Casas de Jorge Amado, Zélia e Vinicius guardam memórias e afetos

Visitantes veem criações de ilustres artistas que ornam a casa além de numeroso acervo da cultura popular

  • D
  • Da Redação

Publicado em 29 de março de 2022 às 06:05

. Crédito: .

A canção de Vinicius de Moraes e Toquinho diz que é bom passar uma tarde em Itapuã. Agora, imagine como seria passar uma noite em Itapuã, exatamente no mesmo quarto e na mesma cama onde o Poetinha dormiu por anos ao lado da amada, a atriz Gessy Gesse... um sonho, não é? E, se quiser completar a dose de romantismo, que tal namorar no mesmo banco onde Jorge Amado e Zélia Gattai passavam tardes românticas, na casa onde eles viveram, no Rio Vermelho?A casa de Vinicius continua erguida e, desde 2014, está aberta ao público gratuitamente para visitas. Hoje, integra a Casa Di Vina Boutique Hotel, em Itapuã.

Mas mesmo quem não é hóspede também pode visitar e conhecer um pouco da intimidade do Poetinha, porque ali estão muitos itens que já foram dele, incluindo alguns documentos, as contas de Oxalá e Xangô que ele um dia usou e a máquina de escrever em que registrava seus poemas.A máquina de escrever de Jorge Amado também está na Casa do Rio Vermelho, na sala onde ele costumava ficar para controlar tudo que acontecia por ali.

Maria João Amado, neta do casal, lembra bem do escritor na sala: “Meu avô sempre foi comandante, trabalhava na sala porque gostava de saber tudo que acontecia ao redor. Se tocava o telefone, ele queria saber quem era. Se tocava a campainha, logo perguntava quem estava chegando”. Também na sala está uma cadeira onde o casal costumava sentar.

O banco de Zélia e Jorge, onde eles namoravam no jardim, é com mosaico de azulejos, mantido em seu desenho original. Tem outro banco ao lado do jambeiro. Maria João garante que os frutos são muito saborosos: não à toa, quando criança, ela os disputava com os micos. “Conheço aquela casa do chão ao teto. Subi em todas as árvores, aprendi a nadar naquela piscina e fui a muito almoço lá nas ‘domingueiras’, quando eles recebiam os amigos”. Ali, entre as árvores, estão as cinzas de cremação do casal. Casa do Rio Vermelho (Foto: Marina Silva) Na cama de Vinicius Se o banco era o ponto de namoro de Zélia e Jorge, por outro lado, Vinicius e Gessy gostavam era da banheira. Gessy não fazia questão da banheira, porque, para ela, a casa seria mais simples. Mas o poeta conseguiu dobrar a companheira e ela acabou cedendo. Aliás, quem era capaz de resistir à sedução e aos desejos de Vinicius?

Embora a banheira hoje não seja a mesma onde Vina - como era chamado pelos mais íntimos - relaxava, ela fica no mesmo lugar que o poeta sempre desejou, com direito a “vista pro mar”. Sim, enquanto muita gente sonha com um apartamento de frente para o oceano, Vinicius queria mesmo era poder tomar seu uísque deitadinho, imerso na água que só ele sabia ajustar à temperatura de seu gosto. Dali, ele não levantava por nada, nem para abrir ou fechar a torneira. “Com o pé mesmo, ele se esticava e fechava”, lembra Gessy.

Ali no quarto está a cama do casal, que voltou ao local depois de uma pequena saga e uma boa dose de coincidência. E essa história precisa ser contada. Os proprietários do Casa Di Vina conheciam um corretor de imóveis que um dia ligou pra eles, mas não era para vender nem comprar uma casa. Ao contrário: no lugar de um imóvel, o que ele oferecia era um móvel, como lembra Luisa Prosérpio, uma das sócias do hotel: ”Ele ligou pra gente dizendo que conhecia uma senhora que afirmava ter a cama que um dia foi de Gessy e Vinicius. E que aquela mulher estava vendendo sua casa e queria passar a cama para alguém”, conta.

Ainda meio incrédulos, os proprietários foram à casa onde a cama estava, no Horto Florestal, mandaram uma foto para Gessy e, para felicidade e surpresa geral, estava confirmado: a cama, de ferro, era mesmo aquela em que um dia o casal dormiu. E que hoje está no Casa Di Vina à disposição de quem quiser passar uma noite ali. E que estiver disposto a pagar a partir de R$ 700 para isso. Além da suíte, há outros dois quartos disponíveis para hospedagem na casa de Vinicius, com diárias a partir de R$ 300.

Sapos de estimação Na Casa do Rio Vermelho não é possível dormir na cama de Zélia e Jorge, mas ela está lá no quarto que todos podem conhecer. O local é chamado Amores e Amantes Amadianos e tem quadros de Calazans Neto, Carybé e Floriano Teixeira, entre outros. Gabriela e Nacib são alguns dos personagens retratados nesses quadros.

Mas não são só as criações de ilustres artistas que ornam a casa: o visitante vai conhecer também um impressionante e numeroso acervo da cultura popular, às vezes criado por artistas anônimos, mas que, nem por isso, deixavam de ser admirados por Jorge e Zélia. Segundo Maria João, são mais de dois mil itens espalhados pela casa, que o casal ia adquirindo durante as viagens pelo Brasil e por outros países. Cama de Vinicius (Foto: Marina Silva) Jorge tinha uma mania peculiar: a de colecionar reproduções de sapos, confeccionadas à mão ou industrialmente. Hoje, estão todos espalhados pela casa e especialmente no Lago dos Sapos, onde antes havia uma piscina. E, como Vinicius, Jorge Amado era um amante dos orixás. Por isso, não podia faltar na do Rio Vermelho um espaço dedicado à religião de matriz africana, chamado Jorge e o Candomblé.

O escritor, que era obá do terreiro Ilê Axé Apô Afonjá, ganhou um depoimento inédito de Mãe Stella de Oxóssi, que pode ser visto pelo visitante. Nele, a ialorixá fala sobre a amizade com o criador de Gabriela e sobre os fundamentos do candomblé.

Jorge e Vinicius tinha outra paixão em comum: uma boa comida. Por isso, no Rio Vermelho há dois espaços dedicados à gastronomia: Os Amados Sabores de Jorge e Cozinha de Dona Flor. Num deles, a quituteira Dadá ensina receitas das delícias que estiveram em livros como Dona Flor. Tem bolinho de estudante, vatapá, caruru, acarajé e outras especialidades baianas.

Lá do outro lado, em Itapuã, no restaurante do Casa Di Vina, você pode se deliciar com um prato e uma bebida que estavam entre os favoritos de Vinicius: o drinque Tarde em Itapuã e o Frango à Gessy Vina. Os dois eram divinamente preparados por Gessy, que passou a fórmula para a chef do restaurante, Maria dos Santos. O drinque é preparado com sorvete de coco e vodca e o frango vem envolto em banana da terra, acompanhado por uma porção de arroz.

Casa do Rio Vermelho Onde: Rua Alagoinhas, 33, Rio Vermelho Funcionamento:  Terça a domingo, das 10h às 18h Ingresso:  R$ 20 | R$ 10. Grátis às quartas

Casa Di Vina Boutique Hotel e Restaurante Onde:  End: Rua Flamengo, 44, Itapuã Funcionamento : todos os dias, 12h às 23h Ingresso: gratuito  Para conhecer a casa de Vinicius, recomenda-se consultar antes, pois a suíte pode estar ocupada por hóspedes. Tel: 3285-7339

Conheça também: Casa Chico e Alba Liberato Faça um tour virtual em 360º pela casa do casal e conheça o ateliê do artista que criou a animação Boi Aruá. Durante o passeio, o visitante verá também inúmeros trabalhos do artista, pendurado nas paredes da casa. Na sala, há até um belo presépio feito em argila. Veja o quarto do casal e até as roupas de Chico penduradas em um cabide. Ali, também tem um belo Retrato de Alba em aquarela, que Chico pintou em 1965, quando se casaram. Site: https://www.chicoliberato.com.br/casachicoealbaliberato/ Visita: É necessário marcar pelo site, no espaço Entre em ContatoO Aniversário de Salvador é um projeto do Jornal Correio com patrocínio do Hospital Cárdio Pulmonar, Wilson Sons, Salvador Bahia Airport e Unifacs, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, FIEB e Sebrae, apoio de Suzano, Abaeté Aviação, Sotero, Shopping Center Lapa, Jotagê, AJL, Comdados.