Cardeal Dom Sergio preside Missa em memória de Madre Vitória da Encarnação

A religiosa, que nasceu e viveu em Salvador, teve o Processo de Beatificação e Canonização aberto em 2019

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  • Da Redação

Publicado em 19 de julho de 2021 às 21:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

Conhecida como a “terra de todos os santos”, Salvador recebeu, nesta segunda-feira (19), uma Missa em homenagem à Vitória da Encarnação, religiosa cujo processo de canonização foi instalado em 2019. A mais nova baiana rumo aos altares morreu com fama de santidade em 1715, em Salvador. O Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sergio da Rocha, presidiu a celebração pelos 306 anos da morte da religiosa. A Celebração Eucarística aconteceu no Convento Santa Clara do Desterro, onde Vitória da Encarnação passou os últimos anos de vida.

"Ela já é Serva de Deus, isso quer dizer que já se iniciou o processo de beatificação, processo em que será reconhecida e declarada beata, o primeiro grande passo para, depois, ser declarada Santa, na canonização. Nós temos procurado dar prosseguimento à esse processo, apesar da pandemia", disse o arcebispo.

O postulador da Causa dos Santos, frei Jociel Gomes da Silva, detalhou o andamento do processo de canonização. "Em 2019, com Dom Murilo, fizemos a abertura oficial do processo. Naquela ocasião, a primeira sessão do tribunal que acompanha a causa e anunciando a Comissão História que vai levantar a documentação a ser levada para Roma. Em 2020, paramos os trabalhos, mas agora, estamos retomando e a Comissão já voltou a trabalhar. Quando a documentação estiver pronta, teremos a sessão de encerramento e essa documentação será remetida à congregação da casa dos Santos, em Roma", afirma.

Para o reconhecimento da beatificação, um relatório está sendo preparado para provar a vida e a santidade de Madre Vitória para toda a comunidade católica.

História Madre Vitória da Encarnação nasceu em Salvador, em 6 de março de 1661, sendo batizada no mesmo ano, na antiga Sé da Bahia. Filha de Bartolomeu Nabo Correia e Luísa Bixarxe, ela teve um irmão e três irmãs. Em 1677, quando foi fundado o Convento Santa Clara do Desterro, sendo o seu pai muito devoto, quis que sua filha entrasse para a vida religiosa. Porém, então com 16 anos de idade, havia se tornado avessa à religião, chegando a dizer ao seu pai que preferia que lhe cortassem à cabeça do que ser levada para o convento.

Alguns anos depois, Vitória começou a ter frequentes sonhos com a Mãe de Deus e seu Divino Filho. Neles, a Santa Virgem lhe apresentava o Menino e chamava-a para a vida consagrada. Em outros momentos, Vitória via o Menino Jesus a colher flores no caminho para o convento e a chamava para lá. Tais sonhos se repetiram inúmeras vezes, porém, Vitória não quis seguir o que a Virgem e o Menino pediam. Até que após um novo sonho em 1686, quando tinha 25 anos, ela aceita se dedicar à vida religiosa. Naquele mesmo ano, em 29 de setembro, dia de São Miguel Arcanjo, Vitória foi acolhida no noviciado das clarissas do Convento do Desterro da Bahia e, juntamente com ela, foi acolhida também a sua irmã, Maria da Conceição. Recebeu neste dia o nome religioso de Vitória da Encarnação. Conforme seu desejo, fez profissão solene em 21 de outubro de 1687. Caridosa, desejou viver como uma escrava a adotou para si o estilo de vida das servas que viviam no mosteiro. Fazia suas refeições sentada no chão, como era costume entre os escravos da época. De acordo com o Igreja, foi por diversas vezes ridicularizada e agredida pelas próprias escravas. Cuidava daquelas que adoeciam, levando-as para sua própria cela até a cura. Entre as virtudes apontadas, em relatos, sobre a Madre Vitória da Encarnação, algumas se destacam. Uma delas era o dom que ela tinha de sonhar com as pessoas necessitadas e, em seguida, enviar ajuda. A Madre também era procurada quando as Irmãs do convento – enclausuradas – recorriam para encontrar objetos perdidos.

Madre Vitória morreu no dia 19 de julho de 1715. No momento de sua morte as religiosas disseram ter sentido uma maravilhosa fragrância de rosas a inundar as dependências do mosteiro. Ao se espalhar a notícia de sua morte, uma grande multidão se aglomerou diante do convento. Logo toda a cidade ficou a saber, pois diziam ter morrido a “santa da Bahia”. Muitos levavam lenços, medalhas, terços e outros objetos e pediam que as religiosas os tocassem no corpo da “santa”. Esses objetos eram guardados por essas pessoas e eram tidos como verdadeiras relíquias. Inúmeros foram os milagres narrados pelos devotos logo após a sua morte. Sendo crescente o número desses supostos milagres, o então arcebispo da Bahia tratou de interrogar as religiosas do Desterro sobre a vida que teve a Madre Vitória.

Em 1720, apenas cinco anos após a sua morte, Dom Sebastião Monteiro da Vide publicou, em Roma, a biografia da “santa da Bahia” com o título “História da Vida e Morte da Madre Sóror Victória da Encarnação”. 

Os restos mortais da Madre Vitória da Encarnação encontram-se na Igreja do Convento Santa Clara do Desterro, em Salvador, e estão depositados acima de uma das portas que ligam o coro de baixo à nave do templo.

Em 7 de julho de 2019, a Congregação para a Causa dos Santos emitiu o decreto “Nihil Obstat”, autorizando a abertura da causa de beatificação da Madre Vitória, que passou a ser chamada, a partir de então, de Serva de Deus Vitória da Encarnação. Em 19 de novembro do mesmo ano, o então Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, presidiu a cerimônia de abertura do Processo de Beatificação e Canonização, apresentando as Comissões que trabalharão no processo, bem como o postulador da Causa, Frei Jociel Gomes, OFMcap.