Câncer, depressão e memes: Conheça o homem por trás do Empadovo

Breno Sodré é natural de Taperoá, no sul baiano, e ficou famoso após produzir uma empada em forma de ovo de páscoa

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  • Gabriel Moura

Publicado em 17 de abril de 2019 às 11:00

- Atualizado há um ano

Tímido e observador, Breno esperava a equipe do BAZAR em frente ao portão de casa. Com um “olá” meio sem graça, nos cumprimentou e fez o convite para entrarmos. O semblante sério permaneceu intacto durante boa parte da conversa, mas foi interrompido por sorrisos, quando falávamos de duas de suas paixões: memes e  empadas.

Sua relação íntima com o salgado é logo denunciada ao entrar na casa. Além do cheiro impregnado no local, formas, fornos e embalagens estão espalhados por todos os lugares. O sobrenome do estudante de gastronomia, Sodré, teve o mesmo destino que o trema: caiu em desuso. Todos conhecem o jovem, de 22 anos, como ‘Breno da Empada’. 

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O  quitute lhe rendeu fama na Universidade Federal da Bahia (Ufba), onde estuda e vende a delícia. Praticamente, todos os estudantes  sabem da ‘Empada do Breno’. 

Nesta Páscoa, seu status de estrela ultrapassou os muros da faculdade e atingiu proporção nacional - tudo após criar o inédito Empadovo: uma empada gigante e em formato de ovo de Páscoa. 

A primeira foto publicada da obra-prima, no Insta (@empadadobreno), já passa das 6 mil curtidas. Na rede social, viu seu número de seguidores pular de 2 mil para 11 mil desde a postagem. Além de toda a repercussão online, Breno virou pauta em alguns dos maiores veículos do Brasil. Nesta páscoa o baiano fez uma empada em formato de ovo e viralizou (Foto: Renato Santana/CORREIO) Saúde abalada Esse sucesso repentino era inimaginável para o estudante há alguns meses. Principalmente por ter vivido uma das piores fases de sua vida. Em outubro de 2018, descobriu um câncer na tireoide. “Meu mundo caiu”, desabafou.

Para a alegria de Breno e de todos os amantes de sua empada, o caso não era grave e ele está praticamente curado após uma cirurgia. Mesmo assim, o tratamento continua e, por conta de uma reeducação alimentar compulsória,  teve que se afastar de suas criações por um período. “Fiquei quase seis meses sem comer empada”, lembra. 

O tratamento também fez com que Breno tivesse que recusar algumas oportunidades, como de ser garoto propaganda de uma rede de empadas do Sul do Brasil e uma participação em um evento no Rio de Janeiro. Lugares que o jovem nunca visitou. “Minha viagem mais longa foi para Paulo Afonso e foi um lixo”, brinca. 

Mas lamentação é uma palavra que não está em seu vocabulário. “Neste momento, preciso priorizar minha saúde. Eu tento pensar que, assim como eu não me imaginava, há  três meses, estar tão bem quanto estou agora, daqui a três meses  possa viver um estágio profissional ainda melhor”, conta.

Esperança e força de vontade, aliás, foram, durante muito tempo, difícil de  conquistar. Breno sofre de depressão desde os 13 anos. “Para um adolescente gordo e tímido como eu era, a não-aceitação dentro dos padrões da sociedade é algo horrível, e pesava muito contra a minha autoestima”, relata. 

Felizmente, ele está bem melhor. Muito disso, graças a empada. “O apoio da família também foi essencial, bem como os amigos”.

Sempre online Bem antes de viralizar na web, Breno já era  ativo nas redes.  O empadeiro posta sobre quase tudo. A única coisa que guarda segredo? A receita do seu quitute, guardada a sete chaves até de sua mãe.  A receita do empadovo ele não dá nem para a sua mãe (Foto: Renato Santana/CORREIO) Caseiro, também esconde seus dotes quando o assunto é paquera. Solteiro, diz que a fama ainda não deu uma guinada no seu número de pretendentes. “Nunca fiquei com ninguém por conta da empada”, conta.  Mas isso não é algo que o perturba. Ele repete o seu mantra: “Tenha paciência, Breno. O melhor ainda está por vir”. E, dessa maneira, o menino da empada leva a sua vida. 

*Com orientação da editora Paula Magalhães