Bahia tem dois trechos de rodovias entre os 10 piores do país

Estão na lista da CNT trechos da BA-460, entre Natividade (TO) e Barreiras, e BA-030 e BA-160, em Ibotirama

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 23 de outubro de 2019 às 05:20

- Atualizado há um ano

Uma pesquisa divulgada nessa terça-feira (22) pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) aponta que a Bahia possui dois trechos de rodovias (estaduais e federais) entre as dez piores do Brasil.

Esses dois trechos estão no oeste baiano, uma das principais áreas de produção agrícola do país, com destaque para soja, milho e algodão.

Um deles, velho conhecido da Pesquisa CNT de Rodovias, fica entre Natividade (TO) e Barreiras (BA). As duas cidades são ligadas por meio da BA-060, BR-242 (na Bahia), TO-040 e TO-280. O outro trecho, na mesma região, é entre Ibotirama (BA) e Curvelo (MG), e que passa pelas BAs 030 e 160, BR-122 (Bahia e Minas) e BR-135 e MG-122.

Saindo de Ibotirama para chegar até a BR-122, são 140 km de buracos pela BA-160. A pista é conhecida como “rodovia da romaria”, pois muitos romeiros passam por ela na época dos festejos em Bom Jesus da Lapa.

Dono de uma oficina à beira da rodovia, Cardoso Barreto, 40 anos, diz que quase não está aceitando serviços de guincho. “A estrada está muito ruim para ir buscar carro quebrado. Quase não se vê mais asfalto, é só chão de terra. Um trecho que antes era feito em três horas, hoje, a gente passa mais de quatro horas rodando”, reclama.

A rodovia é muito utilizada também por 'vanzeiros' que fazem o trajeto entre as cidades de Ibotirama e Bom Jesus da Lapa. Um deles é Aldo Santos Santana de Oliveira, 31 anos.“Estou nesse ramo de van tem um ano, mas já quero sair. Vim porque estava sem emprego, aproveitei uma grana que tinha e comprei uma van pra não ficar parado, mas essa estrada não está em condições de rodagem. Gasto, por mês, de R$ 200 a R$ 300 com manutenção, senão o carro se acaba”, contou.Situação parecida ocorre entre Barreiras e Natividade. O trecho de 360 km que separa essas duas cidades é bem conhecido pelo empresário Antônio Batista, 48, dono de um restaurante e lanchonete no povoado de Placas, pertencente a Barreiras. “Fizeram uma operação tapa-buraco recentemente, mas ainda tem um trecho de 8 km, daqui de Placas até a divisa com Tocantins, que está sem asfalto e tem muito buraco”, afirma ele.

Além de problemas para trafegar, os cerca de 200 moradores do povoado de Placas, onde se planta soja e algodão, convivem há 45 dias com a falta de água porque a bomba do poço que abastece o povoado e pertence a uma associação local de moradores foi desligada por falta de pagamento da energia elétrica.

O custo da energia é de R$ 15 mil. Sem água do poço, muitos moradores estão pagando caminhões-pipa que se deslocam de Luís Eduardo Magalhães para abastecer estabelecimentos particulares, e cobra R$ 450 por isso. No restaurante de Antônio Batista, os 14 mil litros de água que o caminhão-pipa leva dá para 5 dias.“E o pessoal do caminhão-pipa vem fazendo cara feia porque a estrada daqui pra Luís Eduardo ficou um bocado de coisa sem fazer também, não está tão boa assim pra rodar, não”, disse Batista.

Problemas A Pesquisa CNT de Rodovias avalia toda a malha federal pavimentada e os principais trechos estaduais também pavimentados. Neste ano, foram analisados 8.995 km na Bahia. No geral, 57,5% da malha rodoviária pavimentada da Bahia apresentam algum tipo de problema, sendo considerada regular, ruim ou péssima. Segundo a CNT, 42,5% da malha são considerados ótimos ou bons.

O estudo aponta que o pavimento das rodovias baianas apresenta problemas em 46,7% da extensão avaliada, e 53,3% têm condição satisfatória. Em 0,3%, o pavimento está totalmente destruído. Com relação à sinalização, 52,3% da extensão são considerados regulares, ruins ou péssimos, e 47,7%, ótimos ou bons. A faixa central é inexistente em 4% da extensão e as faixas laterais são inexistentes em 11,2%.

A geometria das vias, de forma geral, foi avaliada como deficitária em 83,8% da extensão e 16,2% como ótimos ou bons. As pistas simples predominam em 96%.

Há ainda, conforme a pesquisa, falta de acostamento em 38,1% dos trechos avaliados. Nos trechos com curvas perigosas, em 55,7% não há acostamento nem defensa.

