Após séculos, Igreja do Bonfim abre visitação à torre nesta sexta

Confira vídeo do local e lista com 10 motivos para ir ao Museu dos Ex-Votos

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  • Carol Aquino

Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 01:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Arisson Marinho/CORREIO

Vistas da torre direita da Basílica do Bonfim, que está aberta a visita; ingresso custa R$ 5 (Fotos: Arisson Marinho/CORREIO) Do alto da Igreja do Bonfim é possível ter uma vista privilegiada de Salvador. Da torre do templo dá para ver a praia da Penha, na Península Itapagipana, e grande parte da Baía de Todos os Santos chegando à transição entre as cidades Baixa e Alta, no Comércio. De outro ângulo, dá para ver o Subúrbio Ferroviário e, do outro, a torre com os sinos da basílica. É como se o Senhor do Bonfim abençoasse e vigiasse toda a cidade. 

A torre direita da Basílica Santuário Senhor do Bonfim é mais um dos tesouros escondidos na Colina Sagrada e estará disponível para visitação, pela primeira vez desde que o local foi fundado, há 264 anos, a partir desta sexta-feira (16). O espaço será mais uma das atrações do Museu Rubens Freire de Carvalho de Tourinho, conhecido como Museu dos Ex-Votos, que foi reconfigurado para melhorar a comunicação do seu acervo. Cerca de 300 peças foram retiradas para permitir uma melhor apreciação das suas obras. 

A visita às torres de santuários são comuns na Europa, como por exemplo na Catedral de Notre Dame, em Paris. Esta foi uma das motivações para abrir o espaço ao público, segundo conta o juiz da Irmandade da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim, Francisco José Pitanga. A entidade é a responsável por manter e administrar a Igreja do Bonfim. 

“A irmandade juntamente conosco vem se empenhando em dinamizar e oferecer todo o potencial que tem a Igreja do Bonfim. Em valorizar e divulgar e fazer com que as pessoas venham ao Bonfim e encontrem novidades a partir daquilo que a própria Igreja oferece”, destacou o padre Edson Menezes, reitor da basílica. 

Promessas Para quem não sabe o que são ex-votos, a museóloga responsável pela reconfiguração do espaço, Genivalda Cândido, dá uma explicação bastante simples.“O ex-voto é o pagamento de uma promessa, um voto feito, um voto cumprido”, ensina.Na Igreja do Bonfim, há uma sala somente para eles, em que pessoas enviam fotos, convites de formatura e partes do corpo em cera. O museu fica logo ao lado.

“Os fiéis, como expressão de reconhecimento, levavam um objeto que representasse a graça alcançada. Se eu conseguisse uma casa, levava uma maquete. Quando um milagre é uma cura, é uma parte do corpo que é levada”, aponta o reitor. 

A própria Igreja do Bonfim é um ex-voto. Sua construção, finalizada em 1754, é resultado de uma graça alcançada pelo capitão de mar e guerra da Marinha portuguesa Theodózio Rodrigues de Faria, que prometeu durante uma tempestade que se sobrevivesse traria para o Brasil as imagens de Nossa Senhora da Guia e do Senhor do Bonfim. 

O que hoje é o museu, antes era uma sala de milagres, e guarda algumas das ofertas mais especiais. O espaço, que conta com dois cômodos, mais os três pavimentos da torre, traz as mais diversas e marcantes representações do sentimento de gratidão dos católicos. “Aqui é possível ver a evolução dessas manifestações, desde o seu começo, em madeira, até as de metal e as telas dos Riscadores de Milagres”, explica a museóloga Genivalda Cândida. 

Para o CORREIO, ela mostrou parte dos atrativos e da vista. Assista.

Logo na entrada do museu, e quase passando despercebido, está o primeiro ex-voto. Pendurado na parede vê-se uma pequena estátua de madeira, que é a do Escravo Amaro. O dono do negro escravizado o doou à igreja em agradecimento de uma promessa, além de uma miniatura sua. 

Outro destaque são as telas dos tais Riscadores de Milagres, desenhos encomendados para pagar promessas. “Por causa da própria história de Theodózio (Rodrigues, criador da Igreja do Bonfim), a maioria delas é de barcos”, aponta Genivalda, acrescentando que a maioria vem com um pequeno texto de agradecimento.

Os riscadores eram os pintores das telas, que não são encontrados em Salvador desde a década de 1980. A tradição do oferecimento de quadros foi sendo substituída por outras ofertas, como a de fotos, convites e tantos outros exemplares encontrados na Sala dos Ex-Votos do templo. 

Exibido em um dos patamares da torre da igreja tem um ex-voto curioso. Em formato de notícia de jornal, ele é a oferta de uma mãe agradecida. Datado de 2017, tem o nome de "Ressurreição do filho da viúva de Naim". O texto emoldurado conta a história de um rapaz que estava em um acidente de trem na Estrada do Timbó, no trecho entre as cidades de Esplanada e Alagoinhas. 

Telas Porém, nem só de ex-votos vive o museu. Apesar do nome, outras relíquias pertencentes à basílica estão expostas ali. Na sala 2, antiga Sala das Alfaias, ficam telas da primeira Escola Baiana de Pintura (dos séculos XVII e XIX).

