Caminhoneiros param atividades no porto de Salvador

A paralisação teve início da terça-feira (5), e compromete o transporte de carga e as atividades econômicas no estado

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 16 de julho de 2022 às 16:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/Joa Souza/Reprodução

Desde a última terça-feira (5), a chegada de insumos para o polo petroquímico de Camaçari, o escoamento de produtos nas fábricas baianas, o transporte de mercadorias e a operação de cabotagem que passa pelo porto de Salvador e Aratu estão parados. Ao que tudo indica, a paralisação de um grupo de caminhoneiros autônomos suspendeu o transporte e vem impedindo que as atividades comerciais e industriais ocorram normalmente. 

Por um lado, os proprietários de empresas transportadoras reclamam de ameaças e ações violentas que colocam em risco as frotas particulares das empresas e dos motoristas terceirizados que não aderiram ao movimento. Do outro lado, manifestantes que exigem um reajuste no frete de 15%, independente do acordo coletivo fechado entre o sindicato da categoria e as empresas transportadoras.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos do estado da Bahia (Sindicam/BA) Jorge Carlos da Silva, a entidade repudia os atos de vandalismo contra o patrimônio e os profissionais que estão trabalhando e não aceita os bloqueios realizados para impedir que as cargas circulem, mas lamenta a falta de entendimento entre as partes. “Solicitamos a intermediação do Ministério Público do Trabalho para intermediar esse impasse e só estamos aguardando uma posição do órgão”, afirmou Silva, reforçando que a paralisação traz prejuízos a todos.

A pontuação do representante do Sindicam se sustenta no fato de que a economia do estado passa pelo movimento dos portos, que respondem a 30% de todo o produto interno bruto do estado. 

Acordos Ceo da Logic, o empresário Francisco Snoeck afirmou que a paralisação e as ações ferem os acordos feitos desde a greve de 2018, quando após 15 dias de paralisação, as empresas transportadoras e os caminhoneiros pactuaram uma série de medidas para evitar novas paralisações. 

“Em março do ano passado, acordamos que adotaríamos um índice de reajuste anual, com data base em abril e que, para evitar prejuízos ainda maiores com a oscilação no preço do óleo diesel, sempre que houve um aumento no preço do combustível acima de 10%, acionaríamos um gatilho de reajuste da ordem de 3,5%”, esclareceu. 

O representante da Logic lembrou que em outubro de 2021, o repasse foi de 20% para minimizar os prejuízos com o aumento do diesel e que, em março desse ano, houve um novo reajuste de 10% no valor do frete. “Esse ano, os caminhoneiros pediram 27% de reajuste e mostramos que já havíamos feito a concessão de 30% no valor do frete”, completou.  Ações policiais pontuais tentaram coibir a violência na saída dos depósitos de containers, mas empresários denunciam violência cometida na madrugada (Foto: Acervo Pessoal) O representante da Multilog Nordeste Murilo Mello denuncia que a situação está insustentável pois, além dos danos ao patrimônio, com as ações de apedrejamento de veículos, as ameaças à integridade dos caminhoneiros, o movimento vem impossibilitando a entrada e saída dos containers nos depósitos em localidades como Valéria e Simões Filho. 

“A paralisação não é a solução para essa questão que é um reflexo do conflito entre Rússia e Ucrânia, que resvala no preço do diesel”, pontua Mello. 

Segundo ele, desde a última quarta-feira, 06, está conseguindo operar com escolta armada, que onera em mais de 100% as operações de transporte de carga. “Os poderes públicos precisam tomar uma providência, pois não é possível que a economia do estado fique refém desse tipo de ação”, desabafa. 

Violência e prejuízos O empresário Maurício Bezerra, da Ômega Logística, diz que ainda não parou para contabilizar os prejuízos da semana, mas reclama da intimidação feita aos motoristas que permanecem trabalhando e afirma que os representantes patronais realizaram três rodadas de negociação, tentando resolver a questão de forma rápida, sem a necessidade de intermediação de órgãos públicos. 

“Normalmente, atuamos com a própria frota e a contratação de terceirizados. Essas ações comprometem a segurança e a vida dos nossos colaboradores, pois se uma pedra dessas jogadas de cima dos viadutos atinge um motorista com o veículo em movimento a tragédia pode ser grande”, pontua. Alguns caminhões que saíram do Porto de Salvador foram atingidos com pedras jogadas do viaduto das proximidades, assustando os motoristas e trazendo prejuízos (Foto: Acervo pessoal) Sandoval Silva, da Pontual Logística, lamenta o endurecimento nas negociações e defende que a situação é uma chantagem que precisa ter fim. “Estamos todos preocupados e nos tornamos motivo de piada nacional porque as paralisações sempre ocorrem na Bahia, mesmo quando praticamos um frete acima da média nacional”, afirmou.  

Na última quinta- feira, a  Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport) encaminhou denúncia a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia solicitando a contenção dessas ações violentas. “Algumas ações foram feitas, mas o movimento continuou de modo difícil de identificar autores e não dá para acompanhar cada carreta e container”, finalizou o representante da Usuport Paulo Villa. 

Em nota, a SSP informou que "determinará à unidade da Polícia Militar, que atende na região do Porto de Salvador, atenção redobrada para impedir que novos ataques aconteçam e que a Polícia Civil analise as imagens de câmeras da região para identificar e prender os autores".