Boate Kiss: todos os quatro réus são condenados por mortes no incêndio

Sentenças dos sócios e músicos variam entre 18 e 22 anos de prisão

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  • Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2021 às 18:18

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/TJRS

Os quatro réus pelo caso do incêndio na boate Kiss foram condenados nesta sexta-feira (10) em julgamento no Tribunal do Júri do Foro Central de Porto Alegre. 

O julgamento de Elissandro Callegaro Spohr, Mauro Lodeiro Hoffmann, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão durou dez dias. Elissandro, que era sócio da boate, foi condenado a 22 anos e seis meses de prisão. Mauro, também sócio, foi condenado a 19 anos e seis meses. Marcelo, vocalista da banda Gurizada Fandangueira, foi condenado a 18 anos. Luciano, auxiliar da banda, também foi condenado a 18 anos de prisão.

O cumprimento da pena é em regime fechado e, por ser superior a 15 anos, é executada de forma provisória. A prisão dos quatro foi decretada pelo juiz Orlando Faccini Neto, mas o Tribunal de Justiça concedeu um habeas corpus preventivo em favor dos réus, o que suspende o início da execução da pena.

"No caso como o presente, é preciso referir que se está diante da morte de 242 pessoas, circunstância que, na órbita do dolo eventual, já encerra imensa gravidade", disse o juiz durante a leitura da sentença, no início da noite de hoje.

O incêndio aconteceu na madrugada de 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria (RS), deixando 242 pessoas mortas e 636 feridas. A maioria das vítimas era de jovens estudantes que viviam na cidade universitária. 

O julgamento, que acontece nove anos depois, encerra uma longa espera de familiares.

O que disseram os réus Os réus eram Elissandro Spohr, o Kiko, que era sócio da casa noturna; Mauro Hoffmann, também sócio do local; Marcelo de Jesus dos santos, vocalista da banda que tocava e que deu início ao incêndio ao erguer um artefato que tocou a espuma do teto; e Luciano Augusto Bonilha Leão, auxiliar técnico da banda, responsável por acionar o artefato que deu início ao fogo.

Elissandro se emocionou muito durante o depoimento e disse que virou um "monstro" de um dia para outro aos olhos das pessoas. "Eu não quis isso, eu não escolhi isso. Eu não aguento mais. Eu aprendi a chorar em silêncio dentro de uma cadeia. Por que isso foi acontecer na Kiss? Era uma boate boa, todo mundo era amigo. Eu virei um monstro de um dia para o outro. Eu estava lá", disse.

Ele afirmou que o forro com o material que facilitou o alastramento das chamas foi utilizado em adequação para reduzir a poluição sonora. Argumentou que ao contratar a banda Gurizada Fandangueira não sabia que eles usavam artefatos pirotécnicos no show.

O outro sócio, Mauro, afirmou que entrou na sociedade da boate só em 2011 e não se considerava dono do lado. "Não tinha a chave da Kiss", afirmou. Ele contou que estava em casa depois de passar na boate quando soube do incêndio e voltou para ajudar. "Uma tragédia é uma sucessão de pequenas coisas. Tudo atrapalhou", lamentou. A defesa argumentou que Mauro não tinha participação na rotina da boate.

O Ministério Público entendeu que os dois foram responsáveis pelo crime, assumindo o risco de matar, por usarem a espuma altamente inflamável e sem indicação técnica de uso na boate, além de contratar um show que era conhecido por ter exibições com fogos. Outro ponto destacado foi que a casa noturna era mantida superlotada e não tinha condições seguras para evacuação, nem oferecia treinamento aos funcionários.

Banda Marcelo, vocalista da Gurizada Fandangueira, foi quem erguei o artefato que deu início ao incêndio, ao tocar na espuma do teto. "Fiz a coreografia. Tirei a mão, o Luciano tirou a luva de mim, guardou, continuamos tocando", relembrou.

Depois, ele foi alertado que o teto estava pegando fogo e largou o microfone, pegando um extintor. Ele diz que alertou as pessoas que estavam próximas, gritando "fogo". 

A defesa afirmou que o vocalista é mais uma vítima da tragédia. Marcelo contou que o extintor não funcionou. "Eu disse vou apagar. Na minha cabeça eu ia apagar. Tive uma chance só de apagar o fogo e a chance que eu tive eu não consegui. O extintor não funcionou. Entrei em desespero de cima do palco, não sabia o que fazer", disse, bastante emocionado. 

O auxiliar da banda, Luciano, foi quem acionou o artefato. Ele disse que tem a consciência tranquila de que não foi o culpado pelo incêndio. "Se for pra tirar as dor dos pais, eu tô pronto, me condenem", afirmou.

Ele disse que a banda já tinha feito várias apresentações com artefatos, incluindo duas na Kiss. Ele disse que não sabiam que o teto havia sido rebaixado e revestido com a espuma. "Se eu tivesse morrido lá, hoje sentada aqui tem a maior joia da minha vida, que é a minha mãe. Ela ia tá ali sentada com eles (família das vítimas)", pontuou. 

Depois de acender o artefato e passar para Marcelo, Luciano continuou no palco. A defesa diz que ele também é uma vítima.

Já o MP entende que os dois membros da banda são culpados porque compraram e usaram fogos de artifício que são para uso em ambientes externos e os usaram na boate.