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Daniel Aloísio
Publicado em 16 de outubro de 2021 às 16:00
- Atualizado há 2 anos
Cinco dias após o Porto da Barra ser palco de um assassinato em pleno feriadão de Nossa Senhora Aparecida, a onda de violência que tomou conta do bairro fez outra vítima na manhã de sexta-feira (15). Dessa vez, o alvo foi o guardador de carros Maurício Lima dos Santos, de 30 anos, executado a tiros em um dos trechos de maior movimento da área.>
Testemunhas que presenciaram o crime contam que um homem a bordo de uma moto encurralou o guardador e efetuou os disparos, fugindo em seguida. Maurício costumava trabalhar na Rua Afonso Celso. Ao notar a chegada da motocicleta, tentou escapar pela Rua Dias D'Ávila, onde acabou morto.>
Cerca de dez horas depois da ação, a polícia divulgou a prisão do suspeito de atirar na vítima. Ele foi preso por policiais da 14ª Delegacia (Barra) em um estabelecimento comercial, na Rua Almirante Marquês de Leão, e encaminhado para o DHPP.>
“Eu estava forrando a mesa quando tudo aconteceu. Primeiro, o cara da moto desceu e deu dois tiros nele. No terceiro, a arma falhou, o assassino escorregou e caiu. Foi aí que Maurício se levantou e correu em direção à Rua Dias D'Ávila, mas o cara conseguiu alcançá-lo e efetuou mais três disparos. Pelo menos um foi na cabeça”, contou o garçom de um bar próximo ao local da execução .>
“Quando ouvi os disparos, pensei que fossem fogos de artifício. Trabalho aqui há três meses. Não sou da Bahia e não pensava em ver uma coisa dessa. Minha vontade mesmo é sair da Barra”, desabafou a gerente de uma loja do bairro, sem se identificar.>
Já um turista, hóspede de um albergue localizado na rua onde o crime aconteceu, disse que tinha acabado de chegar na Barra quando o crime ocorreu. “Estava na lanchonete e vi o rapaz correndo, sendo perseguido. Depois, ouvi o som dos disparos”, contou. Ele vai embora na segunda-feira e, ao longo dos cinco anos em que frequenta Salvador, afirmou nunca ter presenciado esse nível de violência no bairro.>
Após o crime, quem conhecia a vítima tentava entender o motivo da execução. “Sempre foi um cara tranquilo. Nunca tive algo para reclamar ou ouvi falar de algo que estava acontecendo para levar a esse desfecho”, destacou uma empresária que trabalha nas proximidades. >
Parte das pessoas ouvidas acha que ele foi assassinado por causa da disputa entre guardadores credenciados, como Maurício, e clandestinos. Outros atribuem o crime a uma suposta dívida com agiotas, mas a Polícia Civil afirmou que os primeiros levantamentos apontam para a cobrança de dívidas como motivação do crime. “Conforme o que já temos apurado, a vítima teria uma dívida com o mandante. Vamos checar todas as informações e elementos coletados, para que possamos definir bem o direcionamento do homicídio”, pontuou a delegada Zaira Pimentel, titular da 1ª DH/Atlântico.>
O novo assassinato na Barra elevou entre comerciantes e moradores o temor de que o avanço da onda de violência afaste de vez clientes, turistas e frequentadores habituais de um dos cartões-postais de Salvador. “A Barra precisa de socorro. Acontecer algo assim aqui é absurdo. As autoridades dizem que tem segurança, mas não tem. Estamos entregues”, lamentou uma moradora do bairro. Empresários ouvidos sintetizaram o quanto a barra pesada prejudica negócios. Para todos eles, se já era difícil atrair clientes antes da onda da violência, imagina agora.>
Onda iniciada há dois meses avança mesmo com medidas>
Um dos mais badalados e frequentados pontos turísticos da orla de Salvador, a Barra acumula episódios de violência nos últimos meses, principalmente no Porto. Mesmo com mudanças no comando do policiamento e garantias de reforço na segurança, a onda de crimes relatada em sucessivas reportagens do CORREIO segue sem freios. >
Em 16 de agosto, um casal em situação de rua teve o barraco instalado no Porto da Barra incendiado de forma criminosa. Dias depois, o homem e a mulher morreram por complicações causadas pelas queimaduras. Em dia 5 de setembro, Rodrigo Cerqueira de Jesus, mais conhecido como Tosca, foi assassinado durante tiroteio ocorrido perto do Porto. A mãe da vítima e uma terceira pessoa foram baleadas na ocasião. >
No dia seguinte, um corpo apareceu boiando no Porto, com os pés amarrados e marcas de violência. Duas semanas depois, em 21 de setembro, um homem com supostos problemas mentais apavorou quem curtia a praia do Porto. Com uma faca em mãos, ele invadiu a faixa de areia e ameaçou banhistas. A Guarda Civil Municipal (GCM) foi chamada e conseguiu mobilizá-lo. >
No último domingo, em meio ao feriadão do dia 12, Uéslei Nielson Cruz Santos, de 28 anos, estava na praia do Porto por volta das 19h, quando foi executado a tiros ao lado de familiares, amigos e demais banhistas. Antes de apertar o gatilho, o atirador chamou o que se supõe ser o apelido de Uéslei: “Meio-Dia”. >
Os recorrentes episódios resultaram na troca de comando da 11ª Companhia Independente da PM, responsável pela Barra. Em 10 de setembro, o posto foi assumido pelo major Uildnei Carlos do Nascimento. Após ordenar a intensificação no policiamento e pedir apoio dos serviços de inteligência das polícias Civil e Militar, o major assegurou que atuaria sem tréguas para conter a onda de violência.>
Reforço no patrulhamento motorizado, ampliação do efetivo nas bases móveis e realização de abordagens foram as primeiras medidas anunciadas. O novo comandante adiantou ainda a possível instalação de câmeras com reconhecimento facial em locais estratégicos.>