Bancários, policiais e serviço hospitalar pedem prioridade na vacina; saiba quem pode tomar

Categorias solicitam inclusão no plano municipal de imunização 

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  • Marcela Vilar

Publicado em 25 de março de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/Arquivo CORREIO

Quem pegou ônibus em direção à Lapa por volta das 9h ontem (24) teve uma surpresa ao chegar perto do seu destino final. Da porta da estação até o Dique do Tororó, se formou uma fila de ônibus parados, fechando o trânsito por conta de um protesto dos rodoviários, que reinvidicavam a compra da vacina por parte da Prefeitura e a prioridade de vacinação para a categoria. Outras categorias, como bancários, professores, coveiros e engenheiros eletricistas que prestam serviços para hospitais também solicitam a inclusão no plano de imunização. 

No Dique, era difícil não se perder ao tentar contar a quantidade de ônibus emparelhados, encerrando a circulação do trânsito. Só que, com o fim do itinerário dos veículos, acabou também a paciência dos passageiros que se irritaram, bateram boca com os rodoviários e tiveram que seguir o rumo a pé. Entre as várias queixas, a mais vista questionava o modelo do protesto. Os passageiros diziam que para quem pegou o ônibus cedo, era melhor que os ônibus nem tivessem saído da garagem, evitando o gasto que precisaram fazer com a passagem.  Protesto de rodoviários causou uma fila de coletivos próximo ao Dique do Tororó nessa quarta-feira (24) (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Essa foi a principal reclamação de seu Wilson Oliveira, 87 anos, aposentado que saiu de casa para fazer tratamento de úlcera e precisou seguir do Vale dos Barris até a Estação da Lapa andando. "Eu preferia que eles tivessem avisado ou nem saíssem da garagem. Porque, se eu soubesse, não saía de casa e não passaria por essa situação. Tenho 87 anos e preciso fazer uma caminhada dessa em um sol terrível, é muito descaso com a gente", reclamou. 

Mais exaltado, o vigilante Sidney de Paula, 48, criticou o sindicato dos rodoviários por não pensarem nos transtornos para os passageiros. "Eu saí de casa às 5h e pago R$ 4,20 para fazer integração. E agora? Como faço pra chegar em casa? Só tinha esse dinheiro pra voltar e tô aqui sem tomar café, com sede, com fome. Como quer contar com o nosso apoio? Não tem como a população apoiar dessa forma", questionou. 

Quem também ficou indignada com a situação foi Jucilene Dias, 32, que pegou o Mirantes de Periperi rumo ao comércio para resolver problemas e foi surpreendida pelo protesto já que só tinha a passagem de ida e volta pra casa. "Tô querendo meu dinheiro de volta. Como faz isso com os trabalhadores? Deixa a gente parado aqui no sol, manda descer do ônibus e não liga para os nossos problemas. Como vou me resolver? Isso quebrou minhas pernas", disse a autonôma. 

Sindicato dos bancários também fazem protesto nesta quarta-feira  Não foram só os rodoviários que protestaram para ter o direito de prioridade na fila da vacina - os bancários de todo o Brasil também. Aqui na Bahia, as manifestações foram em várias cidades do estado, com a colagem de cartazes e publicidade em outdoors. o Sindicato dos Bancários da Bahia realizou ainda uma plenária, às 19h, ontem (24), para discutir a inclusão da categoria no plano de vacinação. Segundo o presidente do Sindicato na Bahia, o vereador Augusto Vasconcelos, a situação nas agências é dramática e pelo menos 500 funcionários de bancos foram infectados com o novo coronavírus na Bahia.   

“Os bancários foram uma das poucas categorias que, desde o início da pandemia, não pararam suas atividades. Estamos no dia a dia atendendo milhões de brasileiros, pagando os benefícios sociais, dentre eles o auxílio emergencial, concedendo crédito para micro e pequenas empresas e ajudando a minimizar os impactos dramáticos na economia. Já temos inúmeros casos de bancários infectados e infelizmente alguns óbitos. A situação nas agências é dramática”, constata Vasconcelos.  

O presidente do sindicato ainda alerta que as filas podem voltar a crescer na próxima semana, com a volta do auxílio do governo federal, agora de parcelas entre R$ 150 e R$ 375. Ele diz que já enviou um ofício, em dezembro, para o Ministério da Saúde afim de tratar do assunto, mas não obteve respostas. Ele reiterou o pedido no mês de fevereiro. “Já questionamos o Ministro para que atendesse a nossa reivindicação, para incluir todos os trabalhadores das unidades bancárias no plano nacional de imunização na fase quatro. Lutamos não apenas pelos bancários, mas também pelos vigilantes, trabalhadores da limpeza nas agências, prestadores de serviço e todos aqueles que atuam em contato direto com o público e que sofrem grande risco de contaminação”, explica Augusto.  

Na Câmara Municipal de Vereadores de Salvador, o vereador ainda enviou um projeto de indicação para que esse segmento fosse incluído no plano municipal de imunização. A Secretaria Municipal de Salvador (SMS), no entanto, informou que os municípios não têm autonomia para alteração do plano nacional e incluir grupos nas estratégias de imunização, porque é de atribuição federal.  