Entre os quadros em exibição estão os nomes de três famosos artistas na Bahia: José Joaquim da Rocha, fundador da escola; Franco Velasco, autor das cenas nos tetos da Igreja do Bonfim e de Nossa Senhora Sant’Ana, e Teófilo de Jesus. 

Este último, que assina como pintor e inventor, é o responsável por uma peça um tanto peculiar: três quadros de canto. As telas foram projetadas para serem colocadas na esquina entre duas paredes. “Este é o único museu de Salvador que tem quadros de canto”, garante o museólogo e especialista em arte sacra Cássio Bêribá, responsável pela Sala das Alfaias, que concentra a maior parte das obras sacras.

Na Sala também estão expostas duas peças que dão nome ao espaço, as alfaias, que são o paramento usado pelos padres nas missas. Objetos que já foram usados nos rituais religiosos da Igreja do Bonfim também estão expostos, como um missal, cálices e sinetas. O espaço também ganhou nova arrumação e disposição das peças, facilitando a apreciação das mesmas pelos visitantes.

O Museu dos Ex-Votos era uma antiga sala de milagres e também abrigava as ofertas deixadas pelos fiéis como pagamento de promessas. Em 1975, o espaço foi transformado em lugar de preservação, onde turistas e fiéis podem visitar peças mais significativas do acervo da Igreja.

Seu funcionamento é de terça-feira a domingo, das 8h às 17h. A entrada custa R$ 5 e será revertida para o Projeto Bom Samaritano, que concentra os trabalhos sociais da Igreja do Bonfim. 

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Confira 10 motivos para visitar o Museu dos Ex-Votos: A representatividade dos ex-votos para a basílica - A própria Igreja do Bonfim é um ex-voto. Sua construção, finalizada em 1754, é resultado de uma graça alcançada pelo capitão de mar e guerra da marinha portuguesa Theodózio Rodrigues de Faria, que prometeu durante uma tempestade que se sobrevivesse traria ao Brasil as imagens de Nossa Senhora da Guia e do Senhor do Bonfim.  A torre direita da Igreja do Bonfim - Nunca antes aberta ao público, o interior da torre da basílica de 1754, oferece uma vista privilegiada da cidade. Das janelas, dá para ver a cidade de diversos pontos.  Vista da Sala do Coro - Com a ampliação do museu, é possível chegar até o limite da Sala do Coro da Igreja. De lá, além de ver o espaço reservado aos cânticos solenes, é possível enxergar a Igreja do Bonfim do alto, dando uma nova perspectiva da nave ao visitante. Foto: Arisson Marinho/CORREIO Na Sala, fica exposto o órgão de tubos francês da Igreja. Datado de 1856, ele ficou parado por 40 anos, até ser restaurado no ano passado. Telas dos “Riscadores de Milagres” - Tradicionalmente buscados pelos católicos brasileiros, são desenhos encomendados para pagar promessas. Na Bahia, os autores destas obras de arte não existem desde a década de 80 e o costume está quase em extinção Brasil afora. A tradição do oferecimento de quadros foi sendo substituída por outras ofertas, como a de fotos, peças em cera e outros exemplares. Milagritos - São ex-votos em miniatura. Feitos em diversos tipos de metal, como ouro, prata e bronze, os expostos do Museu Rubens Freire de Carvalho de Tourinho são representações de órgãos humanos. Confeccionados artesanalmente, os milagritos são ricos em detalhes. Primeiros ex-votos - Os primeiros ex-votos eram feitos de madeira. Em exibição no Museu estão peças recentes deste estilo, como um braço de 2014, assim como o primeiro ex-voto recebido pela Igreja, uma Escultura do Escravo Amaro, que foi doada junto com o homem como pagamento de uma promessa. Pedaço de jornal - Um dos ex-votos mais curiosos está em formato de notícia de jornal, uma oferta de uma mãe agradecida. Datado do ano de 2017, tem o nome de “Ressurreição do filho da viúva de Naim o texto emoldurado conta a história de um rapaz que estava em um acidente de trem na Estrada do Timbó, no trecho entre as cidades de Esplanada e Alagoinhas.  Alfaias - Paramentos de tecido usados nas celebrações litúrgicas. No Museu dos Ex-Votos estão expostas vestes usadas pelos padres nas missas. Únicos conjuntos completos no Acervo da Basílica, o par de alfaias é composto de cinco peças cada e datam da década de 20.  Quadros de canto - Téofilo de Jesus, que assina como pintor e inventor, é o responsável por peças peculiares do acervo: três quadros de canto. As telas foram projetadas para serem colocadas na esquina entre duas paredes. Em Salvador, o Museu Rubens Freire de Carvalho de Tourinho, é o único a ter obras deste tipo. História da Arte - Na sala 2, antiga Sala das Alfaias, estão expostas telas da primeira Escola Baiana de Pintura (do séc XVII e XIX). Entre os quadros em exibição estão os nomes de três famosos artistas na Bahia, José Joaquim da Rocha, fundador da Escola, Franco Velasco, autor das cenas nos tetos da Igreja do Bonfim e de Nossa Senhora Sant’Ana, e Teófilo de Jesus.