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Laura Fernades
Publicado em 5 de janeiro de 2020 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
A partir de que idade uma pessoa precisa procurar o geriatra? Ao descobrir a resposta, a dona de casa aposentada Vânia Maria de Oliveira, 64 anos, ficou espantada. “Como é doutor? 40 anos?”, questionou, quando soube que este profissional não atende só quem tem mais de 60 anos, mas, sim, todos os que querem envelhecer de forma saudável.>
Vânia confessa que sempre teve preconceito e, por isso, só foi buscar o acompanhamento do geriatra no ano passado, por insistência de outros médicos que a atendem. “Pra que um geriatra se tenho todos os outros? Só que simplesmente eu ia em cardiologista, ortopedista, endócrino... Então pensei que procurando o geriatra ia abranger todos em um só”, conta Vânia.>
Acontece que a dona de casa descobriu que não funciona exatamente assim. O geriatra não substitui os outros profissionais, mas atua como um gerente da saúde do paciente de forma multidisciplinar. Ele compreende as demandas físicas, emocionais e sociais que surgem depois dos 60 anos, e tem conhecimento da legislação que dá suporte e benefícios ao idoso. Ao mesmo tempo, indica o acompanhamento de outros médicos sempre que achar necessário.>
“O indivíduo foi sendo compartimentalizado, mas tem que ser tratado como um todo. O geriatra busca a estabilização da saúde de forma integral, faz esse gerenciamento de forma mais cautelosa”, explica o médico geriatra e gerontologista Márcio Peixoto, 44 anos, que atua no Hospital Português. “O idoso é mais fragilizado, então não tem tanto tempo a perder em especialista”, pondera. Preconceito Quando seus pacientes passam a ser acompanhados com regularidade por muitos especialistas, o fisioterapeuta Artur Magnavita, 34, recomenda que procurem o geriatra. “Quando a pessoa começa a envelhecer, é natural que desenvolva mais de uma demanda clínica. A figura do geriatra se torna fundamental nesse contexto, porque vai integrar melhor as especialidades e diminuir o excesso de fármacos. É o interlocutor da equipe”, explica.>
Especializado em fisioterapia ortopédica e aquática, Magnavita é professor da Rede Fluir, que possui turmas formadas pelo público idoso. Atento a esse universo, o fisioterapeuta lembra que muitas vezes as pessoas acima dos 60 anos vivem uma reclusão social e é o geriatra quem percebe isso.>
É também este profissional que investiga o histórico familiar do paciente, mesmo que seja uma pessoa saudável de 40 anos. Sua carga genética pode vir acompanhada de diabetes e hipertensão, por exemplo, sendo necessário o monitoramento a longo prazo. “O fato de pensar no envelhecimento saudável faz com que cada vez mais precoce seja essa busca”, afirma Peixoto.>
Foi também por isso que Vânia resolveu procurar o geriatra: sua mãe morreu com 55 anos, por causa de um AVC. “É um histórico não muito legal”, reconhece a dona de casa. “Tinha preconceito, mas fui ao geriatra numa boa. Me cuido muito, faço hidroginástica, alongamento e pilates a semana inteira. Então acho que tenho tudo para ter uma vida saudável”, acrescenta.>
Apesar do exemplo de Vânia, são muitos os que seguem alimentando o preconceito e resistem a procurar o geriatra. “Ninguém quer envelhecer, né? O ser humano quer ser imortal. Acredito que o nome ‘geriatra’ traz uma carga que é o reconhecimento do estar velho”, opina Peixoto. “A sociedade ainda não se preparou para pensar no envelhecimento saudável. Isso a gente vai ter que desmistificar aos poucos”, acredita o geriatra.>
Sinais de que você precisa de um geriatra 1. Ter mais de 40 anos de idade (o geriatra é indicado não só para as pessoas acima de 60 anos).>
2. Quer envelhecer de forma saudável.>
3. Possui parentes com casos de doenças como diabetes e hipertensão.>
4. Busca um acompanhamento médico inte- gral, que leve em conta suas vulnerabilidades físicas, intelectuais e sociais.>
5. Quer preservar a capacidade de se cuidar com o mínimo de ajuda possível em tarefas simples como cortar a unha, tomar banho e se alimentar.>
6. Busca um acompanhamento profissional que tem visão a longo prazo.>
7. Está atento ao processo de envelhecimento e às mudanças que este trará para sua vida.>
8. Possui alguma perda na capacidade de aprendizado, de vocabulário ou de memória.>
9. Sofre com as alterações das emoções e a falta de ânimo, de vigor ou energia.>
10. Sente que precisa de ajuda para lidar com questões do envelhecimento.>
Benefícios de ser atendido por um geriatra>
1. Este profissional tem uma visão integral do processo de envelhecimento.>
2. Atua como um “gerente” da saúde, que concentra as ações e orienta os acompanhamentos necessários.>
3. Tem conhecimento específico sobre os principais problemas inerentes ao processo de envelhecimento.>
4. Possui conhecimento da legislação que dá suporte e benefícios ao idoso.>
5. Elabora o plano de atenção à saúde em várias etapas: promoção, prevenção, recuperação, tratamento e reabilitação.>
6. Atua em conjunto com o núcleo familiar do paciente.>
7. Aborda os processos de saúde física, assim como os emocionais e sociais.>
8. Tem preparo para orientar sobre desafios do envelhecimento, da convalescença e da finitude.>
9. Integra as especialidades médicas e diminui o excesso de fármacos.>
10. Estimula o indivíduo a se preparar de forma intelectual para envelhecer bem.>