Após demolição de suas casas, moradores de Sussuarana buscam recomeço

Quase nenhum pertence foi salvo no desabamento

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  • Luana Lisboa

Publicado em 29 de julho de 2021 às 06:30

- Atualizado há um ano

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. por Arisson Marinho/CORREIO

A retirada dos entulhos da casa de nº 79 da Rua Direita de Pituaçu, demolida pela Prefeitura sob risco de desabamento, foi acompanhada pelos antigos moradores e vizinhos do imóvel na tarde desta quarta-feira (28). Alguns dos habitantes do bairro de Sussuarana aguardavam apreensivos pelo recolhimento de mobília ou utensílio doméstico que, eventualmente, poderia ter sobrado do imóvel, antes morada de 9 pessoas divididas entre 5 famílias.

Jassiane Dias, que morava com marido e filha no primeiro andar, assistia, com pouca esperança os técnicos da Defesa Civil realizarem a vistoria do entorno, um dia após a ameaça do desabamento que colocara em risco sua vida e a de sua família. Na madrugada do dia 27, ela acordou ao som dos estalos das estruturas, no início de um desabamento parcial. Na agonia, o marido arremessou a filha de dois anos para que ela a segurasse no térreo, e os três saíram às pressas, sem conseguir levar nenhum pertence.

“O fogão virou um fogãozinho de brinquedo. Geladeira, guarda-roupa, televisores, nada se salvou. Só conseguimos recuperar, até agora, roupas de cama e algumas da minha bebê”. Jassiane também está sem aparelho celular, que ficou no recinto com a demolição. A reportagem conseguiu contato com ela através do vizinho, Ezequias de Jesus, que, no momento, ajudava a tirar os entulhos do córrego que passa na rua.

O córrego era o responsável por uma infiltração no imóvel, que ajudava a abalar as estruturas da casa. Após vistoria, os técnicos da Codesal constataram que o local era proveniente de construção irregular e apresentava tanto as infiltrações quanto rachaduras. Técnicos da Sedur (Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo) também avaliaram o espaço e optaram por realizar a demolição total do imóvel.

“O imóvel sofreu um recalque nos fundos, porque foi construído no limite do riacho. A fundação afundou, o imóvel ficou inclinado e a solução foi a demolição. Depois, recolhemos o entulho”, relatou o engenheiro Celso Jorge Carvalho.

No térreo do edifício de três andares funcionava um bar e havia uma garagem. O primeiro andar era o de Jassiane e, no segundo pavimento, ainda moravam 6 pessoas. Para as 5 famílias, foram disponibilizadas as Unidades de Acolhimento e um auxílio financeiro da Secretaria de Promoção Social (Sempre). Ainda assim, os indivíduos optaram por morar com parentes, na mesma rua. Essa é a nova preocupação dos órgãos responsáveis, a casa localizada ao lado direito da demolida, que encara os mesmos problemas de fundação.

“Todas as famílias foram encaminhadas, e no mesmo dia, receberam cestas básicas, kit higiene, lençol, travesseiros e coberturas. Foram também assistidas as famílias que estão no prédio vizinho, que correm risco, pelo terreno ainda estar abalado”, explicou Kelly Morais, diretora da Sempre.

A proprietária do imóvel próximo é Linalva Cerqueira. Ela mora apenas com a gata, que desde o incidente vizinho, não deu mais sinal de vida. Ela diz que essa é sua maior preocupação, no momento. “Na minha casa, tiveram que ser retiradas duas paredes internas, que a Prefeitura substituiu com vigas, mas o rapaz falou que ela está fora de perigo, contanto que eu reforce as estruturas com obras. Já comprei os materiais de construção”, contou.

Enquanto a obra não fica pronta, ela está morando na casa de uma vizinha. “Estou tomando banho, comendo e fazendo tudo na casa de dona Lúcia, enquanto não reboco as paredes e resolvo os outros problemas. Meu medo é só minha gata, que fugiu, ficou assustada com a demolição. Mas ela volta”.

Apesar do susto e do prejuízo, os ferimentos físicos foram poucos. Jassiane conta que teve pequenos arranhões no braço, ao pular do primeiro andar. Seu marido está com o pé engessado, após uma fratura. Agora, agradece até por isso e pretende manter o foco na sua reconstrução. “Graças a Deus, não aconteceu o pior. Estamos com vida. Bens materiais a gente trabalha e consegue de novo”.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo