'Aposto que nos últimos momentos ele pensava nas filhas', diz amigo de empresário

Suspeito de matar William, influencer Iuri Sheik foi preso hoje

  • D
  • Da Redação

Publicado em 26 de junho de 2019 às 22:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução/Instagram

O corretor de imóveis Antônio Jorge Reis de Souza, 33 anos, estava no São João de Amargosa quando recebeu pelo whatsapp a notícia que o seu melhor amigo, William Oliveira, 28 anos, tinha sido atingido por dois tiros no peito, na cidade vizinha, Santo Antônio de Jesus. Sem acreditar no que estava vendo, ele recebeu a foto do amigo que ele viu crescer estendido no chão, baleado. A festa perdeu para ele todo o sentido a partir dali. E nesta quarta-feira (26), ao assistir televisão, mais tristeza: Antônio Jorge soube pela TV que o amigo tinha morrido. "Ainda estou sem acreditar. Já chorei muito hoje. Chorei da cabeça doer", diz, ainda abalado.

Antônio Jorge conta que William sempre foi querido por todos e nunca teve nenhum inimigo. "Era sempre alegre e, mesmo em momentos difíceis, nunca deixava de sorrir e levar a vida com felicidade. Era super prestativo, amigo, extrovertido. Além de ser um pai babão e super presente pra as filhas dele", define Antônio Jorge, se referindo às três filhas de Will - a mais velha, de 10 anos, a do meio, 8 anos, e, a caçula, que ele sequer viu crescer, pois só tem 40 dias de vida. "Aposto que nos últimos momentos, ele só pensava nelas três. Como amigo, farei tudo que puder pelas filhas dele", acrescentou.Depois de saber a notícia, Antônio Jorge lembrou de tudo que viveu com o amigo. "Ele vai fazer muita falta. Não vou esquecer nunca das nossas brincadeiras, dos nossos risos constantes. Ele era uma pessoa correria, que estava sempre buscando o crescimento profissional, sem tomar nada de ninguém e sem passar por cima também", afirma.Ele lembra ainda que desde cedo William batalhou para conquistar as coisas que queria. "Sempre foi trabalhador, desde pequeno. Trabalhou na lanchonete da vó, que era como uma mãe pra ele. Teve uma loja de celular, depois trabalhou em uma indústria de asfalto, depois juntou uma grana e começou no ramo de compra e venda de veículos, conseguindo em 2018 abrir sua própria loja de veículos, a Will Car. Depois ingressou no ramo musical, passando a ser dono da banda Black Style, da Baile do Guna e da Preto de Luxo".

Torcedores do Bahia, os amigos sempre costumavam se reunir nas barraquinhas do Imbuí para assistir ao tricolor em campo. A partir de agora, Antônio Jorge não terá mais a companhia do fiel escudeiro. "Amanhã o enterro será lotado. A imprensa entenderá o quanto ele era querido", garante.

Outra amiga do empresário, que preferiu não se identificar, contou que Will era uma pessoa de muitos amigos, que nunca teve problemas com ninguém. "Ele era uma pessoa muita dada, era impossível vê-lo triste, a gente dizia que ele era surreal", descreve. 

Ela diz ainda que William sempre foi muito festeiro, mas não gostava de ostentação. Questionado sobre o que pode ter levado Iuri a matar o amigo, ela diz que a vítima nunca aceitou a forma que Iuri era. "Ele não aceitava isso dele julgar as mulheres, expor a família, a questão do caráter mesmo. william não gostava do caráter dele", explica.

Segundo a amiga, até dezembro William era proprietário da Will Car, uma loja de venda de veículos usados. "Ele abriu mão da loja para investir na banda. Era o sonho dele fazer a banda dar certo", conta. Ainda segundo ela, nos últimos meses ele abriu uma loja de celulares no Cabula, bairro que morava.

Ex-sócio de Will na banda Black Style, o produtor Roque Bispo também não escondia a tristeza. "A gente tinha esperança, mas ele não suportou. Está todo mundo desesperado. Will era uma pessoa muito querida, que todo mundo gostava".

Prisão Iuri Sheik se apresentou à polícia na tarde desta quarta-feira (26), três dias após o crime. Ele chegou à sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba, em Salvador, horas após a confirmação da morte de Will, de quem era desafeto.

Sheik era considerado foragido desde domingo, quando atirou em Will durante uma tentativa de cumprimento. Havia um mandado de prisão preventiva em aberto contra, que havia sido expedido na segunda (24). Na chegada ao DHPP, ele não falou com a imprensa, mas disse que a ocorrência destruiu sua vida. De origem humilde, Iuri tinha duas lojas de roupas, sendo uma no Cabula e outra na Estrada das Barreiras, onde o CORREIO este nesta quarta. No Instagram, é seguido por mais de 280 mil internautas. (Foto: Alberto Maraux/Secretaria de Segurança Pública) Ele se apresentou no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) à delegada Clelba Regina Teles, na Pituba,  com advogados. Questionado  sobre a arma utilizada no crime, Yuri disse ter perdido, depois da fuga.

Após se apresentar no DHPP, o acusado teve o mandado de prisão cumprido no Departamento de Polícia do Interior, na Piedade. De lá seguirá custodiado para o Departamento de Polícia Técnica para a realização de exames de corpo de delito e, em seguida, para o sistema prisional,

O caso é investigado pelo delegado titular da 4ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Santo Antônio de Jesus), Edílson Magalhães, que ouvirá o acusado ainda essa semana.

