'Bug no Zap': queda das redes prejudicou trabalho de baianos

"Foi desesperador", disse influencer Ashley Malia

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  • Luana Lisboa

Publicado em 5 de outubro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

A queda das principais redes sociais utilizadas por baianos foi responsável não só pelo prejuízo financeiro de cerca de U$ 6 bilhões para o dono das marcas, Mark Zuckerberg, mas também pelo completo desespero dos internautas, que tiveram que recorrer ao Twitter como única forma de comunicação. Mesmo esse apresentou instabilidades, junto com o Telegram e até mesmo operadoras de telefonia como Tim, Claro e Vivo, de acordo com o site Down Detector.

O pico de queixas no WhatsApp, Facebook e Instagram começou por volta de 12h40. Três horas depois, em meados da tarde, nenhuma delas havia retornado. O que restaram foram pronunciamentos oficiais das redes através da página do passarinho azul, e reclamações daqueles que necessitam das ‘sumidas’ para o ganha pão. Foi o caso da influencer Ashley Malia, que também trabalha em uma agência de publicidade.“Se isso traz algum indício de ser definitivo, é desesperador. Para nós que trabalhamos como influenceres, principalmente para quem se sustenta só disso, ficamos sem saber como as marcas vão reagir a isso e como as coisas vão se encaminhar”.Toda a comunicação interna da empresa em que trabalha também foi transferida para a plataforma do Email. Antes utilizado para formalidades, durante 6 horas, o planejamento de toda a agência foi readaptado e, segundo a comunicadora, o dia foi “praticamente perdido”. Como influencer, a dona de 36,9 mil seguidores no Instagram e 19,5 mil no Twitter teve que voltar para a última rede totalmente.

“Trabalhamos com conteúdos real-time nas redes sociais, então as pautas caíram totalmente, todo o contéudo foi adiado. No Twitter, até dava para postar, mas como o assunto está todo voltado para isso, não faz sentido postarmos algo completamente aleatório. É preocupante”, explica.

Para ela, falas que reforçam que esse foi um dia de benção para a conexão consigo são feitas por aqueles que têm as redes como entretenimento. “Para mim e para quem trabalha com isso, não é um momento de conexão comigo, é um momento de desespero. Todos os momentos de entretenimento não envolvem mais rede social, porque eu me organizei para isso”.

Foto: Arquivo pessoal

Também é o que pensa a influencer e tatuadora Helen Fernandes de Souza, nas redes sociais, conhecida como Malfeitona. Ela notou problemas nas plataformas Gmail e no Google Drive, que utilizava para guardar suas artes e para o contato com clientes. Além disso, o aplicativo que os clientes utilizam para pagar pelo serviço das tatuagens também foram afetados. 

“Plataformas digitais controlam o mundo, então não é uma opção depender delas e não poder se dar um dia livre”. Teve, então, que se virar com desenhos no papel e ligações telefônicas, que não a satisfazeram. “Caiu o ‘zap’, o ‘instagram’ o ‘Gmail’ ou eu fui agraciada com a Claro me torturando?”, publicou nas redes.

De acordo com o site DownDetector, que monitora problemas e quedas de serviços em tempo real, não somente as redes de Zuckerberg apresentaram instabilidade, mas também as operadoras Claro, Vivo, Tim. Procuradas, Claro e Tim afirmaram que “sua rede está operando normalmente”. A Vivo não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

Prejuízo

Mas o prejuízo financeiro não foi apenas do Zuckerberg, que acabou perdendo o posto de 4º mais rico do mundo no índice Bloomberg Billionaires, superado pelo fundador da Mycrosoft, Bill Gates. O coordenador de Comunicação e Promoção da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador e tiktoker, Lucas Lucas, explica que a queda do WhatsApp e Instagram o inviabilizou a dar continuidade às negociações com os fornecedores e todo o trâmite com a gestão de projetos e parcerias.

“Particularmente estou à frente do Natal da Limpurb, e estamos com um turbilhão de projetos para viabilizá-lo. Hoje era dia de eu ter um status destes projetos e fechar algumas outras demandas durante a semana, e não pude fazê-lo. Além disso, a nossa área digital que fica com as interações suspensas e reorganização de conteúdo devido a essa instabilidade também do Instagram”, relata.

Para ele, o modo como as conversas são dispostas nas redes facilitam saber "em que pé" ele está na negociação e o que ainda precisa ser feito. “Quando tenho aplicativos como estes, que se tornaram verdadeiras extensões, inabilitados, todo o trabalho perde o fluxo e precisa ser reinventado”. Sua forma de reinvenção foi a utilização do Gmail e as boas e velhas ligações.

“Eu tenho que despontar de tempo para fazer 5 ligações. O que eu podia fazer em 30 segundos passou a ser feito 10 minutos. A gente acha que é brincadeira, mas o fluxo de trabalho se quebra demais”, reclama.

Para além do trabalho, o psicólogo especialista em gestão de pessoas Felipe Laccelva, explica que o sentimento de ansiedade de muitos ainda se justifica pelo “vazio” que a falta das redes deixa na rotina de cada um. Para muita gente, afinal, o conglomerado Facebook+Whatsapp+Instagram não é só uma rede social, mas é a própria internet. A única forma de conexão e contato com familiares, trabalhos e amigos, com notícias.

“Houve um aumento dos níveis de ansiedade pela impossibilidade de fazer aquilo que estávamos acostumados. Esses sistemas são estruturados para que as pessoas passem o maior tempo possível dentro deles e o efeito disso dentro do nosso organismo é a liberação de pequenas doses de endorfina, que trazem a sensação de bem-estar e fazendo que nos tornemos dependentes gradativamente”, diz.

Ele explica que a impossibilidade de acessar as redes sociais faz com que as pessoas passem pela síndrome de abstinência, com sensações de mal-estar, irritabilidade e inquietação. “Aos que têm a rede como vício, é muito importante perceber quais sentimentos emergem com a ausência das redes e se realmente vale a pena permitir que elas causem tais sensações”, finaliza.