Já no dia 22, Carlos Bolsonaro fez um tuíte enigmático. “Começo uma nova fase em minha vida. Longe de todos que de perto nada fazem a não ser para si mesmos. O que me importou jamais foi o poder. Quem sou eu neste monte de gente estrelada?”
Seria mais uma indireta ao general?
Partindo para a abordagem direta
Se esses dois tuítes de Carluxo realmente são indiretas para Mourão, é difícil confirmar. Fato é que no dia 23, o ‘zero dois’ começou a citar o vice-presidente de maneira direta.
Primeiro ele compartilhou um print no qual Hamilton curte um tuíte da jornalista Rachel Sheherazade em que ela exalta o general e critica o capitão. “Tirem suas conclusões”, disse ele.
Neste dia, Carluxo realmente estava sem papas na língua, ou melhor, nos dedos, já que os ataques sempre partiam das redes sociais. Além do tuíte mencionando Rachel, foram outros três ataques a Mourão via Twitter. “Nunca foi por briga e sim pela verdade!”, garantiu o vereador.
Primeiro, num tuíte (com errinhos de digitação), ele compartilhou o anúncio de uma palestra que Mourão fará nos Estados Unidos. Nele, é dito que o vice é uma voz de “razão e moderação” dentro de um governo “marcado por paralisia política, em grande parte devido a crises sucessivas geradas pelo próprio círculo interno de Bolsonaro”.
“Tradução ‘do que parece ser’ um convite ao vice presidente para palestra nos EUA convidados. Se não visse não acreditaria que aceitou com tais termos (que pode ser conferido no próprio site da empresa) / já que desta vez não se trata de curtida vamos ver como alguns irão reclamar”, ironizou Carluxo.
Logo após ele compartilhou uma entrevista na qual Mourão se diz feliz pela população venezuelana não estar armada na crise que o país passa. Carlos detonou a entrevista, que chamou de “pérola”, e disparou: “quando a única coisa que lhe resta é um suspiro de vida”.
Depois, mostrou que, apesar de ser se sagitário (signo que costuma perdoar com facilidade), ele guarda rancor. Carluxo lembrou de uma entrevista dada pelo ‘tal de Mourão’ (como se referiu a ele no tuíte) na época da longínqua campanha presidencial de 2018, quando seu pai foi atingido por uma facada. Na época, o então candidato a vice disse que estava na hora de “acabar com a vitimização”.
“Naquele fatídico dia em que meu pai foi esfaqueado por ex-integrante do PSOL e o tal de Mourão em uma de suas falas disse que aquilo tudo era vitimização. Enquanto um homem lutava pela vida e tentava impedir que o Brasil caísse nas garras do PT, queridinhos da imprensa opinavam”, disse ele, exaltando Jair.
Já no dia 24, número um tanto quanto evitado pelo clã Bolsonaro, Carlos continuou ironizando opiniões e posições tomadas por quem chamou, ironicamente, de “O Culto”. Primeiro o “não comentário” do vice-presidente sobre a redução da pena de Lula. Depois uma crítica que o general fez a “despetização” produzida pelo ministro com nome de chuveiro, Onyx Lozenzoni. Para finalizar, a lamentação de Hamilton por Jean Wyllys ter saído do Brasil por medo de ataques.
“Estranhíssimo seu alinhamento com políticos que detestam o Presidente. Qualquer um sabe que Jean ‘Willians’ não saiu do Brasil por perseguição, mas por uma esperta jogada política cultural. Lembro que não estou reclamando do vice só agora ‘e tals’... são apenas informações! Não ataco ninguém, são apenas fatos que já aconteceram e gostaria de continuar compartilhando com os amigos!”, disse Carlos.
No mesmo dia, Carluxo resolveu compartilhar alguns vídeos e outros quetais. Primeiro, retuitou uma informação trazida por um jornalista da Rádio Jovem Pan que falava as ambições presidenciais de Mourão. Depois, dois comentários feitos pelos canais do YouTube ‘Vista Pátria’ e ‘Bernardo P Küster’, que atacavam o vice e defendiam o vereador.
Todavia, Carluxo garantiu que, com essas farpas, não pretende tirar Mourão do cargo. “Dou gargalhadas quando algum ser tenta induzir que busco IMPEACHMENT de quem quer que seja! Informar e mostrar a verdade de POSICIONAMENTOS INADEQUADOS e ANTERIORES a qualquer crítica por mim revelada virou motivo para distorções e fakenews. Palavra acima jamais citada por mim”, tuitou ele com bastante ênfase e entusiasmo.
Por fim, nesta quinta (25), Carlos Bolsonaro tuitou a sua última declaração sobre o caso. Ele deu um ‘RT’ numa postagem de Bernardo Küster (um blogueiro de direita), que trazia uma notícia onde Levy Fidelix (aquele do ‘aparelho excretor não reproduz’), presidente do PRTB, partido de Mourão, comentava o papel do vice no Governo Bolsonaro.
“Esta cartinha está até bem elegante. O que se vê desde a época da transição é um “interesse” “crocodilal” em situações desnecessárias. Aos que pedem para eu parar, digo que se informar ou não é uma escolha e estamos todos no mesmo barco chamado Brasil, mas nos recuperando”, disparou Carluxo.
Resposta de Mourão
Na última terça, Mourão comentou o babado envolvendo ele o filho do presidente. Se esquivou e tentou colocar panos quentes na discussão dizendo que evita conflitos. “Todo mundo emite a sua opinião. A minha mãe sempre dizia uma coisa: ‘Quando um não quer, dois não brigam’. Vamos manter a calma. Ainda não conversei com Jair sobre este assunto, mas ele provavelmente tem uma de pensar sobre o assunto. Filho é filho”, afirmou.
Ataques a Olavão
Não se sabe quando as desavenças entre Carluxo e Mourão começaram. Mas a faísca que deu início a todo o quiprocó foram os ataques do general ao filósofo, escritor, ensaísta, ideólogo, influenciador digital, professor, pensador, jornalista e astrólogo Olavo de Carvalho. E foi, justamente, pegando gancho nesta última atividade exercida pelo multifacetado Olavão que Mourão embasou seu contra-ataque.
“Ele deve se limitar a função que ele desempenha bem, que é a de astrólogo. Olavo pode continuar prevendo as coisas, nisso ele é bom”, disse Mourão no último dia 22.
Esta bordoada aconteceu após o principal guru de Bolsonaro criticar a atuação dos militares no atual governo, num vídeo, compartilhado no Twitter de Jair (que curiosamente, ou não, é gerido por Carluxo). No material, Olavo diz que os militares precisam ser “trancados no cofre”.
“Os milicos têm que começar por confessar os seus erros antes querer corrigir os erros dos outros. Essa é a lei de Cristo. Primeiro os teus pecados, depois os do vizinho. Mas no Brasil não, todo mundo é assim: ´somos os patriotas, os heróis, salvamos o Brasil do comunismo, nós isso, aquilo´. Tudo conversa mole. Quem salvou o Brasil do comunismo foram as lideranças civis em 1964”, atacou Olavo.
Depois, ele também criticou a atuação dos Colégios Militares. “Qual foi a última contribuição delas para a alta cultural nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então foi só cabelo pintado e voz empostada. Cagada, cagada. Esse pessoal subiu ao poder em 1964, destruiu os políticos de direita e sobrou o quê? Os comunistas”, continuou Olavo.
No mesmo dia da declaração polêmica de Mourão em relação à Olavo, Carlos se posicionou ao lado do astrólogo. “Ele é uma gigantesca referência do que vem acontecendo há tempos no Brasil. Desprezar isto só têm três motivos: total desconhecimento, se lixando para os reais problemas do Brasil ou acha que o mundo gira em torno de seu umbigo por motivos que prefiro que reflitam”, tuitou ele sobre Olavo.
Se toda esta treta, recheada de ataques e ‘pitís’ vai continuar, não sabemos. O que nos resta é continuar ligados, aguardando os próximos capítulos desse ‘Caso de Família’ e agregados.
*Com supervisão do editor João Galdea.