Relembre o caso William Oliveira era um ex-sócio da banda de pagode Black Style. De acordo com o produtor Roque Bispo, a vítima foi baleada no peito duas vezes. Will chegou a ser operado e estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Santo Antônio de Jesus, para onde foi socorrido.

A infomação da morte foi confirmada pelo titular da 4ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Santo Antônio de Jesus), Edilson Magalhães.

“Nesse momento estamos ouvindo aqui os parentes da vítima na delegacia”, disse o delegado ao CORREIO nesta quarta. Iuri Sheik teve o mandando de prisão preventiva decretada no mesmo dia do crime (ver mais abaixo). Iuri fez post no Instagram falando que contaria seu lado da história (Foto: Reprodução) Rixa e recusa ao cumprimentar William foi baleado por se recusar a cumprimentar Iuri Sheik. A mais nova versão para o crime foi apresentada nesta quarta, pela polícia, momentos antes da morte do empresário.

“Inicialmente, a versão que chegou para nós foi que havia acontecido uma briga de trânsito. No entanto, foi ouvindo as testemunhas que chegamos à nova versão do fato. Todos ouvidos até agora contam que Iuri estendeu a mão e William disse: ‘não vou dar a mão porque não gosto de você’. Então, Iuri foi no carro, pegou a arma e atirou”, contou o delegado Edilson Magalhães.

A recusa de Willian seria por causa de uma rixa antiga com o digital influencer. “Parece que foi coisa de fofoca, picuinha no meio artístico. O porquê da rixa não é o mais importante. O importante é o fato do cara ter atirado porque o outro não o cumprimentou. Isso é o fato imediato. Temos testemunhas que viram ele atirando”, complementou Magalhães.

Apesar de Iuri Sheik ter dito nas redes sociais que se apresentaria para dar sua versão, o delegado disse que até agora não recebeu nenhum contato do acusado. “Nem ele e nem o advogado dele procurou a gente. Sequer recebi uma ligação”, disse. 

Magalhães informou ainda que a polícia já tem imagens do digital influencer no dia do crime. “Não são imagens do disparo, mas o momento em que ele foge num carro. As imagens foram de uma câmera de um estabelecimento comercial, que foram cedidas pelo proprietário. Temos informações que na fuga o acusado pegou a BR-324”, detalhou. 

Em relação à investigação, o delegado disse que "o inquérito tem 30 dias (para ser concluído) e pode ser prorrogado por mais 30 a depender da situação". "Mas a gente acredita que conclua antes”, finalizou. 

Lojas Iuri Sheik tem duas lojas de roupas masculinas na região do Cabula, denominadas Iuri Modas. O CORREIO esteve na manhã desta quarta-feira (26) nas duas unidades. A primeira, situada dentro no Shopping Plaza Cabula, está fechada há três meses. Na vitrine, a anúncio “passo ponto”. “Antes ele vinha aqui direto, mas era de poucas palavras. Quando queria, dava um ‘oi’”, disse o proprietário de uma loja vizinha, que preferiu não revelar o nome.  Loja de Iuri estava fechada (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Logo depois, o CORREIO esteve na segunda e mais antiga loja, na Estrada das Barreiras, logo após o GBarbosa. Segundo comerciantes da região, a loja está fechada desde sábado. “Ontem (terça) era dia de abrir. Sempre abrem às 9h, mas, depois desta confusão, ninguém aparece aqui desde sábado”, relatou o dono de um mercadinho das proximidades. 

Do outro lado da pista, a reportagem encontrou um dos funcionários, que disse que a loja não tem previsão de quando irá abrir. “Vai ficar por tempo indeterminado. Só isso que sei. Estou em contrato de experiência”, declarou.

Perguntado sobre o que achava sobre o envolvimento do dono das lojas no crime, ele preferiu não comentar: “Não posso falar nada, até porque sou novato”.

Hora do crime Uma testemunha contou ao CORREIO que foi tudo muito rápido: "Ele chegou no local dando um cavalo de pau, parou o carro, olhou para o cara e atirou. O povo ficou assustado e saiu correndo".

Procurada, a Polícia Militar informou que duas equipes do 14º Batalhão interromperam uma festa de paredão que acontecia na noite de domingo (23), no Centro de Santo Antônio de Jesus, solicitando aos proprietários dos veículos que o som fosse desligado. Cerca de 10 minutos depois, os PMs foram acionados para um local próximo da ocorrência, com a informação de disparos de arma de fogo após um desentendimento entre dois homens.

"As guarnições já encontraram a vítima atingida por dois disparos sendo socorrida pelo Samu e, em seguida, encaminhada para o Hospital Geral de Santo Antônio de Jesus. Segundo testemunhas, o autor do crime fugiu imediatamente do local no veículo particular. Os PMs realizaram diligências, mas o suspeito não foi encontrado".

'Nunca se deram bem' O produtor Roque Bispo disse que a vítima e o suspeito nunca se relacionaram bem. "Eu nunca entendi o porquê, mas não nunca se deram bem. Acredito que Sheik fez isso porque estava com muita cachaça na cabeça, não sei, não falei com ele depois disso", afirmou Roque, que diz ser amigo do suspeito.

Segundo ele, os dois moram em Salvador e teriam se encontrado, por acaso, em Santo Antônio de Jesus. Quanto à sociedade com a vítima, ele se limitou a dizer que Will já "não pertence mais à marca Black Style".

Will morava no bairro do Cabula, em Salvador, e era proprietário de uma loja na entrada da Engomadeira.