Eles queriam queimar os ônibus e, por pouco, não conseguiram", disse.Ainda conforme o diretor, a insegurança na localidade tem sido rotina. "Está havendo uma guerra pelo tráfico por lá há alguns dias, onde facções rivais estão trocando tiros constantemente. O que fizeram foi uma forma de aterrorizar os moradores, eles fizeram isso na intenção de atrair a polícia para lá”, afirmou.

Pedro acrescenta ainda que, após o ocorrido, a orientação do sindicato foi para que os motoristas evitassem entrar no bairro, até que a segurança no local fosse reestabelecida. No entanto, apesar da presença da PM, o diretor não mudou de ideia.

“Geralmente quando acontece esse tipo de coisa, acendemos a luz vermelha e ficamos em alerta. Pensando em evitar um mal maior, a orientação é apenas voltar à normalidade quando tivermos a sensação de segurança. Apesar da presença da polícia no bairro, os trabalhadores não se sentiam à vontade de trafegar no local. Eles tomaram a decisão e nós, do sindicato, precisamos apoiá-los. Por enquanto, ainda não há previsão de retorno dos veículos até o final de linha, estamos conversando", completou.

Segurança Em nota, a PM informou que a 9ª Companhia Independentemente de Policiamento Militar (CIPM/Pirajá) foi acionada e, ao chegar ao local, realizou rondas para localizar os criminosos. Acrescentou ainda que o policiamento está reforçado e permanente na região, inclusive no final de linha da Capelinha, com equipes do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto) e do motopatrulhamento, além da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT)/Rondesp BTS.

De acordo com o secretário municipal de Mobilidade Urbana (Semob), Fábio Mota, os ônibus seguirão sem trafegar dentro da Capelinha, até que a segurança seja reestabelecida. Segundo ele, a ordem para que os veículos não trafegassem, partiu do da Semob e foi acatada pelo Sindicato dos Rodoviários.

“Os veículos foram removidos para as suas garagens, os mecânicos levaram outras chaves, funcionaram e removeram do local. A ordem de não transitar no bairro partiu da Semob e o sindicato apoiou. Estamos com equipes no local, acompanhando a ação da polícia, mas o nosso termômetro são os rodoviários. Só vamos autorizar a entrada quando eles se sentirem seguros o suficiente”, explicou o secretário.

Levantamento Através de assessoria de comunicação, o Consórcio Integra informou que não se manifesta em casos que envolva a segurança pública. No entanto, a empresa divulgou um levantamento feito no mês de dezembro de 2019, mostrando os locais onde ocorrem assaltos aos veículos com maior frequência em Salvador.

A Avenida ACM e a BR-324 lideram a lista com 14 ocorrências registradas cada uma, totalizando 8,14% dos assaltos a ônibus na cidade. Em seguida, o bairro de Cajazeiras somou 13 ocorrências no total, contabilizando 7,56% dos casos.

Confira o levantamento completo na lista abaixo: (Foto: Divulgação/Integra) *Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier