Bahia terá 6.130 novos casos de câncer de próstata em 2020; veja mitos e verdades

Urologista Frederico Mascarenhas foi o convidado do programa Saúde & Bem-Estar do CORREIO

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  • Adele Robichez

Publicado em 24 de novembro de 2020 às 19:54

- Atualizado há um ano

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A Bahia somará 6.130 casos de câncer de próstata apenas este ano, de acordo com estimativa disponibilizada pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). Este número corresponde a mais de ⅓ do total de incidências de casos desse câncer estimados pela instituição no estado para 2020. Esses merecem atenção segundo ressalta o médico urologista do Hospital São Rafael, Frederico Mascarenhas, que, para desmistificar algumas crenças e esclarecer dúvidas sobre a doença, foi o convidado desta terça-feira (24) do programa Saúde & Bem-Estar apresentado pelo jornalista Jorge Gauthier no Instagram do jornal CORREIO.

“O câncer de próstata não pode ser prevenido, mas as complicações podem. A  ‘prevenção’ feita a partir de um diagnóstico precoce pode oferecer até 98% de chances de cura na fase inicial da doença", destacou o médico ressaltando que o volume grande de casos pode ser explicado, em partes, com o envelhecimento do homem.

Além disso, o especialista diz que esse número grande de incidência de casos da doença no estado da Bahia pode ter relação com um estudo americano que diz que homens negros têm mais chances de ter câncer de próstata ou de ter casos mais graves, por conta da Bahia ser uma cidade majoritariamente negra.

O médico alerta, porém, que as estimativas divulgadas pelo Inca podem não corresponder com os registros no final do ano por conta da subnotificação na pandemia. “Houve menos diagnósticos, por isso, provavelmente, a taxa nao será real e os casos serão descobertos de forma tardia, resultando em menos chances de cura”, afirma.

Para evitar esse problema, Frederico acredita que o trabalho de conscientização é muito importante. “Os médicos tentaram fazer uma campanha dizendo que o câncer não espera a pandemia”, exemplifica. Segundo ele, o homem deve procurar médico especialista pelo menos uma vez por ano para fazer o prognóstico precoce. “Vale mais a pena sair com cuidado na pandemia e ter mais chances de curar a doença do que diagnosticar a doença quando ela já está mais avançada, mais grave e com menos chances de cura”, explica.

“A incidência desse tipo de câncer é mais frequente a partir dos 50 anos, então é a idade que recomendamos que um especialista seja procurado. Caso haja histórico familiar, o paciente deve ir cinco anos mais cedo e, apesar de não haver evidências no Brasil, há estudos americanos que relacionam a cor da pele à maiores chances de adquirir a doença, por isso recomendo que homens negros procurem um urologista aos 45 anos também”, diz.

O médico ratifica a importância de fazer essa consulta anualmente, pois ele afirma que quando diagnosticado precocemente, praticamente todos os cânceres são potencialmente curáveis. “Quando identificado ainda dentro dos limites da próstata, sem ter se espalhado (metástase), 98% dos casos podem ser curados. Mas se ultrapassou os limites ou espalhou, raramente tem cura”, afirma.

MITOS E VERDADES Uma das dúvidas mais comuns entre os homens em relação ao câncer da próstata é como pode afetar a vida sexual. Frederico garante que a cirurgia não modifica a excitação e o desejo, mas diz que a ereção pode ser interferida caso haja dano nos nervos. Ele afirma, porém, que hoje geralmente conseguem ser mantidos cerca de 85% dos nervos responsáveis pela ereção, que é preservada, e assegura que o procedimento não interfere no orgasmo, apenas na ejaculação porque os ductos onde passa o semen são fechados durante a cirurgia.

Inclusive, os remédios para tratar deficiência da ereção podem e devem ser utilizados na reabilitação peniana na recuperação da cirurgia da próstata, afirma o urologista. Ele diz que remédios com essa funcionalidade são recomendados para tratar com agilidade essa parte importante da vida do homem.

Ao contrário da recomendação para mulheres quando se fala de câncer de mama, para os homens, o auto exame da próstata não é indicado. “É limitado porque é difícil de alcançar e desconhecido pelos homens, então não é recomendado”, diz urologista, que acredita que quem deve fazer o diagnóstico é o especialista para garantir maiores chances de descoberta e cura. 

“O tumor não dá sintoma quase nunca. É muito pequeno inicialmente e por isso o homem não sente nada. Se esperar sentir sintomas para procurar um médico, significa que a doença já está em fase avançada e espalhou-se por outros lugares, aí geralmente não dá para curar”, alerta o médico. Frederico reitera importância de consultar urologista anualmente para não correr esse risco.

A prevenção da doença não existe, mas de complicações, sim, afirma Frederico. “Não foi provado se alimentação saudável e exercício previnem o câncer de próstata, mas o homem saudável consegue enfrentar melhor a doença. Apenas as complicações podem ser prevenidas a partir do diagnóstico precoce”, fala.

TABUS E PRECONCEITOS Ainda existem homens que deixam de ir ao médico urologista por preconceito, o que pode custar a sua vida. Há, então, a possibilidade de fazer um exame alternativo ao de toque? De acordo com Frederico, existe, mas não pode ser feita por todo mundo. “Há, hoje em dia, uma ressonância específica para próstata, mas é cara, um exame demorado e por isso, não dá para fazer para todos os homens todos os anos. São identificados os homens que precisam fazer esse exame e daí pode ser pedida uma biópsia”, explica. 

O preconceito com esse tipo de exame, então, deve ser deixado de lado caso o homem deseje se manter saudável. “O PSA não faz um bom diagnóstico sozinho, em torno de 50%, e o toque tampouco, cerca de 35%. Mas a associação dos dois exames dá 80% de chances de ver se tem suspeita da doença, por isso é o recomendado”, esclarece o especialista.

Por fim, o médico lembra que todas as pessoas que têm próstata devem realizar os exames. “Não é só o homem que precisa fazer o rastreamento. Mulheres trans e as travestis também precisam fazer os exames com a mesma frequência”, diz.   *com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier