Após grupo de PMs anunciar greve, arrombamentos e saques são registrados em Salvador

Ao menos duas agências bancárias foram vandalizadas na capital

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  • Tailane Muniz

Publicado em 9 de outubro de 2019 às 10:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
. por Arisson Marinho/CORREIO

Na loja Acrion, no bairro da Liberdade, em Salvador, dois manequins masculinos ostentam os únicos itens que restaram no estabelecimento, após arrombamento, na madrugada desta quarta-feira (9). Um deles, uma camisa azul lisa. O segundo, caído ao chão, veste - parcialmente - um short com estampa floral que, aparentemente, por pouco não foi levado. 

O ataque ao estabelecimento aconteceu por volta das 20h, nesta terça-feira (8), pouco depois que um grupo de policiais militares deliberou “greve por tempo indeterminado”. O anúncio foi de pronto negado pela Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), que garantiu “ruas seguras”.

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Mesmo assim, ao menos duas agências bancárias, na Calçada e Barros Reis, foram vandalizadas. Na Liberdade, em Tancredo Neves, e Cosme de Farias, estabelecimentos sofreram arrombamentos e saques. Sem se identificar, um vendedor da Acrion disse que desde a constatação do arrombamento, apenas uma viatura foi vista na Rua Lima e Silva.“Só vieram na hora, mas depois isso aqui ficou um caos, nenhum sinal PMs”, lembra um vendedor, que fechou a loja às 18h.  Na manhã desta quarta-feira (9), o gerente da Acrion aguardava um serralheiro retirar o que restou da porta para entrar e dimensionar o prejuízo.  De antemão, contudo, disse que “o seguro é insuficiente”.Outros dois estabelecimentos próximos, uma casa das Havaianas e a loja Le Biscuit, também sofreram saques. O CORREIO só conseguiu falar com o representante de um dos estabelecimentos, mas uma moradora contou o que viu. “O moço das Havaianas estava tirando a mercadoria, acho que ia levar para casa, mas nem ele escapou”, lamentou a professora Marisa Santos, 57 anos, que viu um grupo abordar o proprietário da loja e levar "vários chinelos".

Ela, que mora no bairro há cinco anos, afirma que a comunidade ficou assustada. “Tudo isso por causa de um anúncio irresponsável de um homem que deveria estar zelando por nosso bem, e não prejuízo”, diz, em referência ao deputado estadual Marco Prisco (PSC).

A reportagem não notou a presença de militares na Liberdade, na manhã desta quarta. Por meio de nota, a assessoria da rede Le Biscuit informou que a loja foi vítima de uma "tentativa de arrombamento". "A estrutura da loja conseguiu conter a abordagem e nada foi roubado. A segurança foi reforçada, como uma medida adicional para garantir a tranquilidade de clientes e colaboradores", informou a assessoria do estabelecimento, que funcionou normalmente hoje.

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'Para assustar' Na agência Santander, no bairro da Calçada, o que restou da estrutura de vidro da porta de entrada foi um amontoado de estilhaços. O estabelecimento, metralhado durante a madrugada, no entanto, não teve os caixas eletrônicos danificados. 

"Sinceramente, isso nem sentido faz. Como dão tiro assim e nem tentaram explodir?", indaga um comerciante. Em anonimato, ele acredita que os tiros foram disparados nos vidros da agência "para assustar". Mesmo com o estrago, tapumes improvisados foram colocados e o banco abriu em horário normal. Já a agência do Bradesco, na localidade da Barros Reis, sofreu tentativa de arrombamento.

Sem aulas Vizinho da Liberdade e próximo à Calçada, o bairro de São Caetano, também amanheceu sob os reflexos da greve parcial dos policiais militares. Lá, as aulas até foram suspensas. A Escola Municipal Batista de São Caetano, além do Colégio Estadual Professor José Barreto de Araújo Bastos amanheceram de portas fechadas. Assim como o Carlos Alberto Cerqueira, colado com o Colégio Estadual Pedro Ribeiro - que té chegou a abrir, mas, às 10h, já havia liberado os estudantes.

Aluno do 9° ano, o estudante Vinícius Rocha, 15, disse que estava indo para casa mais cedo "por causa da greve". Segurando firme a mochila, o adolescente contou que ia "adiantar os passos logo" até em casa, na Capelinha.

De acordo com a Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC), as aulas estão mantidas em todas as unidades. Entretanto, o órgão confirma que em algumas escolas, como o Colégio Estadual Carneiro Ribeiro Filho, na Soledade, foi registrado baixa frequência dos estudantes. A reportagem esteve no local, mas não encontrou estudantes. 

Já a Secretaria Municipal da Educação (Smed) informou que, mesmo com o anúncio da mobilização, mais de 50% das Escolas Municipais estão funcionando normalmente. 

Mais arrombamentos Em São Caetano, no entanto, há presença de policiais. A reportagem presenciou uma viatura da Base Comunitária, além de uma moto com dois PMs, circulando na Estrada de Campinas, avenida principal. Próximo à saída do bairro, ainda na Estrada, havia uma viatura do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto), da 9ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Pirajá). 

Mesmo local onde está localizada a Casas Freire, uma loja de móveis que sofreu arrombamento na noite de ontem. O gerente até confirmou que encontrou a estrutura danificada, mas disse que ainda não deu falta de eletrodomésticos e outros produtos. "Estamos checando", se limitou a dizer.

Quem saqueou dezenas de cosméticos na loja O Boticário, no bairro de Tancredo Neves, outra região periférica de Salvador, usou um requinte a mais. Informações dão conta de que um carro, ainda não identificado, entrou de ré para facilitar o arrombamento, na madrugada. Esta manhã, dois vigilantes da loja faziam a segurança dos produtos - alguns intactos - que foram poupados.

Eles não sabem dimensionar o prejuízo do dono, que entrou em contato com um deles às 2h. "Sei que tem seguro", comentou com a reportagem, ao citar que o proprietário ainda não esteve no local. Comerciantes e vizinhos optaram por não comentar o assunto, com a exceção de Carlos Prates, 76, ambulante na região há 40 anos.

Disse que já viu o saque àquela mesma loja em "outras vezes". Aos risos, Carlos respondeu ao próprio questionamento: "Por que sempre a O Boticário? Porque é fácil e rápido vender perfumes, todo mundo gosta".

Ao CORREIO, a Polícia Militar informou que o funcionamento das atividades policiais segue dentro da normalidade.