Bahia tem 62 pessoas superinteligentes segundo organização que reúne os altos QIs do mundo

Salvador é a única cidade do estado que está na rota da Mensa Brasil, entidade que reúne indivíduos de altas capacidades intelectuais

  • D
  • Da Redação

Publicado em 1 de junho de 2022 às 06:00

. Crédito: Foto: Divulgação

Se a matemática para muita gente representa um pesadelo, para o engenheiro soteropolitano Alexandro Ribeiro, 46 anos, sempre foi sinônimo de diversão. Foi por causa da paixão pelas exatas que amigos, professores e familiares perceberam, quando ele tinha uns 12 anos, que a habilidade de Alexandre superava a dos colegas. Esse era só um dos indícios que a inteligência dele era acima da média. Não é a toa que o engenheiro é hoje um dos 62 baianos certificados pela Associação Mensa Brasil, entidade que reúne pessoas e profissionais de altas capacidades intelectuais no país. 

Mesmo fazendo parte dos 2% de superdotados do Brasil, ele se vê apenas como alguém com “um interesse fora do comum”. “É difícil falar em superinteligência. Na verdade, considero que tenho um interesse acima da média pelas exatas, pelo pensamento lógico e por tudo nessa linha. É primeiro uma paixão, aí depois a gente começa a se dedicar”, avalia.

Mas nem tudo são cálculos perfeitos. Quando o assunto é emoção, ele afirma que falta habilidade. Alexandro é afiliado a Mensa desde o final do ano passado, quando fez o teste da entidade pela segunda vez. A avaliação em questão identifica pessoas com altas habilidades e superdotação. A primeira vez que realizou foi em 1999, aos 20 anos, quando a associação ainda não tinha uma representação no Brasil. Passou, mas não se filiou por esse motivo. “Dessa vez vou conseguir seguir e espero contribuir de alguma maneira para a sociedade”.

Quem também integra a lista dos superinteligentes é o funcionário público federal Douglas Honório, 49, que é formado em medicina veterinária, informática e ambientalismo. A facilidade de aprendizado é sua principal habilidade. Ele começou a se destacar aos 4 anos. Além de um dos superinteligentes da Mensa, desde 2002 é um dos coordenadores de testes e eventos da entidade na Bahia, em Salvador, onde mora há quatro anos, desde que se mudou de São Paulo. “Sempre tive facilidade de aprender e interesse por muitas áreas. Não gostava de sentar para ler por causa do TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade], até comum em pessoas com QI mais alto. Então, criava estratégias de aprender, como fazer associações com várias coisas”, conta.Salvador é a única cidade do estado que está na rota da Associação Mensa Brasil. No país, a instituição já reúne 2 mil cadastrados e 600 ativos. A associação é a afiliada oficial da Mensa Internacional, principal organização de alto quociente de inteligência (QI) do mundo. Fundada no Reino Unido, em 1946, está presente em cerca de 100 países e conta com, aproximadamente, 145 mil membros.

A capital baiana é também um dos locais em que acontece a rodada de testes no Brasil, aplicados sempre no último sábado de todos os meses ímpares. Em março deste ano, a entidade identificou 19 novos brasileiros superinteligentes. Entre eles, um era baiano, o estudante soteropolitano do 3º ano do Ensino Médio, Gabriel Negreiros, de 17 anos.“O conceito usado para definir a superinteligência é baseado na prevalência de alto quociente de inteligência  (QI), que é de 2% da população em geral. Para ser considerada superdotada, a pessoa precisa estar no percentual 98 ou superior dos maiores resultados de QI da população”, pontua o presidente da Mensa Brasil, Rodrigo Sauaia.“É preciso respeitar as características individuais de cada um. Outro aspecto relevante é que a inteligência não está restrita ao desempenho escolar ou acadêmico. Essas capacidades se expandem para outras áreas da vida, como atividades artísticas, esportivas, profissionais, idiomas, por exemplo”, esclarece.

Sempre que houver a suspeita, Sauaia recomenda que os pais procurem especialistas em superdotação para investigar. “As habilidades que constituem a inteligência são muitas, o que torna a inteligência, portanto, multidimensional e maleável. Existem capacidades intelectuais determinadas geneticamente e existem capacidades intelectuais determinadas por fatores ambientais. Descobrir o alto QI na infância pode contribuir em diversos aspectos da vida acadêmica, social e profissional do indivíduo”, complementa.  

Os testes são feitos de forma presencial, conforme diretrizes do Conselho Federal de Psicologia (CFP), e a próxima rodada na Bahia está prevista para o dia 30 de julho. Podem participar pessoas com idade a partir de 17 anos. As inscrições custam R$ 98 e são realizadas no site mensa.org.br/admissao/ ou pelo e-mail [email protected].

Em maio, a aplicação da avaliação aconteceu no sábado (28), em Salvador e em outras cidades como Araraquara (SP), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília  (DF), Campinas (SP), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Ribeirão Preto (SP), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e São José dos Campos (SP). O teste é aplicado ao mesmo tempo em todo o país. O número de aprovados da última rodada ainda está sendo contabilizado. “A superdotação costuma ser percebida na infância, geralmente pelos pais e educadores. Contudo, nem sempre uma habilidade acima da média indica que a criança tem alto QI. Quando o alto QI não é identificado precocemente, a criança pode se mostrar desinteressada na escola e mais vulnerável a críticas.”, revela o presidente da entidade.No Brasil, em média, a população apresenta QI de 100 pontos, com variação de 15 pontos para mais ou para menos. Pessoas com altas habilidades e superdotação apresentam QI muito acima dessa média. Os valores podem variar para cada país e também de acordo com os diferentes tipos de testes. 

“Temos uma das maiores populações do planeta. Cerca de 2% dos habitantes do país podem apresentar sinais de altas habilidades, com um QI muito acima da média, porém ainda não há um mapeamento abrangente destes indivíduos”, comenta Rodrigo Sauaia.

As buscas por superdotados pela Mensa Brasil vão servir também para ajudar a traçar um perfil dos superinteligentes no Brasil, como pontua o presidente Rodrigo Sauaia. “Como membros da associação, as pessoas encontram a oportunidade de socializar com outros que compartilham os mesmos desafios ou que precisaram superar barreiras ao longo da infância e adolescência por apresentarem alto QI. Temos também a Fundação Mensa, que oferece prêmios e bolsas de estudo para fomentar o uso da inteligência em benefício da sociedade”.

ALGUNS SINAIS DE ALTO QI

1. Raciocínio rápido para resolver problemas.

2. Boa memória de longo prazo: capta as informações e as recupera com facilidade quando necessário (lembra de nomes ou rostos de pessoas que não vê há muito tempo, datas históricas, imagens, números).

3. Boa memória operacional: capta e processa diferentes tipos de informações ao mesmo tempo.

4. Consegue diferenciar sons e visualizar detalhes em imagens com muita facilidade.

5. Rápida curva de aprendizado, apresentando habilidades avançadas para a sua idade cronológica: crianças que aprendem a ler aos 3 anos ou antes; crianças que conseguem compor uma música sem nunca ter estudado para isso.

6. Alto grau de curiosidade, vocabulário avançado para a idade, liderança e autoconfiança. 

7. Grande interesse por um assunto e especial dedicação a ele, Criatividade, facilidade de aprendizagem, alfabetização precoce e excelente desempenho em uma ou mais disciplinas em comparação com os outros. 

8. Habilidade para adaptar ou modificar ideias, facilidade em fazer observações perspicazes e persistência ao buscar um objetivo e comportamento que requer pouca orientação do professor. 

Fonte: Associação Mensa Brasil

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.