Após policial ser baleado, Bope se junta à ocupação da PM em Valéria

Bairro foi palco de dois tiroteios ontem; em um deles, PM foi atingido por tiro de fuzil

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  • Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2021 às 09:52

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Wendel/CORREIO

O policiamento no bairro de Valéria foi reforçado ainda mais com a presença do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) a partir deste sábado (25), um dia depois de um policial militar ser baleado nos dedos com um tiro de fuzil. O local já está sob ocupação da Polícia Militar desde 18 de agosto. 

Ontem, um grupo de cerca de 15 homens atacou um grupo rival na localidade da Penacho Verde. A Polícia Militar foi chamada e foi até a região. Houve dois confrontos com troca de tiros. No primeiro, um PM foi atingido com tiro de ful que passou por dedos dele. Hospitalizado, ele não corre risco de morte, mas passou por 6h de cirurgia para recompor os dedos.

No segundo confronto, um suspeito foi baleado e morreu. Ele não foi identificado e não se sabe se ele foi o responsável por atirar contra o PM baleado.

"Tendo em vista que homens armados adentraram uma área de mata, fomos acionados e fizemos a primeira incursão. Teve o primeiro confronto, onde o nosso policial foi baleado. Eram entre 15 a 20 bandidos armados.  Foi um tiro de fuzil que atingiu os dedos do polcial. Mas ele passa bem. Então, intensificamos o patrulhamento na área e encontramos um outro elemento e houve um novo confronto e ele veio a óbito", conta o major Cledson Souza, comandante do Bope. 

Um fuzil foi apreendido no local. "É um fuzil de guerra. Ou seja, uma arma com alto poder de letalidade. Foi justamente essa arma que foi usada para balear o policial", acrescenta o major. Ele explica que facções estão em conflito na região. "Existe confronto entre lideranças. Uma determinada facção quer tomar o espaço da outra".

O major explica porque a presença do Bope é necessária e que os bandidos podem estar escondidos na região. "É um área de difícil acesso, de mata fechada. Não é qualquer unidade que consegue adentrar. Somos treinados para isso. Estamos fazendo uma varredura e pedimos que eles não reajam. Mas se houver confronto, vamos usar a força", garante. 

Essa não é a primeira vez que a PM ocupa Valéria. Para o major Cledson, isso se explica porque o local é um ponto estratégico. "Como já disse, o local é um terreno de difícil acesso. Além da mata, tem pedreiras, curvas de nível e é difícil para quem não conhece. Sem falar nas rotas de fuga. Tem acesso para a BR, Cajazeiras, Subúrbio...", elenca.

A ocupação da PM no bairro segue sem prazo para acabar. A ideia com o reforço do policiamento é manter funcionando o transporte público, postos de saúde e também o comércio do bairro.

Ontem, depois do tiroteio que deixou um PM baleado, os rodoviários chegaram a parar a circulação de ônibus no bairro, mas à noite a situação foi normalizada. Em reunião com a PM, o Sindicato dos Rodoviários pediu a presença de uma base móvel de segurança para retornarem.

Moradores abandonam casas na Penacho Verde A perfuração ao lado da placa de logradouro é o próprio alerta: “Cuidado, tiros!”. As balas que atravessam o silêncio dos moradores, quando não se alojam em corpos, encontram portas, janelas e carros. Esse é o cotidiano de quem vive, ou melhor, sobrevive na Rua Penacho Verde. Basta um olhar rápido – isso se você tiver coragem para entrar e sorte para sair – para notar as inúmeras casas atingidas por tiros de diversos calibres, situação que reflete a violência a que estão submetidos os moradores do bairro de Valéria. Por conta disso, pelo menos dez imóveis foram abandonados na Penacho Verde. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) O bairro de Valéria é disputado por duas das maiores facções criminosas do estado: Katiara e o Bonde do Maluco (BDM). Devido à guerra pelo domínio de espaço, acirrada há cerca de três meses, muitas pessoas deixaram suas casas, comerciantes largaram suas lojas, seus pontos comerciais. Foram histórias e sonhos deixados às pressas para que inocentes não engrossassem a estatística da violência na região.De 1º de novembro do ano passado até 19 de fevereiro desse ano, 21 pessoas foram assassinadas no bairro, segundo dados do boletim de ocorrências do site da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP). 

“Ficar lá era um risco para mim e minha família. E as balas, que perdidas só no nome, sempre encontram quem não tem nada a ver. A gota d’água foram as granadas lançadas na porta de minha casa durante uma briga entre eles. Foi aí que tive a certeza de que eu estava numa guerra, que já tinha perdido a minha paz. Não ia pagar para ter outras perdas. Minha família vale muito mais”, disse um ex-morador e também ex-dono de uma pizzaria em Valéria, identificado aqui na matéria com o nome fictício de João.