CDL Salvador contesta pesquisa que aponta crescimento de 9,5% nas vendas de Natal

Entidade afirma que levantamento destoa de pesquisas com credibilidade no país

Publicado em 6 de janeiro de 2020 às 19:56

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Divulgação

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL) contestou os dados divulgados pela Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), apresentados no dia 26 de dezembro, que apontam um crescimento de 9,5% nas vendas no Natal deste ano comparadas às de 2018. De acordo com o vice-presidente da CDL Salvador, Felipe Sica, a pesquisa possui uma base de dados frágil e destoa dos índices indicados por outras entidades.

“Outras pesquisas já foram divulgadas em relação a fluxo de clientes no período e eu diria que a Alshop foi irresponsável em divulgar o dado que não tem uma base sólida. O dado ainda foi divulgado no dia 26 de manhã. É impossível consolidar todos os dados após um Natal que se encerrou dia 24”, explica Sica.

A CDL ainda não concluiu um levantamento próprio, mas indica duas pesquisas que considera mais próximas à realidade. Uma delas é o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), da empresa de serviços financeiros Cielo. A entidade aponta um crescimento do faturamento de 3,7% do Natal de 2019 (19 a 25 de dezembro) e o mesmo período de 2018. A Bahia ocupa a 11ª posição na lista de estados com o maior aumento nos rendimentos, com uma taxa de 0,7%. Os valores são nominais, o que quer dizer quer que não foi descontado o percentual da inflação.

Já uma sondagem da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos) com os seus associados aponta que 70% dos membros da entidade afirmaram que as vendas natalinas de 2019 foram iguais ou piores do que as de 2018. Apenas 30% disseram que as vendas melhoraram.

Para a Ablos, a informação divulgada de que houve crescimento de 9,5% é uma mera estimativa, sem amparo em pesquisa ou fonte de credibilidade que dê suporte a tal afirmação. Mais de 90 marcas, 350 lojas de rua e 2.150 lojas de shopping fazem parte da Ablos.“Esses dois dados são bastante fiéis e casam com as consultas que a CDL fez informalmente com os associados”, diz o vice-presidente da entidade.De acordo com informações colhidas pela CDL Salvador, inclusive com parceiros de outras cidades do Nordeste, não houve filas expressivas nem nas lojas maiores no período de Natal.

A Alshop ainda aponta que houve um crescimento nominal de 7,5% no desempenho anual de 2019 no varejo. Em resposta aos questionamentos das entidades, a Alshop enviou uma nota de esclarecimento ao CORREIO na qual aponta que os dados divulgados são frutos de um trabalho contínuo da entidade com seus associados. “A pesquisa é feita por amostragem para chegar aos números divulgados pela grande imprensa”, ressalta.

A associação aponta que dados das principais entidades de representação do comércio corroboram com a estatística. A nota não cita quais pesquisas possuem dados que suportam o que foi divulgado pela associação.

“Desde a sua fundação, a Alshop tem feito um intenso trabalho de representação junto aos seus associados em todos os estados do Brasil nesses 25 anos de atuação. A representatividade da Alshop tem credibilidade fruto dos resultados de um trabalho focado em geração de negócios, atuando em prol do varejo com importantes conquistas ao longo do tempo e, mais recentemente, atuado como membro da diretoria ao lado da UNECS - União Nacional das Entidades de Comércio e Serviços, participando de discussão pelas reformas propostas pelo Governo para dinamizar a economia e o crescimento do varejo do Brasil”, pontua a Alshop, em nota.

Expectativa para o Natal A CDL Salvador aponta que o comércio se preparou para uma melhora no movimento deste ano, entretanto as vendas não corresponderam às expectativas. Para o vice-presidente da entidade, o consumo tem caído em dezembro devido a Black Friday e a crise econômica.

De acordo com Sica, o brasileiro não tem renda para fazer compras na Black Friday, em novembro, e manter o consumo em dezembro, além disso, há um movimento de antecipação das compras de Natal na Black Friday. Ainda segundo Sica, a Black Friday de 2019 foi a maior dos últimos tempos.

Pode parecer que a antecipação da compra não interfere no rendimento das lojas, mas não há um equilíbrio nos lucros devido aos gastos dos lojistas em dezembro. No último mês do ano há uma contração maior de funcionários temporários, aumento do estoque e a cobrança do 13º aluguel em grande parte dos shoppings, indica o vice-presidente da CDL.“A loja se prepara para atender a uma quantidade de pessoas, mas isso não acontece”, explica. “O 13º aluguel era uma forma dos shoppings participarem dos lucros de dezembro, quando a venda dobrava em comparação com os meses normais. Mas isso não ocorreu”, comenta.O Natal ainda é a data mais importante para o varejo, entretanto, o perfil do consumidor vem mudando, aponta Sica. “O valor que a pessoa gasta vem caindo. Isso faz com que o varejo físico precise fazer uma reflexão de como se comportar no próximo Natal. É necessário se planejar melhor” pontua.

O ICVA, da Cielo, aponta que o ticket médio no Natal foi de R$ 94 no setor varejista. Nos E-Commerce o valor médio foi de R$ 306 e no varejo físico o ticket foi, em média, de R$92.

Apesar da discrepância entre as vendas online e física, o vice-presidente da CDL ressalta que o varejo como um todo sofre queda, em especial, devido à Black Friday. “O varejo online cresce de forma bastante forte e robusta há vários anos, é um crescimento descolado do varejo físico. Não há dúvida que o físico sente os efeitos do online e os varejistas buscam alternativas para acompanhar o fenômeno, como atuar nas duas vertentes. O online cresceu mais que o físico, mas menos que o esperado”, diz.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier