Bandidos roubam e espancam 22 dos 70 rodoviários em ônibus no bairro de São Caetano

O ônibus seguia para a garagem quando foi interceptado por bandidos; é a quarta vez em sete meses

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  • Bruno Wendel

Publicado em 9 de julho de 2020 às 15:51

- Atualizado há um ano

. por Divulgação/SSP

(Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Madrugada quinta-feira, 9 de julho. Um ônibus da empresa OTTrans fazia a “apanha” – pegava funcionários perto de onde moram para levar para a garagem. Sentado no banco do cobrador, e por isso com uma visão privilegiada, um dos 70 rodoviários notou um grupo de motoqueiros parados exatamente em frente à delegacia do bairro de São Caetano. Como o coletivo andava devagar, ele leu os lábios de um dos homens da moto, que disse: “Está cheio”.

Ao perceber do que se tratava a comunicação, o rodoviário alertou o motorista: “São os mesmos caras da Boa Vista de São Caetano”. Mas nada adiantou. Os motoqueiros interceptaram o ônibus e, em seguida, assaltaram, xingaram, espancaram e promoveram o terror psicológico aos trabalhadores. Dos 70, 22 foram roubados. “Deram tapa na cara de um cobrador e de uma cobradora e deram também coronhada em um motorista. Eles queriam o celular deles e bateram sem que ninguém reagisse. Diziam que iam matar todo mundo, apontava as armas para as cabeças das pessoas, a minha inclusive. Foi sinistro demais”, declarou o motorista do ônibus, Osmar Silva, 38 anos.Esta é quarta vez, em sete meses, que ele é vítima de assalto fazendo a coleta de rodoviários na região de São Caetano. Os bandidos eram os mesmo de uma das ações anteriores. “Nas duas primeiras, eles não tiraram os capacetes. Mas na terceira e na ação de hoje, estavam de cara limpa e eram as mesmas pessoas”, contou ele.  Ainda de acordo com Osmar, os criminosos, entre xingamentos, agressões e ameaças, diziam que faziam parte da facção Bonde do Maluco (BDM). “Eles gritavam: ‘Aqui é o BDM, porra! Quem manda aqui é o BDM, desgraça!”.  Em nota, a Polícia Civil informou que o Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc) está investigando o roubo a funcionários de uma empresa de transporte coletivo no bairro de São Caetano. “Conforme informações iniciais, quatro homens em duas motocicletas interceptaram o ônibus que levava os rodoviários para o trabalho e roubaram pertences. As vítimas serão ouvidas e imagens de câmeras de vigilância do veículo estão sendo solicitadas”, diz nota. Ainda de acordo com a Polícia Civil, 22 rodoviários compareceram ao Gerrc para fazer o boletim de ocorrência.Assalto O ônibus de número de ordem 20038 já tinha passado por 13 bairros e, por volta das 4h, apanhava rodoviários em São Caetano, onde moraram 50 dos 70 trabalhadores. Segundo relato dos rodoviários, os criminosos, que estavam parados em frente à 4ª Delegacia (São Caetano), passaram a seguir o coletivo. Os bandidos estavam em duas motos e levaram aproximadamente 10 minutos com as vítimas. “Eles já estavam à espera. Já tinham assaltado outras três vezes e sabiam o horário que ‘apanha’ ia passar”, contou o motorista Antônio Carvalho de Araújo, 49, um dos rodoviários que viveu os momentos de terror na madrugada.  Quando tinha terminado de descer a Ladeira de São Caetano, o ônibus passava por um quebra-molas. Nesse momento, foi interceptado a cerca de cinco metros da garagem de Pirajá pelos motoqueiros – uma dupla parou em frente e a outra ao lado do coletivo.“Os dois caronas das motos miraram em direção ao motorista, que foi obrigado a abrir porta. Subiram três homens armados e começaram a promover o terror”, contou Antônio. Entre os rodoviários agredidos estava uma cobradora. “Ela entregou um celular mais simples, foi quando um deles gritou: ‘Não quero esse ruim, não. Quero o celular bom que está na sua bolsa, sua desgraça’, e deu uma tapa no rosto dela. A colega imediatamente abriu a bolsa e entregou o outro aparelho que ainda estava pagando”, disse o cobrador Erivaldo Matos dos Santos, 42, que estava no ônibus assaltado.  Erivaldo disse que viu também o momento em que um motorista levou uma coronhada de um dos bandidos. “Ele já tinha entregado o celular, mas um outro homem armado insistia que ele tinha outro aparelho. Depois que o colega provou que estava falado a verdade, o cara deu uma coronhada no lado direito da cabeça dele”, relatou. “Foi muito terror. Tão cedo vou esquecer essa cena”, emendou a cobradora Jeane Silva, 30, que igualmente testemunhou a situação. 

Imagens Embora os rodoviários afirmem que a ação durou dez minutos, o Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc), que analisa, na tarde desta quinta-feira (9), as imagens de um roubo, afirma que a ação dura 53 segundos.

Através das câmeras de vídeo, os policiais civis constataram que uma dupla, em uma motocicleta, aborda o veículo em movimento e determina a sua parada. Um assaltante, armado, rouba pertences do motorista e de mais duas pessoas que estão sentadas antes da catraca. Toda a ação dura cerca de 53 segundos, diz o Gerrc. Depois, o criminoso retorna para motocicleta e foge junto com o comparsa.“Estamos com as equipes nas ruas fazendo diligências para capturar a dupla envolvida nesse roubo. Importante destacar que a versão apresentada pelas vítimas está sendo comparada com as imagens”, ressaltou o titular do Gerrc, delegado Marcelo Tannus.[[galeria]]

Segundo a SSP, nas imagens aparecem três pessoas sendo assaltadas, mas foram feitas 23 ocorrências no Gerrc. Segundo a pasta, as 23 serão invvestigadas e, e for constado que o número de pessoas assaltadas é o que mostram as imagens, os demais rodoviários vão responder por falsa comunicação de crime.

Estação Pirajá Depois de roubarem celulares, dinheiro e outros pertences dos funcionários da OTTrans, os criminosos seguiram para a Estação Pirajá, onde roubaram outros rodoviários, cerca de 100. “Ficamos sabendo que os motoqueiros renderam todo mundo que estava perto da entrada da estação. Geralmente, ficam os colegas ali reunidos antes de iniciar as primeiras viagens. Ligaram para nós e disseram que foram umas 100 pessoas roubadas. Levaram de tudo”, contou o cobrador Erivaldo.  Segundo ele, o pânico não foi diferente. “Eles fizeram a mesma coisa. Diziam que iam matar todo mundo. No desespero, uma cobradora correu, mas caiu no chão e um deles a alcançou, tomou a bolsa e ainda bateu nela”, relatou.

Cobrança O Sindicato do Rodoviários cobrou medidas urgentes à Secretaria de Segurança Pública (SSP) e ameaça parar a categoria se o episódio se repetir. “Já informamos à SSP os locais mais perigosos para os rodoviários durante ‘apanha’, como São Caetano, Subúrbio, Lobato, Imbuí, Bairro da Paz, Largo do Tanque, Retiro, Pirajá. Foi dado um mapa. Como é que homens armados ficam circulando na avenida principal e não há um policiamento? Fata a SSP fazer o seu papel, um plano de guerra contra esses criminosos.  Se isso voltar a acontecer mais uma vez, vamos parar”, declarou um dos diretores do sindicato, Daniel Mota.

Em nota, a SSP informou que a PM realiza diariamente ações preventivas nas localidade citadas e que, inclusive, fez uma blitz na noite desta quarta-feira (8) no Subúrbio. "Acrescenta também que a Polícia Civil investiga e prende autores de roubos, nas regiões citadas. Destaca ainda que no mês de junho esse tipo de crime teve redução de 37,8% e, no ano (janeiro a junho), a queda foi de 1,7%. Por fim, ressalta que as ações serão reforçadas nestes locais informados pelos rodoviários", diz a nota.