Bem-vindos ao mar: nascem filhotinhos de tartaruga desovados na Barra

Dos 80 ovos, nasceram 37 filhotes, que já foram encaminhados ao mar

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 23 de agosto de 2020 às 16:52

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/Projeto Tamar

As celebridades chegaram. Dois meses e uma semana separaram o dia em que a mamãe-tartaruga fez a desova de 80 ovinhos na areia da praia da Barra e o nascimento dos filhotinhos. Nesse sábado (22), 37 tartaruguinhas da ninhada eclodiram e ganharam o caminho do mar de Arembepe, em Camaçari, na região Metropolitana de Salvador.

Os filhotes são da espécie tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tiveram nascimento monitorado diariamente pelos pesquisadores da Fundação Projeto Tamar. No dia 18 de junho, os 80 ovos foram removidos da Barra e transferidos para um cercado de incubação localizado na base de Arembepe, onde foram monitorados até o nascimento. O Tamar informou que a transferência ocorreu porque o ninho estava depositado em uma área considerada de risco para o desenvolvimento dos filhotes, devido à iluminação artificial e ao trânsito de pessoas.

A expectativa da bióloga da fundação, Natália Berchieri, era de que a desova resultasse em 70 filhotes, mas não foi o que aconteceu. De acordo com o Projeto Tamar, os outros 43 ovos não eclodiram, ficando com clara e gema - algo que a instituição afirma que é normal.

Também biólogo do Projeto Tamar, Fred Tognim explica que a taxa média de aproveitamento dos ovos de tartaruga-oliva varia de 70% a 80%. No entanto, essa desova aconteceu fora da época normal para a espécie e isso explica porque menos da metade do ninho veio à vida.

"As tartarugas-oliva têm o hábito de depositar os ovos entre os meses de setembro e março. Esporadicamente, a espécie faz a desova fora do período habitual", disse Fred Tognim. Os ovos que não 'vingaram' ficam enterrados na terra e servem de alimento para outros animais como raposas e tatus.

A desova das tartaruguinhas da Barra é algo histórico. Há 20 anos esse fato não acontecia porque. De acordo com o diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), professor Francisco Kelmo:“As características físicas da praia da Barra não são as prediletas das tartarugas, principalmente pelo declive. O ovo tem que ser colocado num local seco. Quando a maré enche, encobre toda a faixa estreita de areia e provavelmente o processo reprodutivo seria prejudicado”, afirma ele.[[embed]]

Todo o processo de desova da tartaruga na Barra foi acompanhado por curiosos, que filmaram o trabalho da mamãe. Répteis não costumam ter laços afetivos com sua prole - característica que é muito presente em mamíferos. Ou seja: a mamãe depositou os ovos na areia e seguiu seu percurso no mar. Segundo Fred Tognim, mesmo que filhotes e mãe se encontrem em algum lugar pelo oceano, sequer se reconhecerão.

A tartaruga-oliva é uma das quatro espécies que aparecem na costa da Bahia. As outras são a tartaruga-de-pente, tartaruga-cabeçuda e, ocasionalmente, a tartaruga-verde. Todas essas espécies, incluindo a Oliva, estão ameaçadas de extinção, segundo o Projeto Tamar. A situação da tartaruga-de-pente é a mais alarmante no momento.

A tartaruga-oliva está distribuída nos mares tropicais e subtropicais, oceanos Pacífico e Índico. No Atlântico, ocorrem na América do Sul e a na costa oeste da África. Seu habitat é principalmente em águas rasas, mas também em mar aberto.

A área dela de desova está localizada desde o sul de Alagoas, passando por Sergipe, até o litoral norte da Bahia. O número de ninhos no Brasil é de aproximadamente 8,7 mil por temporada. Tartarugas-oliva são animais solitários, que normalmente vivem por 50 anos (Foto: Divulgação/Projeto Tamar) A tartaruga chega a pesar 42 quilos, com 72 centímetros de comprimento curvilíneo de carapaça. Sobre o casco (carapaça) são seis ou mais pares de placas laterais, com coloração cinzenta (juvenis) e verde-cinzento-escuro (adultos). 

A espécie tem cabeça pequena, com mandíbulas poderosas que ajudam na alimentação. Sobre as nadadeiras: dianteiras e traseiras com uma ou duas unhas visíveis, podendo ocorrer uma garra extra nas nadadeiras anteriores. Ela é uma espécie carnívora e sua dieta é composta basicamente por salpas (peixinhos transparentes), peixes, moluscos, crustáceos, briozoários, tunicados, águas-vivas, ovos de peixes e eventualmente algas.

A maior tartaruga da costa baiana é a Cabeçuda, que tem até 136 centímetros e pesa 140 kg em média. O seu nome é sugestivo: ela possui uma cabeça grande e uma mandíbula extremamente forte, com dois pares de placas pré-frontais e três pares de placas pós-orbitais. Tartaruga-cabeçuda é a maior espécie da costa baiana (Foto: Divulgação/Projeto Tamar) Assim como a Oliva, também é um animal carnívoro e tem sua dieta composta por caranguejos, moluscos, mexilhões e outros invertebrados triturados com ajuda dos músculos poderosos da mandíbula.

Marcação Quando a Fundação Projeto Tamar flagra uma tartaruga desovando, os agentes colocam no animal um grampo marcador, que serve para estudar a migração e taxa de crescimento da espécie em um próximo flagrante. Essa marcação não acontece em filhotes, somente em tartarugas juvenis ou adultas - a partir de tamanhos superiores a 30 centímetros.

A fundação afirma que faz o máximo para que a tartaruga fique o menor tempo possível em suas dependências, para poder soltá-las na natureza e ter uma vida normal. Desde a fundação do Projeto Tamar, foram mais de 40 milhões de tartarugas devolvidas à natureza.