Bahia registra em 2017 segunda pior produção de cacau da história

Principal produtor do país, estado tem liderança ameaçada

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 22 de novembro de 2017 às 04:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

A produção de cacau da Bahia na safra chamada pelos produtores de ‘temporã’, cuja colheita vai de maio a setembro, registrou este ano a segunda pior produção de cacau da história, desde que as safras da amêndoa foram divididas em duas, em 1958 – a outra época de colheita, considerada como a principal, vai de outubro a abril.

No temporão de 2017 foram colhidos 36.876 toneladas de cacau – em 2016 foram 43.374 toneladas. A redução já era esperada pelos produtores, devido a estiagem que afeta a lavoura de cacau desde setembro de 2015, quando no temporão foram colhidas 94.836 toneladas.

Apesar da redução, a Bahia ainda é o principal estado produtor de cacau do Brasil, com área plantada de 450 mil hectares, onde atuam cerca de 40 mil produtores de cacau.

O ano de pior colheita no temporão foi em 1962, com 33.426 toneladas. Até 1958, a safra de cacau na Bahia era considerada uma só, sem divisão. A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) estima que a safra 2016/2017 da Bahia deve ficar em 104.820 toneladas de cacau, ante as 145.630 toneladas de 2015/2016.

Na época que a estiagem afetou as lavouras, os produtores de cacau do sul do estado vinham tendo recuperação na safra principal, que estava em 161.520 toneladas em 2012, caiu para 145.800 toneladas em 2013, foi a 158.520 em 2014 e baixou ligeiramente em 2015 para 154.200 toneladas de amêndoas de cacau.

Chuvas Os produtores dizem que, por conta da estiagem, muitos pés de cacau se perderam e os frutos não amadureceram. De acordo com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), autarquia ligada à Secretaria estadual do Meio Ambiente, as chuvas em Ilhéus têm variado ano a ano, desde 2012, quando caíram 1.071 milímetros.

Nos anos seguintes houve o registro de 1.634,1 mm (2013), 1.781,8 mm (2014), 1.255 mm (2015), 1.368 mm (2016) e em 2017 caíram na cidade até esta segunda-feira (20) 827,4 mm.“Devido à estiagem, teve algumas roças que se perderam por completo, com produção zero”, disse o presidente do Sindicato Rural de Ilhéus Milton Andrade, que espera, no entanto, boa recuperação em 2018.A liderança da Bahia no setor também pode ser medida na quantidade de empregos que gera em toda a cadeia da cultura. São 80 mil empregos diretos e indiretos, que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responde por 54% da produção nacional, de 274 mil toneladas em 2017 (estimativa), 28% a mais que 2016, ano em que os produtores de cacau faturaram R$ 1,2 bilhão.

Pará fungando no cangote O Pará é o segundo maior produtor nacional, com 42% da safra no Brasil, e tem produtividade melhor que a da Bahia: enquanto o estado do norte produz 916 quilos/ hectare, na Bahia é de 500 quilos. A produção anual do Pará está em 105,8 mil toneladas – há cinco anos, era de 68,4 mil, crescimento médio de 13% ao ano.

Tanto o cacau produzido na Bahia quanto no Pará é industrializado praticamente todo em Ilhéus, onde estão 15 fábricas de chocolate, boa parte delas remanescentes do período áureo da cultura, dizimada pela praga da vassoura-de-bruxa a partir da década de 1980. As maiores empresas são a Cargill, a Olam e a Barry Callebaut.

Devido à queda da produção da Bahia, as empresas têm recorrido a importações para atender a demanda mundial de chocolate, que, segundo a TechNavio, uma empresa de pesquisa de mercado, deve crescer em volume, 2,4% ao ano, até 2019. O consumo mundial de cacau é de 4,2 milhões de toneladas.

O analista de mercado e especialista na commodity cacau, Thomas Hartmann, que fica baseado em Salvador, disse em entrevista ao CORREIO que ao menos 60 mil toneladas de cacau oriundas de Gana devem chegar ao Porto do Malhado, em Ilhéus entre este final e início de ano.

Ao analisar o panorama do cacau da Bahia, Hartman criticou a falta linhas de financiamento de bancos oficiais para recuperação da lavoura.“Não tem incentivo ao produtor. Os que conseguem algo com os bancos são por meio de outras fontes de financiamento que não estão ligadas à cacauicultura”, comentou o especialista.Ainda segundo Hartman, uma quantidade pequena da produção de cacau do Brasil está sendo exportada para Argentina, Chile, Estados Unidos e alguns países da Europa. O Ministério da Agricultura foi procurado pelo CORREIO para comentar o assunto, mas não deu resposta.