Ba-Vi e o triunfo da farsa

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  • Da Redação

Publicado em 1 de março de 2018 às 07:15

- Atualizado há um ano

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Por dever de ofício, tenho colocado meu ouvido pra jogo e o que ouço dá, no final das contas, para comparar o órgão auricular com um penico velho. É tanta cacaca que o sujeito perde o tesão até de debater. Uns defendem suas cores cegamente, outros o indefensável (agressões, provocações e desrespeito ao torcedor) e um ou outro, os neutrões, naturalizam tudo, afinal, para estes, o “futebol sempre foi assim”. Então me faça um favor. Pare o ônibus que eu quero descer.

“O julgamento foi brando e não alcançou a expectativa da Procuradoria, nem da sociedade civil que esperava uma punição exemplar para um clássico que foi vergonha nacional e internacional”. O desabafo é do procurador Ruy João logo após o julgamento, realizado no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-BA), dos envolvidos no tumulto que culminou com a interrupção do último clássico Ba-Vi, disputado no Barradão.

Repare. Os caras planejam, publicitam e realizam o midiático Ba-Vi da Paz. O primeiro com duas torcidas desde há muito tempo. E justamente os protagonistas, as estrelas de papel, os ídolos de ocasião, simplesmente chutam o balde, agridem-se mutuamente, incentivam com sua brutal irracionalidade a violência nas arquibancadas, nos becos e guetos da cidade e isso ainda gera debates e discussões? Senhoras e senhores é o fim do mundo. Não haveria de ter mimimi. Era só aplicar o rigor máximo da lei e pronto. Mas...

Nós que adoramos copiar a papagaiada dos gringos em nome de uma civilidade duvidosa, tínhamos, neste caso, um prato cheio para nos jubilar, bastava uma punição histórica e, acima de tudo, merecedora. Nenhum dos envolvidos, rubro-negro ou tricolor, é merecedor de indulto. E o que menos importa são os três pontos que caíram no colo do Bahia ou a multa irrisória de R$ 100 mil aplicada ao Vitória. Porém, aqui cabe a pergunta: o Vitória instituição suspende jogo e causa prejuízos a terceiros, conforme diz a sentença, mas nenhum funcionário, diretor ou membro da comissão técnica é punido por isso? Como assim? O distintivo e a camisa têm vontade própria? Agem sozinhos?

Ora, qualquer criança alfabetizada e habituada a dissecar vídeos ou games faz a mesma óbvia leitura do TJD: o Vitória forçou a expulsão de Bruno para acabar com o jogo. Mas a ideia partiu de onde? Como se não bastasse, dois ou três profissionais gabaritados em leitura labial foram taxativos: Mancini mandou recado para que Bruno levasse o segundo amarelo. Mas o treinador saiu ileso do tribunal. Aliás, na sequência do lance, só pra confirmar o que todos sabemos, pode-se observar Neilton fazendo sinais com os braços de que o jogo, ufa, chegara ao fim. Ou será que vamos chegar ao cúmulo de duvidar da imagem?

Vinícius merecia muito mais que somente dois jogos de suspensão, já que teve comportamento de menino amarelo nas redes sociais, exatamente às vésperas da partida, tornando-se, obviamente, o pivô do caos. Outra. Quer dizer que perseguir o adversário, agarrá-lo pelo cangote, dizer-lhe poucas e boas e impedir que se defenda da agressão estupida de Kanu, como fez o destemperado goleiro Fernando Miguel, não se constitui em ato hostil? Então o que seria ato hostil? Um beijo na testa?

Quer dizer que desferir socos no adversário imobilizado, fazer o sujeito sangrar e depois postar fotos se vangloriando do feito como se fosse lutador de MMA, vale pena máxima de meros dez jogos??? Pois quero lembrar que apenas um soco, igualmente covarde, matou um jovem estudante no bairro da Graça no último Carnaval. Por isso, desculpe-me TJD-BA, mas como cidadão, estou convicto de que a pena aplicada a Kanu é só mais uma maneira de banalizar a vida, enfraquecer o esporte e jogar no lixo valores morais e éticos que deveriam nortear a vida de todo cidadão, principalmente de esportistas que embalam os sonhos de nossas crianças.

As demais penas foram igualmente afáveis. Apenas oito jogos para Rhayner, Denilson, Yago, Edson Voadora e Rodrigo Becão. Mas o pior está por vir. É que ainda cabe o famigerado, escandaloso e providencial efeito suspensivo. Resumindo: não vai dar nada pra ninguém. Só para o coitado do torcedor que pagou ingresso de um jogo que não acabou. Uma vergonha. Mas assim caminha a humanidade.Oscar Paris é jornalista