Casas de 15 localidades de Salvador serão abertas para combate à dengue

Secretaria Municipal de Saúde começou a ação de abertura de imóveis abandonados na última sexta na Barra; calendário segue até outubro

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  • Da Redação

Publicado em 25 de julho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Até o mês de outubro, 15 localidades de Salvador vão receber uma operação especial da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para combater os focos do mosquito Aedes aegypti: a abertura de imóveis fechados ou abandonados com a ajuda de um chaveiro e de guardas municipais. A ação começou na sexta-feira passada, na Barra, e continuou, ontem, na Pituba. O cronograma segue até 18 de outubro (veja abaixo).

Na sexta-feira (19) foram abertas duas casas na Barra. Nesta terça (24), mais duas na Pituba. Em todos os casos, os agentes já vinham tentando contatar os proprietários em dias e turnos alternados. De acordo com a subcoordenadora de arboviroses do Centro de Controle de Zoonoses de Salvador (CCZ), Isolina Miguez, pelo menos nove focos foram encontrados nas residências da Pituba. Até o fechamento desta reportagem, a SMS não havia divulgado um balanço final da ação.

A assistente social Maiana Vilar, 30 anos, mora na região das casas visitadas nesta quarta-feira. Ela afirmou ter tentado entrar em contato com o dono de um dos imóveis abandonados, mas não obteve sucesso.“Para dormir, só com o uso de repelentes, porque os mosquitos são insuportáveis. Inclusive, minha mãe já pegou Chikungunya”, relatou.Ambos os bairros fazem parte do distrito sanitário Barra/Rio Vermelho, que está em estado de alerta para as doenças transmitidas pelo Aedes - com um índice de infestação entre 1% e 3,9%. Além destas localidades, os agentes também vão, em conjunto com o chaveiro e a Guarda Civil Municipal, para as seguintes localidades: Rio Vermelho, Costa Azul, Stiep, Pituaçu, Boca do Rio, Armação, Castelo Branco, Vale dos Lagos, Uruguai, Caminho de Areia, Vila Ruy Barbosa e Avenida Vasco da Gama. Após vistoria e remoção de focos do mosquito, chaveiro fecha imóvel (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Na Bahia, a dengue já é uma epidemia este ano, que matou 23 pessoas. Os mais de 44 mil casos estão distribuídos em 362 municípios e significam um aumento de mais de 600% em relação ao ano passado. Em Salvador, foram 2.374 casos de dengue, com duas mortes; 200 de chikungunya, sem óbitos; e 75 de zika, também sem mortes.

A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador aponta que o número de casos suspeitos de dengue chega a 1.934. Em relação ao mesmo período de 2018, foram 1.824, o que representa crescimento aproximado de 30%. Nos casos de chikungunya, há aumento de  38%. Na zika, houve queda. 

Organização da ação Por ser uma ação em prol da saúde da comunidade, os agentes não precisam de liberação judicial para abrir as casas abandonadas ou fechadas. Isolina explica que o órgão tem o respaldo da lei de amparo legal para abertura e fechamento de imóveis abandonados, que permite que a casa seja aberta.“A gente abre, a guarda municipal entra, verifica a condição, os agente entram. Ao acabar o chaveiro fecha de novo”, explicou Isolina. Moradora vizinha de um imóvel inspecionado ontem, a aposentada Maria José da Silva, 61, contou que no local funcionava uma escola de balé, que fechou as portas há cerca de 10 anos. “O dono da casa sumiu, nunca aparece por aqui. Só deixou a sujeira e, agora, ladrões e usuários de drogas usam o espaço para cometer seus atos e se esconder. Às vezes, nós pagamos a alguém para fazer uma limpeza e evitar os mosquito”, disse. Moradora afirma que um dos imóveis vistoriados nesta quarta-feira (24) está abandonado há cerca de 10 anos (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Com a cidade de Salvador em estado de alerta para a emergência de arboviroses, é cada vez mais importante que os moradores se atentem aos focos de mosquito dentro de casa. A subcoordenadora aponta que 90% dos pontos que podem evoluir para criadouros do mosquito se encontram em imóveis privados. Para auxiliar a ação dos agentes, as pessoas devem denunciar locais com possíveis focos de água parada. 

A secretaria também guia sua ação de combate pelas denúncias dos moradores da região. Para indicar um possível foco do mosquito, a população deve ligar para o Fala Salvador, por meio do Disque Salvador, no telefone ramal 156.

“As pessoas ligam para fazer a denúncia e os agente vão ao local. Eles fazem a inspeção e uma ação educativa. A gente recebe a quantidade de denúncia que vai chegando. Com um denúncia, os agentes já são encaminhados ao local”, explicou Isolina.

Além das denúncias, a seleção dos locais a serem visitados também é feita a partir de observação dos agentes em campo. Se uma casa for visitada mais de três vezes sem uma resposta dos moradores, o local é incluído na lista de vistoria. Caso uma localidade tenha muitas pessoas contagiadas com as arboviroses, os agentes também são encaminhados para o bairro. Guarda Municipal presta apoio nas ações de abertura de imóveis abandonados (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Risco de infestação O bairro da Pituba é um dos apontados como área de risco para a presença do Aedes Aegypti, ou seja, tem mais de 3,9% de indicador de infestação. O maior índice é o do Subúrbio (4,1%). Os dados do último Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa), publicado em abril deste ano, apontam ainda 41 localidades passaram a ser área de risco. Um aumento na comparação com o relatório de janeiro, que apontou que 16 bairros faziam parte da lista, mas uma redução ante o mesmo período do ano passado, quando eram 52 localidades com perigo de infestação.

