Bombeiros baianos trabalhavam por até 16 horas em Brumadinho

Militares chegaram a Salvador nesta quinta-feira (14)

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  • Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 21:57

- Atualizado há um ano

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Um terreno tomado por escombros. O contato direto com o mar de lama a que se resumiu a região afetada pelo rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão, no município de Brumadinho, em Minas Gerais, mostrou ao grupo de Busca e Resgate de Estruturas Colapsadas (Brec), do Corpo de Bombeiros da Bahia, que eles não estavam diante de mais um cenário de tragédia, entre tantos outros.

A sensação iminente de morte durante os trabalhos, segundo os baianos, coloca o caso, ocorrido em 25 de janeiro, como o mais devastador já visto por eles, que retornaram a Salvador nesta quinta-feira (14), após 12 dias na operação. Em cerimônia na sede da corporação, esta tarde, o comandante da tropa de especialistas, major Ramon Dieggo, não quis comentar sobre os corpos que viram.

Nas buscas diárias que se estendiam por cerca de 16 horas, ele contou que o maior desafio dos militares, especialistas em deslizamentos de barreiras, era não ser engolidos pela lama - que, em alguns trechos do terreno invadido pela represa da mineradora Vale, causou rejeitos de até 15 metros de profundidade.  

Até agora, 166 corpos foram retirados dos escombros e outras 155 pessoas seguem desaparecidas. O Corpo de Bombeiros do estado de Minas Gerais desarticulou a força-tarefa para iniciar a fase de buscas com maquinários, já que a lama entrou em fase de solidificação. 

À imprensa, major Dieggo destacou a força e união de seus homens, que trabalharam ao lado de bombeiros de mais de cinco estados. "Nós nos sentimos honrados por tudo. Desde o trabalho com a equipe na aeronave, até chegar ao local. Foi necessária muita união, porque lidamos com um local onde a gente pisava e afundava até o peito", lembrou. Tropa foi homenageada no retorno a Salvador (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Obstáculos De carros e animais a árvores e residências inteiras, em busca de vítimas, os militares que trabalharam em Brumadinho encontraram os obstáculos mais diversos. No local, passível de acesso apenas por meio aéreo, trabalhavam em grupos de 13.

A quantidade de escombros e instabilidade da terra, além de uma temperatura que, segundo eles, beirava os 35ºC, formavam o cenário perfeito para desestabilizar qualquer pessoa, mas não um bombeiro. "Nós treinamos muito para isso. Éramos colocados no terreno com auxílio de helicópteros, guiados por equipes que faziam tudo com muita maestria. Ficou a lição de que trabalhar integrado faz toda diferença em um ponto de risco, lidando o tempo inteiro com a morte", destacou o major, ao classificar a tragédia como algo "nunca visto no mundo".O soldado BM, Origenes Maurício Rocha Júnior, que também participou do resgate das vítimas de Brumadinho, destacou a união da equipe - determinante para o trabalho.“O apoio que tivemos um do outro foi fundamental para os dias que atuamos lá, além disso, o apoio das nossas famílias foi essencial para a renovação das nossas forças”.Segunda maior tropa de fora de Minas Gerais presente no local, o grupo Brec da Bahia não tinha regularidade para manter contato com familiares. A ideia de não retornar das buscas, diante da possibilidade de rompimento da barragem B6, vizinha ao local, era uma consciência de todos os envolvidos, como explicou o comandante geral do Corpo de Bombeiros da Bahia, coronel Francisco Teles.

"Em nosso dia a dia, nós socorremos de gatos a pessoas. Tivemos que realizar a missão, concluída de maneira que muito nos orgulha. Saímos da angústia da dúvida, para o sofrimento da realidade. Fizemos tudo com disciplina", salientou Teles, ao parabenizar a tropa.