Foram identificados na pesquisa 28 pontos críticos na Bahia, sendo 10 erosões na pista e 18 trechos com buracos grandes. Todos esses problemas fazem com que haja um aumento do custo operacional do transporte de 23,2%, e isso reflete na competitividade do Brasil e no preço dos produtos, na avaliação da CNT.

Para recuperar as rodovias na Bahia, são necessários R$ 2,10 bilhões, segundo a avaliação da CNT. Em 2019, do total de recursos autorizados pelo governo federal para infraestrutura rodoviária na Bahia (R$ 436,60 milhões), foram investidos R$ 330,39 milhões até setembro (75,7%), informou a pesquisa. O governo baiano diz que, nos últimos cinco anos, investiu R$ 1,5 bilhão (veja mais abaixo).

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (Dnit) informou que “em função da situação econômica do país, o orçamento aprovado para manutenção das rodovias em 2019 foi de R$ 3,3 bilhões, metade do necessário à demanda identificada pelo órgão (cerca de R$ 6,2 bilhões por ano)”. Para 2020, está mantida a previsão de R$ 3 bilhões para ações de manutenção e restauração de rodovias. O órgão disse ainda que procura otimizar os recursos disponíveis.

Produtor gasta 20% a mais com frete

O custo do transporte com o frete para escoar produtos agrícolas do oeste da Bahia para Salvador e o Porto de Aratu, de onde é exportado, tem ficado até 20% maiores por conta da precariedade das estradas. A informação é da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), sediada em Barreiras. 

Na região, o frete é calculado por produto. A soja, por exemplo, custa R$ 170 por tonelada para ser transportada de Barreiras a Salvador. Com os problemas nas estradas, o valor total do frete sofre o acréscimo, baseado nos trechos da estrada que estão em condições ruins.

De acordo com Luís Stalke, assessor de agronegócios da Aiba, há caminhoneiro que até se nega a ir pegar cargas em locais onde as estradas estão ruins. E por conta disso, os produtores rurais da região, por meio das associações que os representam, estão investindo também na recuperação de estradas, sobretudo vicinais.

“Nos últimos dois anos foram investidos mais de R$ 23 milhões com a pavimentação asfáltica de 73 km de estradas na região de São Desidério”, afirmou Stalke.

Outro foco do estudo foi o prejuízo gerado pelos acidentes, que na Bahia chegou a R$ 620,65 milhões em 2018 – no mesmo período, o governo gastou R$ 704,22 milhões com obras de infraestrutura rodoviária de transporte. Os dados da CNT complementam reportagem do CORREIO que mostra que, na Bahia, o Estado gastou R$ 500 milhões, nos últimos cinco anos, com despesas que envolvem internações nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), além de múltiplas cirurgias e previdência dos pacientes que acabam inválidos.

Investimentos estaduais

Segundo a pesquisa da CNT, 79,7% do pavimento da Bahia foram apontados como ótimos, bons e regulares. Dos  8.995 mil quilômetros de estradas baianas avaliadas, 2.665 são de responsabilidade do estado, o que dá 29,6% dos trechos analisados.

Nos últimos cinco anos, o governo da Bahia já investiu cerca de R$ 1,5 bilhão na pavimentação e recuperação das rodovias estaduais, conforme informações da Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra), divulgadas nessa terça-feira.

Já foram entregues 5,5 mil quilômetros totalmente recuperados e, além disso, de acordo com a secretaria, estão em andamento serviços em mais de 470 quilômetros. Outros 745 quilômetros tem a previsão de terem as obras iniciadas ainda este ano.

No último ano, foram realizadas obras em mais de 1600 quilômetros com o Programa de Recuperação e Manutenção das Rodovias Baianas (PREMAR II). A BA-210, de Juazeiro a Paulo Afonso, a BA-172, entre Santa Maria da Vitória de Jaborandi, além de trechos entre Brumado e Vitória da Conquista. O Anel da Soja, que compreende trechos da BA-459 e 460, também está passando por recuperação.

“As obras do PREMAR, além de recuperar, garantem a manutenção da rodovia por cinco anos. Outros 745 km estão em processo licitatório para a recuperação de trechos como da BA-160, entre Ibotirama e Bom Jesus da Lapa, que vai melhorar a logística, escoamento de produção e estímulo ao turismo”, ressalta Marcus Cavalcanti, titular da Seinfra.

Além da BA-160, informa a Seinfra, serão recuperadas a BA-148, do entroncamento da BR-242 até Rio de Contas, a BA-046, entre Itaberaba e Iaçu, e de Itaetê a Sussuarana, passando por Mucugê.