A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) também disse que segue as diretrizes do plano nacional de imunização. Porém, se alguma alteração em nível estadual vir a ser feita, pode e tem que ser discutida em CIB (Comissão Intergestores Bipartite), instância deliberativa que reúne representantes das secretarias municipais de saúde e da secretaria da saúde do estado. “Tudo é discutido e são observados diversos fatores, como o quantitativo de vacinas disponíveis e o que foi pactuado em nível Nacional”, esclarece a Sesab.  

Professores e policiais baianos  Os professores baianos lutam desde o ano passado para serem incluídos no grupo prioritário. Eles aparecem na quarta etapa da primeira fase, junto com os rodoviários, no plano estadual de imunização. O principal motivo da inclusão da categoria no esquema de vacinação é pela grande quantidade de pessoas vinculadas às escolas, ou seja, elas estando vacinados, o risco de contaminação seria baixo, segundo o presidente da associação dos Professores Licenciados do Brasil – Secção da Bahia (APLB-BA), Rui Oliveira.  

"Só na educação básica, são mais de quarenta milhões de estudantes da rede pública municipais e estaduais no Brasil. Se a gente somar o número de professores, o número de trabalhadores da educação, merendeira, porteiro, zelador, professor, coordenador pedagógico, gestor e mais a família, pai e mãe de cada aluno, dá mais de cem milhões de pessoas. Então somos um vetor muito estratégico para não deixar contaminar por covid”, argumenta Oliveira. 

Como secretário sindical da Confederação dos Trabalhadores em Educação em Brasília  e coordenador da Frente Norte Nordeste em defesa da educação, ele uniu esforços com a frente parlamentar em defesa de priorizar a comunidade escolar. Após enviar uma ação ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a aquisição das 9,7 milhões de doses da Sputnik, Rui espera que o governo da Bahia comece a vacinar os professores entre abril e junho de 2021.  

A Polícia Civil e Militar da Bahia, através da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) entrou com sua reivindicação. A organização assinou, junto com outros estados, um documento para o Ministério da Saúde solicitando a inclusão dos policiais baianos na lista de prioridades para vacinação. A Polícia Civil diz que “o Gabinete da Delegada-Geral (GDG) acompanha os pleitos de inserção das carreiras policiais civis como grupo prioritário”. Em Feira de Santana, cidade a 100 quilômetros de Salvador, seis policiais civis da mesma unidade testaram positivo para a covid-19 ontem (24). Já a PM-BA considera i"mportante a imunização dos profissionais da segurança pública por estarem na linha de frente, nas ruas realizando a proteção dos cidadãos". Até o momento, foram 4.876 casos confirmados de covid-19 em PMs, 66 óbitos, sendo 22 policiais da ativa, 21 da reserva e 23 reformados.

Prestadores de serviço em hospitais  Outra categoria que, assim como os bancários, ainda não foi considerada prioritária em nenhuma das quatro fases do plano de imunização são os prestadores de serviço aos hospitais da Bahia. Mais especificamente, os engenheiros eletricistas responsáveis por instalar os equipamentos e leitos usados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), além dos ultrassons, raios-x e tomografia, imprescindíveis no diagnóstico de covid-19.  

Um engenheiro eletricista que não quis se identificar relata que, desde o início da pandemia, o ritmo de trabalho aumentou exorbitantemente e, consequentemente, o risco de exposição ao vírus. No dia 12 de março, ele testou positivo para a doença e se isolou da mãe, que é grupo de risco pela idade. Já ele é mais vulnerável por ter asma. “Desde o início da pandemia, tem sido várias horas extras, trabalhamos de domingo a domingo e feriados para consertar monitores, ultrassom, só que na hora da lista de vacinação, eles simplesmente esqueceram da gente. A gente não sabe o que fazer, porque não estamos inclusos”, critica o engenheiro.  

Por não estarem diretamente ligados às unidades de saúde e sim a empresas privadas de engenharia, não têm direito à vacina. Mas o risco não é menor do que aqueles que estão no setor administrativo e nos corredores dos hospitais. “Como o tomógrafo é um equipamento para diagnóstico para covid, diariamente quando a gente vai atender os hospitais, eles estão fazendo exame na hora, com um paciente tossindo, fazendo o exame de tórax, é uma coisa bem tensa. São situações que a gente vivencia e não sabe o que fazer”, narra o engenheiro Matheus Carneiro, 25, trabalhador da Canon Medical Systems, empresa que instala equipamentos de radiologia e tomografia da maioria dos hospitais baianos, públicos e privados. Ele ainda não se contaminou com a covid-19, mas começou a ter sintomas nesta semana, assim como a esposa e o filho de 8 meses.  

O que diz o Ministério da Saúde  O Ministério da Saúde (MS) relembra que os profissionais de transporte coletivo rodoviário de passageiros sempre estiveram entre os grupos prioritários estipulados pelo Plano de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19. Em nota, o órgão ressaltou a importância desses trabalhadores neste momento de enfrentamento à pandemia. 

