Após polêmica com compra de leite condensado, Bolsonaro xinga a imprensa

As notícias de gastos com alimentos tiraram o presidente do sério

  • D
  • Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

A polêmica sobre a compra de alimentos no governo  deixou o presidente Jair Bolsonaro irritado. Ele reagiu ontem às críticas que tem recebido pelo gasto de R$ 15 milhões com leite condensado por órgãos da administração federal no ano passado. Em almoço que reuniu ministros, aliados e cantores sertanejos em uma churrascaria de Brasília, o presidente atacou a imprensa com xingamentos e, sem apresentar números, disse que na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014, a despesa foi maior.

Embora a resposta de Bolsonaro tenha sido mais focada no leite condensado, os gastos do Executivo com a compra de alimentos ultrapassaram os R$ 1,8 bilhão no ano passado, o que representou um aumento de 20%, com base em dados do Painel de Compras, do Ministério da Economia, revelados pelo portal Metrópoles. O aumento não foi mencionado pelo presidente, que proferiu xingamentos para o trabalho da imprensa, a quem ele culpou pela polêmica. 

“Quando vejo a imprensa me atacar dizendo que comprei 2,5 milhões de latas de leite condensado, vai pra p* que o pariu, imprensa de m*! É pra enfiar no r* de vocês da imprensa essas latas de leite condensado”, esbravejou ao microfone, em discurso para os demais convidados. A churrascaria foi fechada para receber o grupo, mas um vídeo com as declarações do presidente foi divulgado nas redes sociais. 

“Não é pra Presidência da República essa compra de alimentos, até porque nossa fonte é outra. (É) Alimentação de 370 mil homens do Exército, (para) programas de alimentação do Ministério da Cidadania, do Ministério da Educação...”, declarou Jair Bolsonaro. 

“Essas acusações levianas não levam a lugar nenhum. E se me acusam disso, é sinal de que não tem do que me acusar”, afirmou, sendo interrompido pelos aplausos dos presentes. “Me acusam de ter comprado R$ 4 milhões em chicletes. Quem já serviu o Exército, sabe que o catanho (responsável por preparar as refeições) sempre tem um chicletinho lá dentro. E isso não é mordomia, não é privilégio não”, defendeu. 

O presidente Jair Bolsonaro prometeu levar o hoje para a sua live semanal o ministro Wagner do Rosário, da Controladoria Geral da República (CGU), para falar sobre os gastos de seu governo com alimentos. Ele ainda acrescentou que pretende mostrar que o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014, teria gastado mais do que a gestão atual com o leite condensado – aparentemente o ponto central de toda a polêmica, dada a sabida predileção de Bolsonaro pelo alimento. 

O almoço, em uma churrascaria lotada, reuniu cantores, ministros e alguns parlamentares e líderes partidários alinhados ao governo.

Apagão  O Portal da Transparência do governo federal, meio pelo qual a administração presta contas dos gastos públicos, saiu do ar na noite de terça-feira, 26, e permaneceu  sem acesso até o início da manhã de ontem. O portal se tornou inacessível após os gastos do Executivo com alimentos virarem centro do debate público. Os altos valores das compras do Executivo entraram na mira da oposição no Congresso Nacional e de representantes da sociedade. 

Apoio do vice O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou ontem que a divulgação pela imprensa dos gastos da administração federal com alimentação em 2020 é “pura fumaça” e faz parte das “pressões em cima do governo”. Mourão minimizou a repercussão do montante de mais de R$ 1,8 bilhão com gastos alimentícios do governo federal. Segundo o vice-presidente, as despesas são previstas no Orçamento.

“Se pegar o que foi gasto em anos anteriores, estará mais ou menos no mesmo patamar. Então é isso, faz parte dessa pressão que está sendo feita em cima do nosso governo”, disse. 

Ele citou ações das Forças Armadas para explicar o aumento no volume de gastos. Um dos exemplos foi a Operação Verde Brasil 2, para combater o desmatamento e as queimadas na Amazônia. Segundo ele, a força-tarefa exigiu a liberação de crédito extraordinário, bem como os esforços para o combate à covid-19. “Talvez aí esteja os 20%”, acrescentou.