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Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2019 às 11:18
- Atualizado há 2 anos
Jair Bolsonaro criticou a TV Globo na transmissão que fez nas redes sociais na madrugada desta quarta-feira (3), direto da Arábia Saudita. Ao se defender da investigação citada em reportagem da emissora que ligou o presidente à morte da vereadora Marielle Franco, Bolsonaro disse que não perseguiria a emissora, mas que só aprovaria a renovação de sua concessão se o processo estivesse "enxuto"."Isso é uma patifaria, TV Globo! TV Globo, isso é uma patifaria!""É uma canalhice o que vocês fazem. uma ca-na-lhi-ce, TV Globo. Uma canalhice fazer uma matéria dessas em um horário nobre, colocando sob suspeição que eu poderia ter participado da execução da Marielle Franco, do PSOL", disse, bastante irritado.>
"Temos uma conversa em 2022. Eu tenho que estar morto até lá. Porque o processo de renovação da concessão não vai ser perseguição, nem pra vocês nem para TV ou rádio nenhuma, mas o processo tem que estar enxuto, tem que estar legal. Não vai ter jeitinho pra vocês nem pra ninguém".>
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Em nota, a Rede Globo se defendeu das ofensas de Jair Bolsonaro. "A Globo não fez patifaria nem canalhice. Fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade. Revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília, naquele dia, com dois registros na lista de presença em votações.>
O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação.>
A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro. Sobre a afirmação de que, em 2022, não perseguirá a Globo, mas só renovará a sua concessão se o processo estiver, nas palavras dele, enxuto, a Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude. Há 54 anos, a emissora jamais deixou de cumprir as suas obrigações.">
Investigação Segundo reportagem do Jornal Nacional, no dia do crime, em 14 de março de 2018, um outro suspeito pelo crime, Élcio de Queiroz, foi até o local e pediu na portaria para ir até a casa de Bolsonaro. O porteiro do condomínio disse em depoimento que interfonou para perguntar se podia liberar o visitante, o que foi autorizado por um homem que ele identificou como "seu Jair". >
Depois de entrar no condomínio, contudo, o suspeito não foi até a casa de Bolsonaro, e sim até a de Ronnie Lessa, principal suspeito por ter disparado os tiros que mataram Marielle e o motorista Anderson Gomes.>
A citação a Bolsonaro deve levar o caso de Marielle ao Supremo Tribunal Federal (STF), já que o presidente, então deputado federal, tem foro privilegiado. >
A reportagem cita que apesar da identificação da voz pelo porteiro, no dia do crime Bolsonaro estava em Brasília e participou de duas votações, segundo registro da Câmara. Ele também publicou videos na rede social no dia em que aparece no gabinete. Ronnie e Elcio são acusados pelo crime (Foto: Reprodução/TV Globo) Depoimento de porteiro No dia do crime, o porteiro estava na guarita controlando os acessos ao condomínio. Às 17h10, ele escreve no livro de visitantes a entrada do visitante identificado como Élcio, com detalhes do seu carro, um Logan de placa AGH 8202. A casa que o visitante iria era a de número 58, a de Bolsonaro.>
Élcio é acusado pela polícia de ser o motorista que dirigiu o carro usado na execução, horas depois da visita ao condomínio de Bolsonaro e Lessa.>
Segundo o JN, o porteiro disse à polícia que a entrada de Élcio foi autorizada por alguém que ele acreditou ser o então deputado federal Bolsonaro. Em dois depoimentos, ele identificou o homem que liberou a entrada como "seu Jair". Além da casa 58, Bolsonaro é dono também da casa 36, onde vive seu filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro.>
O porteiro conta que acompanhou a movimentação de Élcio pelas câmeras de segurança e na verdade ele seguiu para a casa 66, que pertence a Ronnie Lessa. Estranhando, ele voltou a ligar para a casa 58 e "seu Jair" teria dito que sabia para onde Élcio estava indo.>
Os dois suspeitos saíram do condomínio juntos, pouco depois, usando o carro de Ronnie Lessa. O carro usado no crime foi pego por eles pouco depois, segundo fontes do JN, nas proximidades do condomínio.>
De acordo com o jornal, o condomínio de Bolsonaro e Lessa grava as mensagens por interfone. A polícia tenta recuperar esses dados para tentar identificar com quem o porteiro teria falado no dia do crime na casa de Bolsonaro, já que ele estava em Brasília.>
O advogado de Bolsonaro negou as acusações e disse que se trata de uma invenção para tentar incriminar o presidente. Para Frederick Wassef, trata-se de uma mentira clara. >
"Eu nego isso. Isso é uma mentira. Deve ser um erro de digitação, alguma coisa. É o caso de uma investigação por esse falso testemunho", disse Wassef ao JN.>
MP vai ao STF Por conta da citação ao presidente Jair Bolsonaro, representantes do Ministério Público do Rio foram até Brasília este mês para se consultar com o presidente do Supremo Tribunal Federal, o minisitro Dias Toffoli. Eles queriam saber se podem continuar a investigação normalmente, agora que uma autoridade com foro aparece. Dias Toffoli ainda não se manifestou.>
Prisão Ronnie e Élcio foram presos pela polícia em 12 de março desse ano. Lessa é sargento aposentado da PM e foi preso quando tentava fugir da casa no condomínio. >
Já Élcio é ex-policial militar e foi expulso da PM em 2015 por envolvimento com a contravenção. Marielle foi morta no ano passado no Rio (Foto: Divulgação) Bolsonaro responde Da Arábia Saudita, o presidente fez um ao vivo no Facebook comentando a matéria. Ele fala das comprovações de sua presença na Câmara, que foram citadas na matéria. Diz ainda que o processo do caso Marielle segue em segredo de Justiça e acusa o governador do Rio, Wilson Witzel, de vazar a informação. "O senhor só se elegeu governador porque ficou o tempo todo colado com Flávio Bolsonaro, meu filho", acusa. >
"Ou o porteiro mentiu ou induziram o porteiro a cometer um falso testemunho. Ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou embaixo em confiança", afirma. "A intenção é sempre a mesma. O tempo todo ficam em cima da minha vida, dos meus filhos, e de quem está próximo de mim", diz. "Quero até isentar o porteiro, tenho certeza que ele não sabe o que assinou".>
"Será que a Globo quer criar um fato, uma narrativa, de que eu deveria me afastar, ou de que o povo deveria ir às ruas pedir meu afastamento?", questiona, falando do momento de instabilidade em outros países da América Latina. Ele ainda atacou outros órgãos de imprensa, como a revista Época. "Deixem eu governar o Brasil, vocês perderam. Vocês vão renovar a concessão em 2022, não vou perseguí-los. Mas o processo vai estar limpo, se não estiver legal não vai ter renovação", afirmou, dizendo ser perseguido "24h por dia".>
Bolsonaro fala ainda que o caso de Marielle parece "estar bichado" e questiona se deveria ser federalizado - o que foi pedido pela ex-procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Depois, volta atrás e diz que isso talvez não fosse bom, atacando a Polícia Federal, "que não consegue responder quem mandou matar Jair Bolsonaro".>