A orientação do MS é para que os gestores de saúde sigam essa ordem estipulada pelo Plano de Vacinação, de acordo com as orientações do PNI. Com a lógica tripartite do Sistema Único de Saúde (SUS), estados e municípios têm autonomia para montar seu próprio esquema de vacinação e dar vazão à fila de acordo com as características de sua população, demandas específicas de cada região e doses disponibilizadas. Conforme a Campanha de Vacinação local avança, estados e munícipios podem ampliar a imunização dos grupos prioritários, desde que sigam a ordem prevista no Plano. 

Bahia receberá novo lote ainda nesta semana  Segundo o Ministério, foram distribuídas, nesta semana, mais 5 milhões de doses da vacina covid-19 produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. O novo lote é destinado para vacinar idosos entre 70 e 74 anos, trabalhadores da saúde, comunidades ribeirinhas e quilombolas. Para os próximos dias, novas remessas estão previstas, mas a pasta não informou a quantidade nem data específica. A distribuição é feita de forma proporcional e igualitária a todas os estados e Distrito Federal. Conforme o Governo Federal recebe mais doses das vacinas enviadas pelos laboratórios fabricantes, novos grupos são contemplados. 

Relembre a ordem de prioridade de vacinação  Plano municipal de vacinação de Salvador (estimativa da SMS)  Fase 1  Trabalhadores da Saúde: 102.997  População idosa ≥75 anos: 65.358  Pessoas ≥60 anos ou + que vivem em instituições de Longa Permanência (Asilos e Instituições Psiquiátricas)  Indígenas/aldeados/povos e comunidades ribeirinhas 

Fase 2   Pessoas de 60 a 74 anos: 185.556 

Fase 3  Pessoas com comorbidades crônicas, transplantados e obesidade: 149.068 

Fase 4  Trabalhadores de Educação: 29.549  Pessoas com deficiência severa: 2.732  Membros das forças e salvamento: 15.968  Funcionários do sistema de privação de liberdade: 3.506  Trabalhadores do Transporte coletivo: 10.469  Transportadores rodoviários de carga: 3.294  População privada de liberdade: 4.340  Total das 4 fases: 572.837 

Plano estadual de vacinação (estimativa da Sesab)  Fase 1   Trabalhadores de saúde - 374.368   Idosos acima de 75 anos - 555.753   Idosos em Instituição de Longa Permanência - 9.788   Indígenas - 22.669   Povos e comunidades tradicionais e ribeirinhas - 828.860   Total: 1.791.438 (3.582.876 doses de vacina necessárias)  

Fase 2   Idosos entre 60 e 74 anos - 1.426.043 (2.852.086 vacinas necessárias)  

Fase 3   Comorbidades (risco de maio agravamento): 952.507 (1.905.014 vacinas necessárias)  

Fase 4   Pessoas em situação de rua - 2.556  Forças de segurança e salvamento - 42.867  Pessoas com deficiências institucionalizadas - 285  Pessoas com deficiência severa - 605.330 Caminhoneiros - 15.117  Trabalhadores da Educação - 211.781 Trabalhadores de transporte coletivo rodoviário e metroferroviário - 9.292  Trabalhadores de transporte aéreo - 717  Trabalhadores portuários - 2.295  Funcionários do sistema carcerário - 5.393  População Privada de Liberdade - 14.380 Total 4ª fase: 874.634 pessoas (1.749.268 doses de vacinas necessárias) Todas as 4 fases - 5.080.001 (10.160.002 doses de vacinas necessárias)  

Plano nacional de imunização (estimativa do MS)  Pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas - 156.878  Pessoas com deficiência institucionalizadas - 6.472  Povos indígenas vivendo em terras indígenas - 413.739  Trabalhadores de saúde - 6.649.307  Pessoas de 90 anos ou mais - 893.873  Pessoas de 85 a 89 anos - 1.299.948  Pessoas de 80 a 84 anos - 2.247.225  Pessoas de 75 a 79 anos - 3.614.384  Povos e comunidades tradicionais Ribeirinhas - 286.833  Povos e comunidades tradicionais Quilombolas - 1.133.106  Pessoas de 70 a 74 anos - 5.408.657  Pessoas de 65 a 69 anos - 7.349.241  Pessoas de 60 a 64 anos - 9.383.724  Pessoas de 18 a 59 anos com comorbidades - 17.796.450  Pessoas com deficiência permanente - 7.749.058  Pessoas em situação de rua - 66.963  População privada de liberdade - 753.966  Funcionários do sistema de privação de liberdade - 108.949  Trabalhadores da educação do ensino básico (creche, préescolas, ensino fundamental, ensino médio, profissionalizantes e EJA) - 2.707.200  Trabalhadores da educação do ensino superior - 719.818  Forças de segurança e salvamento - 584.256  Forças Armadas - 364.036  Trabalhadores de transporte coletivo rodoviário de passageiros - 678.264  Trabalhadores de transporte metroviário e ferroviário - 73.504  Trabalhadores de transporte aéreo - 116.529  Trabalhadores de transporte aquaviário - 41.515  Caminhoneiros - 1.241.061  Trabalhadores portuários - 111.397  Trabalhadores industriais - 5.323.291  Total: 77.279.644 

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro