Arte no metrô: projeto com grafite junta cores e capoeira nas estações de Salvador

Paredes cinzentas dão lugar e voz aos grafiteiros

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  • Luana Lisboa

Publicado em 7 de setembro de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

Quem mora em Salvador e passa pelas avenidas Paralela e Bonocô já está acostumado a ter o metrô como um companheiro de viagem, seja utilizando o modal ou o observando pela janela do carro ou ônibus. Desde junho, em algumas estações, podemos notar mais do que paredes cinzentas. Agora, é possível ver um local onde grafite, capoeira e cores se misturam para dar origem a uma arte de rua tipicamente baiana.

Dois painéis de grafite já estão prontos nas alturas da Estação Flamboyant e da Estação Brotas, projetos dos artistas Marcos Costa, ou “Cabuloso” (@spraycabuloso) e Hilton Oliveira, “Baga”, (@tracosderua), respectivamente, em parceria com a CCR Metrô Bahia. Além dessas, mais três artes estão encomendadas para esse semestre e mais duas para 2022. 

Nascido no Recôncavo Baiano, na cidade de São Félix, Marcos conta que foi criado em Salvador, em diferentes bairros periféricos da cidade. Conheceu a pichação na década de 1990, com 11 anos, e aos 15, começou a transitar entre a Pichação e o Grafite, quando foi morar no bairro do Cabula. Daí o apelido “Cabuloso”. Formado na Escola de Belas Artes, na Ufba, para ele, escolher homenagear a capoeira do Mestre Cobrinha Verde em uma das áreas mais movimentadas da cidade não foi difícil. “Ele nasceu em Santo Amaro e eu em São Félix. Soube que era um dos poucos capoeiristas que praticavam o Jogo de Santa Maria - onde se joga com uma navalha entre os dedos do pé - e ele faleceu no ano que eu nasci, 1983. Um fato que também chamou minha atenção também foi que ele tinha estatura baixa. Daí, baseado na sua história e grande relevância na história da Capoeira, propus retratá-lo grandiosamente em seis metros de altura, dos 12 totais”.Para o trabalho, ele precisou dispor de quatro dias e um curso da Norma Reguladora 35, devido à altura do projeto. Durante o período, trabalhava em uma plataforma elevatória, disponibilizada pela empresa. A arte, também assinada por Geferson Trigo e Júlio Alves, traz ainda grafismos étnicos e elementos como búzios, pássaros e pombas da paz.

Nara Gentil/CORREIO

Já para Hilton “Baga” foram necessários cinco dias para o término da obra na Estação Brotas. O desenho traz uma cena da manifestação cultural protagonizada por mulheres. “A ideia era que fosse uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, já que a realização foi em março. Fiz uma pesquisa, reajustei algumas coisas e enviei o projeto”. 

Baga se considera um ativista social. Além dos trabalhos de valorização ao grafite e à capoeira, ele tem um coletivo que trabalha com crianças do bairro de São Caetano, realizando mutirões da arte, shows de rap, com a dança e a poesia falada, o “São Caetano Resistência”.

Propósito

Luana Xavier, analista de sustentabilidade da CCR, conta que dar espaço a ativistas e artistas como Baga é um dos propósitos do projeto. “A gente tem uma missão para além de transportar pessoas. Promover a cultura local e a geração de renda, porque a gente oportuniza também através da contratação da mão de obra local”. 

Para isso, oficinas de capacitação estão sendo promovidas nas comunidades do entorno. O objetivo é que parte dos contemplados possa participar dos futuros projetos da empresa. 

Ambos foram projetos da Maré Cheia Produções e da Colecult. A iniciativa teve apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal em parceria com a CCR Metrô Bahia.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo