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Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2018 às 20:11
- Atualizado há 2 anos
Considerada Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2010, a Festa da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, é uma das mais importantes manifestações culturais e religiosas do Recôncavo há mais de dois séculos, e em 2018 volta a reunir milhares de moradores e visitantes para manter a tradição viva.>
A festa acontece sempre na primeira quinzena de agosto – este ano, vai até a próxima sexta (17). O início dos festejos foi nessa terça (14), com a missa pela alma das irmãs falecidas, seguida da Ceia Branca, para as irmãs e convidados, onde são servidos frutos do mar sem o azeite de dendê. Após a ceia, as irmãs passam a noite em vigília.>
Nesta quarta (15), segundo dia das comemorações, é realizada a missa de “corpo presente”, seguida de uma procissão de enterro de Nossa Senhora da Boa Morte, onde elas vestem o xale (pano-de-costa) do lado preto, representando o luto. A celebração atraiu turistas, a exemplo da estudante Barbara Filgueiras, moradora de Salvador, que já conhecia Cachoeira, mas pela primeira vez visita a cidade para conferir a Festa da Boa Morte. >
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Celebração da vida Para ela, é uma celebração muito importante pois “resgata a ancestralidade”, e o fato de ter um clima festivo a surpreendeu. “Eu esperava que fosse uma festa com um clima mais fúnebre. As pessoas nunca falaram para mim como é animado. Estando aqui, percebi que na verdade é uma celebração da vida. Estou gostando muito”, comentou a jovem.>
Para o comércio também é uma época bastante agitada, na qual bares, restaurantes e pousadas da cidade costumam ficar cheios. >
Josenete Reis, recepcionista e responsável pelas reservas da Pousada do Convento do Carmo, diz que todos os anos tem muita busca, chegando a ocupar até 90% do espaço. Mas, ela atenta para outro ponto. “Quando a festa cai no meio da semana, como nesse ano, a busca abaixa um pouco. Esse ano, por exemplo, nossa clientela diminuiu por volta de 10%”, calcula. >
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Dia festivo O terceiro dia de festejo, que será nessa quinta, costuma ser o mais popular da festa e o que contém mais atrações em sua programação, já que é um dia de alegria, onde a Irmandade comemora a assunção da Nossa Senhora aos céus. Assim, elas vestem o xale do lado vermelho, que representa a vida. Esse dia começa com uma alvorada às 6h e, um pouco mais tarde, a missa solene seguida pela procissão. >
A programação prossegue com a valsa e samba de roda com as irmãs no Largo d’Ajuda, um almoço aberto às pessoas da comunidade na sede da Irmandade, finalizando com mais samba de roda. >
Este ano, além do samba, também acontece o show da Orquestra de Reggae Cachoeirana, onde os músicos fazem uma homenagem ao grupo Os Tincoãs. >
Nessas quinta (16) e sexta (17) vão ser servidos no Largo d’Ajuda, para a comunidade, cozido e caruru, respectivamente, para o encerramento oficial dos festejos de 2018. >
História, sincretismos e força A festa de Nossa Senhora da Boa Morte é uma grande referência do sincretismo entre a religião católica e a cultura africana, atraindo centenas de curiosos e estudiosos em diversos campos. >
O sincretismo é um dos pontos que mais chamam atenção na festa, que possui uma programação católica e também rituais africanos.>
Missas, confissões e sentinela de Nossa Senhora da Boa Morte fazem parte da programação católica; já os rituais africanos são feitos de forma muito recatada, com preceitos que se iniciam desde o começo de agosto. >
Na Bahia, a devoção a Nossa Senhora da Boa Morte tem origem em Salvador, onde os primeiros registros vêm do século XIX. A Irmandade veio para Cachoeira por volta de 1820 e sua primeira sede foi em uma casa que até hoje é conhecida como “Casa Estrela”, lugar que as irmãs reverenciam na passagem da procissão. >
A Irmandade é uma sociedade fechada e zeladora das tradições. Ela ainda mantém fortes traços de sua origem, a exclusividade de admissão para mulheres negras descendentes de escravos e com mais de 50 anos é uma das práticas mais fortes. >
Assim, as irmãs mantêm os hábitos em suas estruturas há mais de 200 anos. O quadro da Irmandade já chegou a contar com cerca de 200 mulheres. Atualmente reúne 22 irmãs, um dos nomes mais conhecidos é Dona Dalva, fundadora do Samba de Roda Suerdick. Fazem parte da irmandade mulheres de Cachoeira e também de outras cidades do Recôncavo como São Félix, Maragojipe, Santo Amaro e Muritiba.>