Baiana transforma o brigadeiro que vendia na escola em uma marca que fatura R$ 1 milhão

Um sonho de chocolate: ChOr produz 500 kg do produto por mês e a expectativa agora é expandir vendas para a Europa

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  • Priscila Natividade

Publicado em 12 de abril de 2020 às 11:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Ana Lee/divulgação

Dá para imaginar que o ‘sonho adolescente’ de vender brigadeiro de uma menina criada na fazenda de cacau do avô em Ilhéus se tornou uma marca baiana de chocolate que faturou o seu primeiro milhão? Na receita, segundo a chocolatièr Luana Lessa tem aroma, origem e história também. “É preciso persistência, conhecimento de todo processo do cacau ao chocolate, manutenção do padrão de qualidade, visão e coragem para implementação de mudanças e muito, muito trabalho”.

E haja trabalho mesmo, principalmente, diante de impostos elevados, logística e custos da uma matéria-prima. Junto com o marido, Marco Lessa, Luana usou uma pequena reserva financeira que tinha ali na poupança para tornar o sonho mais doce do mundo em realidade: a criação da ChOr, Chocolate de Origem.

“Fazer os brigadeiros para vender na escola aos 15 anos me envolveram na produção dos doces e na gestão financeira do que eles proporcionavam e sempre gostei disso. Porém, no trajeto a gente vai percebendo que faturamento é bem diferente de lucro. Foram muitos desafios para cumprir o objetivo constante de dar ao consumidor um produto de excelência. Com o melhor cacau, feito com carinho e embalado com história e cuidado com a natureza”, afirma.

Desde a infância, a chocolatièr conhecia todo processo do plantio do cacau e secagem das amêndoas para o preparo do chocolate. Na primeira produção, em 2013, a ChOr fabricou 300 kg de chocolate, cerca de 3,5 mil tabletes no ano. Hoje, a produção média mensal é de 500 kg de chocolate.  Marca chegou a Salvador por meio de uma parceria com a rede de supermercados G Barbosa (Foto: Ana Lee/ Divulgação) No último mês, as barrinhas ChOr saíram de Ilhéus para serem distribuídas na capital Salvador e outros municípios do Estado, além de diversas cidades de Sergipe, após a marca fechar uma parceria com a rede de supermercados G Barbosa. “Ter pontos de venda na capital baiana sempre foi um pleito dos nossos clientes. Estamos felizes em poder concretizar isso agora”. 

Diante do mercado de chocolates finos em constante expansão, para Luana, o primeiro milhão só se conquista com uma boa estratégia na demonstração do produto, rede de distribuição, representantes e sempre, sempre: participar de feiras e eventos do setor, como o Chocolat Festival. “O evento nasceu aqui em Ilhéus, está no Pará, São Paulo e em breve, Espírito Santo e Portugal. Ah, e em 2021, confirmado em Salvador”, adianta.

Originalidade

É importante também se reinventar sempre, lição que Luana aprendeu com a vassoura de bruxa, doença que impactou profundamente a produção cacaueira daquela que era então, a principal atividade econômica da cidade.

“Minha família sofreu muito. Aprendemos a fazer cacau fino e verticalizar a produção, não só exportando o cacau, como se fez por décadas no passado, mas começando a fazer chocolate, geleias, nibs, assim como novas iniciativas para o turismo rural, possibilitando uma imersão ao mundo do cacau”.  Linha mais recente de chocolates lançados pela ChOr ganhou o nome de 'Bahia, Terra da Felicidade' (Foto: Ana Lee/ Divulgação) Para ser de origem e agregar valor a este chocolate tem que ter um diferencial. “Temos uma Mata Atlântica com o sistema agroflorestal, a Cabruca. Dá orgulho de mostrar que nosso chocolate vem desta floresta. Com isso preservamos nossa identidade e as pessoas sabem de onde vem o nosso chocolate”. 

O próximo passo agora é começar a exportar o produto para a Europa. Em homenagem a Bahia, a última linha lançada leva 55% cacau ao leite e ganhou o nome de Bahia, Terra da Felicidade. “Após participarmos de diversas rodadas de negócios em cidades como Lima, São Paulo e Paris, verificamos uma boa aceitação do nosso chocolate no mercado externo. Por isso, resolvemos priorizar a entrada por Portugal. Todos têm espaço”, completa Luana. Quem mais quer um sonho doce desses?  

A RECEITA ALÉM DO BRIGADEIRO

Chocolate fino Tem que ter uma boa estratégia na demonstração do produto, rede de distribuição, representantes e principalmente, participar de feiras e eventos do setor. 

Se reinvente É preciso enxergar as oportunidades e se diferenciar. A ChOr apostou em um chocolate de origem ou seja, onde o consumidor sabe de onde vem o cacau que é produzido aquele produto e com isso, agregou valor. 

Qualidade Saber gerir os custos, equilibrar as contas. Estudar o mercado é essencial. A ideia pode ser boa, o chocolate melhor ainda, mas faturamento é diferente de lucro, como reforça Luana Lessa. 

Experiência A ChOr tem também uma loja de chocolates e apostou ainda no turismo rural, a fim de promover a experiência completa e imersão no universo do cacau. A dica é: não venda apenas o chocolate, mas tudo que ele pode proporcionar.  

Identidade Luana Lessa destaca a importância de carregar uma identidade. “Quando você lê chocolate de origem numa embalagem, isso significa que ele foi produzido com cacau de uma única região ou fazenda, com características próprias de sabor e aroma”.