Caçadores de caruru se esbaldam na Feira das Sete Portas

Caruru do babalorixá André Nery reúne pessoas que se planejam para a temporada de oferendas a Cosme e Damião

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  • Da Redação

Publicado em 27 de setembro de 2016 às 17:30

- Atualizado há um ano

O sol forte de meio-dia não impediu o motorista Paulo César Alves, 32 anos, de satisfazer seu desejo por comida de azeite. Ele ficou quase uma hora na fila para ser um dos primeiros a provar o caruru oferecido pelo babalorixá André Nery, em sua barraca na Feira das Sete Portas.

As panelas demoraram um pouco para chegar, mas às 13h desta terça-feira (27) o cheiro de dendê preencheu a feira, tranquilizando as dezenas de pessoas que já aguardavam na fila. Louco por caruru, Paulo César arranjou uma maneira prática de saber dos diversos lugares pela cidade que servem gratuitamente.

“Eu e meu irmão fizemos um grupo de WhatsApp só para procurar caruru. Criamos ano passado e estamos na edição 2016”, conta ele, mostrando o nome do grupo: Os Caça Caruru. “Estamos pensando em fazer camisas. Já temos três carurus para ir essa semana, então ainda dá tempo”, planeja. Os outros integrantes não puderam ir por causa do trabalho, mas Paulo César fez questão de enviar uma foto do prato para o grupo.Paulo César come o primeiro caruru da temporada(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)Quem também se organizou pelo WhatsApp foi a faturista Gabriela Delgado, 39. “Temos um grupo da torcida do Vitória, o Viloucura. Meu amigo divulgou a matéria, aí quem estava disponível veio”, conta, em referência à reportagem do CORREIO que listou carurus gratuitos pela cidade. Gabriela também aguarda a temporada de caruru com ansiedade. “Não posso dizer que desesperada, mas todo baiano gosta, acho que está no sangue”, brinca.

O amigo que avisou o grupo de Gabriela foi o eletricista Marcelo Oliveira, 39. “Só ando aqui na feira. Como estou de folga hoje, chamei o pessoal. Costumo comer todo ano, setembro é certo”, conta, revelando ainda que fica sempre buscando carurus gratuitos.Já a professora aposentada Ivani Ribeiro, 51, já sabe para onde vai todo mês de setembro. "Tenho um amigo que tem barraca aqui atrás, então venho todo ano. Também tem um no Pelourinho que vou sempre", diz, revelando que tem relação bem próxima com a tradição dos santos Cosme e Damião. “Tenho dois irmãos gêmeos, aí minha mãe faz caruru todo ano lá no interior, em São Gonçalo dos Campos”.André Nery oferece o caruru aos sete meninos(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)Para alimentar toda essa gente, André Nery precisou cortar 700 quiabos. “Tenho devoção, muita fé nos Erês. Hoje já distribuí 300 quentinhas na rua”, explica o babalorixá, que oferece o caruru há 20 anos. Além dos quiabos, a oferenda é completa. Todos os pratos saíam com acarajé, vatapá, inhame, farofa, milho branco, pipoca, batata doce, feijão fradinho, ovos e rapadura.A devoção pelos santos gêmeos começou por causa do seu nascimento, há 43 anos. André nasceu no dia 28, um dia depois que a mãe comeu o tradicional caruru. “Ela comeu no dia 26, aí teve uma dor de barriga dia 27 e eu nasci no dia seguinte. Aí veio a devoção. Desde pequeno minha mãe oferecia por mim e depois eu mesmo comecei a fazer”, conta.