Arquiteta é condenada a 67 anos por morte dos pais e da empregada

Ela nega o crime e vai pedir a nulidade do júri; pai era ex-ministro do TSE

Publicado em 3 de outubro de 2019 às 16:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

A arquiteta Adriana Villela, 55 anos, foi condenada a 67 anos e seis meses de prisão pela morte dos pais e da empregada da família, crime que aconteceu em Brasília, no ano de 2009. O julgamento, que chegou ao fim nesta quinta-feira (3), foi o mais longo da história do Distrito Federal - foram 103 horas.

Adriana é apontada como responsável por mandar matar os pais - o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela e a advogada Maria Carvalho Villela, além da empregada da família, Francisca Nascimento da Silva. A arquiteta nega envolvimento no crime.

Defensor de Adriana, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, informou que vai recorrer da sentença. Além disso, vai pedir a nulidade do júri.

“A defesa técnica da Adriana Villela tem a mais absoluta certeza e convicção da sua inocência. Produziu prova negativa da sua participação no terrível assassinato dos seus pais e da colaboradora Francisca. O Tribunal do Júri, no entanto, a condenou sem um fiapo de prova. É um erro judiciário colossal e desumano. Iremos ao Tribunal para reverter esta injustiça”, diz nota divulgada pela defesa.

Os pais da arquiteta foram mortos em 29 de agosto de 2009, na 113 Sul, quadra de Brasília onde moravam e como o crime ficou conhecido. Todos foram mortos a facadas. 

Foram dez dias de julgamento, ultrapassando as 100 horas. Ontem, a ré foi ouvida - foram quase sete horas falando no Tribunal do Júri.

Outras três pessoas já tinham sido condenadas pela execução do crime. As penas ficaram em 62 anos para Paulo Cardoso Santana; 60 anos para Leonardo Campos Alves; e 55 anos para Francisco Mairlon.

De acordo com o Metrópoles, Adriana não demonstrou nenhuma reação ao ouvir a sentença. Depois, abraçou a filha, Carolina, e o advogado, deixando o local sem falar com a imprensa. Como pode recorrer em liberdade, ela não ficou presa. 

A acusação afirma que Adriana contratou Leonardo, ex-porteiro do prédio dos pais, para cometer o crime, pagando R$ 60 mil. Os dois comparsas eram o sobrinho Paulo e o entregador de gás Francisco. O crime teria sido motivado por brigas ligadas a dinheiro.

Adriana nega Ontem, Adriana falou e foi interrogada no Tribunal do Júri. "Sou inocente e agradeço pro estar trazendo isso à luz agora, aqui no tribunal".

Ela afirmou que apesar dos conflitos, tinha uma boa relação com os pais. “Nós tínhamos um relacionamento amoroso, mas também havia conflitos. Minha mãe não gostava do jeito que eu me vestia. Nem de que discordassem do que ela dizia. Ela era frágil e insegura, e se tornou forte pelas perdas que teve”, disse.

Ela manteve contato visual com os jurados por todo o tempo e chegou a chorar em momentos de maior tensão. O plenário estava lotado. Antes de subir na cadeira destinada aos réus, Adriana abraçou parentes que estavam no local. 

A arquiteta chorou ao falar que os pais não apoiaram sua escolha profissional. “Vocês já ganham muito mais que eu e meu irmão precisamos. Tenho alma de artista e quero ser artista”, lembra que disse aos pais.

Adriana relembrou que sempre que comia com a mãe era escrutinada por ela, que a olhava da cabeça aos pés para avaliar sua roupa. “Isso era motivo de discórdia. Eu só queria ser amada e respeitada pelo jeito que eu sou.”

Carta Adriana citou uma carta, que foi obtida por uma delegada, escrita pela mãe da arquiteta. “Toda a acusação que a doutora Mabel fazia naquela época era por causa de uma carta que ela achou da minha mãe para mim, em que a minha mãe era dura comigo. Ela foi a base usada pela delegada Mabel para construir toda uma acusação falsa", afirmou.

Segundo Adriana, no ano que a carta foi escrita, 2006, ela estava passando por "um momento ruim". "Era o ano em que eu revisava a tese do mestrado, minha mãe e meu irmão me ajudavam. Eu estava com suspeita de câncer na tireoide e, em algum momento, devo ter me desentendido com minha mãe", disse.

“Sem dúvida, eu devo ter desrespeitado eles algumas vezes na minha vida. Mas, especialmente quando esse crime aconteceu, a minha família vivia um momento de muita felicidade. Eu havia acabado de terminar o meu mestrado e meu pai dizia que finalmente eu estava no meu lugar", garantiu.

Sobre a questão financeira, ela afirmou que os pais sempre a apoiaram e mantinham uma poupança em seu nome. "Eles me ajudavam quando entravam outros recursos, mas nunca me inteirei disso. Porque, quanto eles ganhavam, não era assunto dos outros, somente deles. Foi muito vexaminoso para mim ter que responder quanto eu ganhava de mesada".

Durante sua fala, Adriana não respondeu ao Ministério Público ou os assistentes de acusação, falando apenas com juiz, defesa e jurados.