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Alexandre Lyrio
Publicado em 14 de outubro de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
"Agradeço a Deus e aos orixás por estar aqui". Não haveria declaração para marcar de forma mais simbólica a presença de um dos mais importantes sacerdotes do candomblé na cerimônia de canonização de Irmã Dulce. O babalorixá Silvanilton da Encarnação da Mata, conhecido como Babá Pecê, fez questão de estar no Vaticano para acompanhar um dos momentos mais importantes do catolicismo baiano.>
Pai de Santo do Oxumarê, tradicional terreiro do bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador, Babá Pecê é admirador de Dulce há muitos anos. Em Roma, neste domingo (13), ele representou o carinho que as religiões de matriz africana têm pela freira católica. "Não tem como explicar a emoção de estar aqui. Quero agradecer a Deus, aos orixás e a todos os credos religiosos. Ela respeitava todas as religiões", disse o babalorixá.>
As fronteiras religiosas nunca foram motivo para separar Dulce dos outros credos. Mas, no caso de Pecê, a ligação com Irmã Dulce é ainda mais próxima. A intervenção direta do Anjo Bom da Bahia salvou a vida da mãe de Babá, quando ainda não era babalorixá. Em março de 1990, a Iyalorixá Mãe Nilzete de Iemanjá, mãe de Pecê, estava internada em um hospital particular da cidade e precisava de uma medicação que não era disponibilizada na rede pública.>
Mãe Nilzete passou mal após uma anestesia e ficou com os movimentos do corpo comprometidos. O estado de saúde da mãe de santo era muito delicado. Na época, o médico chegou a afirmar que a família teria que lutar muito para conseguir o medicamento, o cloridrato de papaverina.>
Depois de buscar desesperadamente e não conseguir a medicação em farmácias e postos de saúde, ele foi até o Hospital Santo Antônio buscar ajuda de Irmã Dulce. Inicialmente, não foi atendido. Funcionários disseram que ela estava debilitada e não poderia atender ninguém. Babá insistiu e Irmã Dulce ouviu sua voz. Teve a entrada autorizada. Dulce fez algumas ligações e, rapidamente, o remédio surgiu como um milagre.>
O Exército Brasileiro disponibilizou o medicamento. "Se a importância dela para os baianos é enorme, para mim, especificamente, é mais ainda. Ela era um espírito de luz. Quero agradecer a Olodumaré, a Deus e aos orixás por esse momento. Ela respeitava todas as religiões", disse o babalorixá. A mãe de Babá Pecê restabeleceu a saúde e morreu anos depois. "Irmã Dulce cuidou dela na vida carnal e agora vai cuidar na vida espiritual, na vida da santidade. Pra mim ela já era santa. Agora foi só a confirmação".>
O sacerdote do Oxumarê convocou todas as religiões a se unirem em prol do amor e da caridade, princípios defendidos por Irmã Dulce."As religiões precisam se respeitar. Cada uma mantém a sua fé, que é a maior dádiva tanto do povo de santo, quanto da igreja. Mas o respeito, o amor e a caridade devem estar acima das diferenças. Foi isso que Irmã Dulce ensinou e viveu, que as religiões têm que caminhar juntas para o bem da humanidade. Um axé e viva a Irmã Dulce".>