Bolsonaro achava que coronavírus era uma arma química chinesa, diz Mandetta

Presidente estaria certo de que chineses usariam doença para esquerda voltar ao poder na América Latina

Publicado em 25 de setembro de 2020 às 14:16

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Agência Brasil

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em entrevista ao programa "Conversa com Bial", relembrou sua passagem pelo ministério e comentou tópicos de seu livro "Um Paciente Chamado Brasil: Os Bastidores da Luta contra o Coronavírus".

Um dos trechos mais polêmicos da obra é quando Mandetta afirma que no início da pandemia Bolsonaro estava absolutamente convencido de que o coronavírus era uma conspiração e uma arma biológica chinesa para levar a esquerda de volta ao poder na América Latina.

"Como é que você rebateu essa sandice?", questionou o apresentador Pedro Bial.

"Tem coisas que você não rebate. Você olha e fala: 'Até que se prove isso, vamos tratar dos fatos, vamos tratar da vida como ela é, vamos enfrentar o problema e depois a gente vê as teorias conspiratórias que são muito comuns'. A gente não deve embarcar nessas teorias", respondeu o ex-ministro.

Na entrevista Mandetta também disse que alertou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a possibilidade do Brasil atingir o número de 180 mil óbitos causados pela covid-19, mas recebeu uma reação "negacionista e raivosa" do governante.

"Eu nunca falei em público que eu trabalhava com 180 mil óbitos se nós não interviéssemos, mas para ele [Bolsonaro] eu mostrei, entreguei por escrito, para que ele pudesse saber da responsabilidade dos caminhos que ele fosse optar", revelou.

Segundo ele, Bolsonaro negou a gravidade da situação logo no início, chegando a ficar com raiva do Ministério da Saúde. "Foi realmente uma reação bem negacionista e bem raivosa. Eu simbolizava a notícia e ele ficou com raiva do 'carteiro', ficou com raiva do Ministério da Saúde.", relatou.

Após o presidente passar pela negação e pela ira, ele entrou na fase do apelo a algo sobrenatural. "Ele se apegou àquela cantilena de pessoas que vão ao seu redor e começam a falar o que ele queria escutar", disse ele no programa.

"Me lembro de uma pessoa da saúde pública, um ex-parlamentar, que falava que só iria ter três mil óbitos e duraria só quatro semanas. Daí veio a história da cloroquina e foi uma válvula de escape para ele [Bolsonaro]. Foi do tipo 'eu tiro e coloco isso no lugar'", completou.