Atualmente, são consideradas áreas de risco os seguintes bairros: Lagoa da Paixão, Valéria II, Alto do Cabrito, Bela Vista do Lobato, Boa Vista do Lobato, Campinas de Pirajá, Marechal Rondon II, Pirajá II, Bairro Guarani, Liberdade II, Liberdade I, Calabar, Chame-Chame, Engenho Velho da Federação I, Jardim Apipema, Ondina, Federação I, Amaralina, Caminho das Árvores, Itaigara, Pituba, Rio Vermelho, Nordeste de Amaralina, Cassange, Nova Esperança, Tancredo Neves II, Lobato, Plataforma II, São João do Cabrito, Escada, Praia Grande II, Rio Sena, Mirante de Periperi, Nova Constituinte, Fazenda Coutos, Coutos I, Vista Alegre, Coutos II, Paripe I. Alguns bairros são divididos para facilitar o trabalho de campo, segundo a SMS. 

Ações futuras O Centro de Controle de Zoonoses de Salvador dá atenção prioritária à emergências de Arboviroses na cidade, aponta a subcoordenadora Isolina Miguez. Para inibir os casos das doenças, os agentes fazem bloqueios ampliados, quando vários casos são atendidos em uma localidade. Atualmente, a SMS foca as ações na Federação, Boca do Rio, Vila Canária, no Curuzu e em algumas localidades do subúrbio ferroviário, informa a subcoordenadora.

Isolina explicou que os agentes vão visitar o bairro Alto da Terezinha nesta quinta-feira (25). Já na próxima terça (30) e quarta-feira (31), oito agentes vão atuar no combate ao mosquito nas ilhas de Paramana e Bom Jesus do Passos. Nas localidades, são crescentes os casos de pessoas infectadas com arboviroses.

Na semana passada, a ação de varredura ocorreu nos seguintes bairros: Boca do Rio, Liberdade, Federação, Pau da Lima e Ilha de Bom Jesus dos Passos. Nas vistoria, foram visitados cerca de 15 mil imóveis. Ainda foram identificados e eliminados aproximadamente 476 focos do mosquito e mais de 4,4 toneladas de lixo e materiais inservíveis recolhidos com o apoio da Limpurb.

Estratégias O apoio da população, com denúncias de locais com água parada e atenção nas suas casas, é fundamental. A Secretaria Municipal de Saúde também têm estratégias para combater o mosquito nas ruas e nas casas.

Além das visitas trimestrais e da educação da sociedade, a SMS ainda recorre a armadilhas letais contra o inseto para auxiliar o trabalho dos agentes. Vão ser instaladas 10 mil arapucas para o Aedes em locais estratégicos dos bairros de São Caetano e Valéria. Em forma de funil, o equipamento não permite que os ovos do mosquito cheguem a superfície da água fazendo com que as larvas não crescam. Os locais de instalação das armadilhas ainda vão ser definidos.

O único bairro em situação de risco, o Subúrbio Ferroviário, já conta com esse reforço na luta contra as arboviroses. Na localidade, foram instaladas 5 mil armadilhas no mês de maio. A instalação foi feita pelo Senai Cimatec.

Como identificar as doenças

A infectologista Leila Azevedo aponta que a dengue, a Zika e a Chikungunya são as três principais enfermidades transmitidas pelo inseto. Apesar do mosquito também transmitir a febre amarela, a médica explica que o inseto também pode ser um vetor para a Febre Amarela, apesar de não ser o único transmissor. Azevedo indica, entretanto, que a doença é quase inexistente no estado - foram nove casos na bahia e apenas um na capital, aponta o boletim epidemiológico da enfermidade de 2019.

Por serem doenças virais, a infectologista aponta que os sintomas de todas as três enfermidades transmitidas pelo Aedes Aegypti são parecidos, com a incidência de febre, dor muscular e dor no corpo. Mesmo com a semelhança dos sinais, é possível identificar o mal.

Quem tem dengue comumente apresenta febre muito alta, dor de cabeça e dor na região dos olhos. Ainda há a possibilidade de aparecerem manchas na pele. A médica ressalta ainda que a doença pode evoluir para uma hemorragia, o que torna o caso mais grave pela queda muito grande do número de plaquetas. Nesse caso, a pessoa pode morrer sem o acompanhamento hospitalar.

Um indicativo do Zika Vírus é o aparecimento de manchas no corpo, com a possibilidade de haver coceira. O paciente também pode ter febre. Apesar de ser uma enfermidade branda, o quadro pode se complicar em mulheres gestantes, já que o vírus pode causar má formação no feto, como os casos de microcefalia.

Já o paciente com Chikungunya pode apresentar febre e dores no corpo, mas os principais sintomas são as dores nas articulações, principalmente nas mãos, com a possibilidade de inchaço nesta parte do corpo. A maior complicação desta enfermidade é a duração dos problemas nas articulações, que podem causar até uma limitação para trabalhar.

De acordo com a infectologista, no casos das três doenças, há suporte para lidar com os sintomas. Ela aponta que a recomendação é de que o paciente com dengue, zika ou chikungunya se hidrate, permaneça em repouso e tome analgésicos para amenizar a dor. Azevedo ainda ressalta que, em caso de dengue hemorrágica, o paciente deve ficar hospitalizado para acompanhamento médico.

Clique para baixar calendário para abertura de imóveis fechados ou abandonados.*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier