Casa da Mulher Negra da Bahia recebe delegação da ONU

Consultora de Direitos Humanos norte-americana, Salimah Hankins esteve presente com mais 25 integrantes

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  • Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paula Fróes/ CORREIO

Acolhimento, afetividade, ancestralidade e uma nova oportunidade de reconhecer o potencial que lhes foi tirado. É o que as mulheres negras vítimas de violência encontram ao chegar na Casa da Mulher Negra da Bahia (CMNB), um cuidado que, não é de hoje, está presente principalmente nas brasileiras.

Na quarta-feira (3), este cuidado se tornou ponte para apresentar o que é feito aqui para a delegação da ONU, liderada pela advogada e consultora de Direitos Humanos norte-americana, Salimah Hankins, durante um encontro no espaço para também discutir o Programa de Apoio Psicossocial às Mulheres Negras Vítimas de Violência, elaborado pela Rede de Mulheres Negras da Bahia (RMNBA), responsável pela gestão da casa.

“Antes da pandemia a gente teve um bate-papo muito bom com Patrícia Hill Collins, e ela fala que nos Estados Unidos não existe uma articulação e um movimento de mulheres como nós temos aqui. Temos aqui o que ela chama de afetividade do cuidado. A gente fala da nossa ancestralidade e dessa proteção que a mulher negra sempre teve com outras mulheres negras e que passa das fronteiras da casa”, conta a integrante da Rede de Mulheres Negras da Bahia e coordenadora da CMNB, Lindinalva de Paula. 

Patricia Hill Collins é norte-americana socióloga e professora, considerada uma das mais influentes pesquisadoras do feminismo negro nos Estados Unidos. Sua presença, anterior a da delegação da ONU Mulheres, despertou no coletivo algo que foi destacado novamente por Salimah Hanks durante sua primeira visita à Casa da Mulher Negra da Bahia: como a articulação das mulheres negras na Bahia e em todo país vai além dos encontros de luta.   “O trabalho feito aqui é muito importante para a comunidade negra. Em meu trabalho, as pessoas estão muito bem articuladas para lutar, mas o trabalho que vocês fazem além disso, de acolher as pessoas, dar apoio social, amor, orientação, é algo que me agrada muito, e lá não temos isso”, destaca a consultora de Direitos Humanos.

A Rede Nacional de Mulheres Negras já faz parte da Comissão de Combate a Violência Racial da ONU, mas o encontro foi promovido graças a professora de dança Tania Santiago. Soteropolitana, ela vive na Califórnia há 20 anos dando aulas para a comunidade negra e latina do local e uma dessas alunas é Salimah Hankins. 

Conversando com a consultora a ONU, ela percebeu que poderia colocar em prática um desejo antigo: “Trabalhar com a comunidade negra de Salvador, minha comunidade, e fazer eles entenderem o que é Salvador, porque muita gente acha que o Brasil é apenas sombra e água fresca”, conta. 

Durante a visita, ela, Tania e outros 25 integrantes da ONU Mulheres discutiram sobre formas de apoio à mulher negra e conheceram o espaço que as acolhe nos momentos mais difíceis. O local conta com dois andares. No térreo, fica a sala de recepção, uma sala de artesanato, banheiro e cozinha para uso coletivo. No segundo andar, há os 20 dormitórios, uma biblioteca e outra sala de atividades. 

Além de acolher, a Rede também articula 12 agrupamentos de mulheres negras, localizados na capital e em nove cidades do interior do estado. A ativista quilombola do Recôncavo da Bahia, integrante da Rede de Mulheres Negras e coordenadora geral do Coletivo de Mulheres Negras do Engenho da Ponte, Maria Abade é uma delas e esteve presente no encontro. 

“Hoje a rede é um divisor de águas para a nossa articulação. Antes a gente tinha muita dificuldade de nos articular, tinha apenas as mulheres da comunidade, cerca de 48, e agora estamos juntas com mulheres de diversas regiões, trabalhando para garantir acolhimento e mais espaços para todas nós”.  

Silvana Veríssimo, integrante da Rede Nacional de Mulheres Negras, destaca a importância do coletivo baiano como parte da instituição. “Quando você tem uma casa da Mulher Negra como essa, aqui em Salvador, é um diferencial, porque muitas vezes essa é a única porta que se abre para elas”, afirma.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo