Centenário de Riachão reúne missa, cortejo e roda de samba no Garcia e Pelourinho

Sambista completaria 100 anos neste domingo

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  • Da Redação

Publicado em 14 de novembro de 2021 às 19:38

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva / CORREIO

O homem que escondia a tristeza e problemas atrás de canções: o sambista Riachão completaria 100 anos neste domingo (14) e, para homenageá-lo, sua família e amigos organizaram um festejo que começou com uma missa e um cortejo no Garcia, com tambores e trompetes que tocavam músicas do artista, além de um sósia do cantor e baianas que animaram a festança com danças e rodadas de saia. A comemoração terminou com uma roda de samba na Cantina da Lua, no Pelourinho, onde filhos, netos, amigos e sambistas que acompanharam o baiano durante seus 98 anos de vida, levaram um pouquinho de sua alegria para os soteropolitanos. 

O filho de Riachão, Jonylson Seixas, 59 anos, explica que seu pai sempre gostou de casa cheia e sempre fazia reuniões em casa com amigos e cantores, em que ele preparava feijoada para todo mundo e era cantoria o resto do dia. Neste domingo, por conta da chuva, os festejos em comemoração ao centenário do artista foram reduzidos, mas, mesmo assim, foram realizados com muita alegria e emoção. Os moradores do Garcia, que apareceram nas janelas para admirar o cortejo, se emocionam ao ouvir as músicas do sambista. “Riachão sempre fez homenagens lindas aos meus pais. Ele vinha em todos os aniversários de casamento deles e cantava sempre as mesmas músicas: ‘O amor só é amor quando existe confiança, eu sei que no fim vai ser assim, é o amor quando é mal começado, por cima está tudo bonito, depois a tragédia e tudo acabado’”, cantou a vizinha de Riachão Rita Seixas, 74 anos, como quem acompanhava a sinfonia. Edvaldo Ramos, também morador do Garcia, afirma que o artista “morreu para uns, mas para a gente ele continua vivo”. Foto: Marina Silva / CORREIO Segundo familiares, Riachão cantava muito no dia-a-dia. Jonylson Seixas conta que até nos últimos dias de vida do seu pai, ele usava as músicas para driblar a dor e sempre estava ali, de pé, a valorizar a vida e as mulheres. De acordo com o sambista, ninguém estaria vivo se não existisse a mulher e ele as enaltece em diversas canções. “Ele era uma pessoa muito divertida. Quando aparecia uma mulher, ele silenciava e dizia: ‘não fale comigo agora não, que eu vou admirá-la’. A gente dava muita risada, era fantástico. E ele não demonstrava tristeza, ninguém conseguia ver ele chorando”, relatou Jonylson.

Os familiares de Riachão afirmam que ele sempre foi muito forte e sempre trabalhou muito durante sua vida. A filha do baiano Jenise Seixas, 62 anos, diz que sempre teve uma conexão muito forte com seu pai e, segundo ela, essa relação se deu porque o cantor fez o seu parto. Ela explica que Riachão estava sentindo muitas dores nos últimos dias de vida e que ele pediu a Deus que aliviasse sua dor na noite de sua morte. O cantor morreu dormindo abraçado a Jenise no dia 30 de março de 2020, por causas naturais. 

O dono do restaurante Cantina da Lua, Carlindo Silva, 79 anos, conta que teve uma relação de amizade de mais de 50 anos com Riachão e que só não eram parceiros porque o sambista não aceitava fazer parcerias. Segundo ele, todos os momentos da vida do cantor eram repletos de alegria e que, quando houve uma tragédia na sua família, quando sua esposa, uma filha e uma neta morreram em um acidente de carro, ele conseguiu conter sua tristeza para cantar durante o enterro dos seus familiares. “Eu cheguei na casa dele e ele estava jogado na cama. Eu falei ‘compadre levanta daí’, peguei ele e joguei debaixo do chuveiro de água fria", contou o empresário. 

Paulinho Timor, que realizou a produção musical de Riachão nos seus últimos oito anos de vida e organizou o evento em comemoração ao centenário do artista na Cantina da Lua, afirma que o sambista considerava o seu aniversário como uma das datas mais importantes do ano. “Eu falei que faria uma festa linda para ele quando ele fizesse 100 anos. Infelizmente ele não está aqui com a gente presencialmente. Mas espiritualmente ele está aqui, com toda a certeza, dentro de todos nós, sambando e alegrando a todos", se emocionou o produtor. 

Infelizmente, Riachão não teve o reconhecimento de suas obras em vida e teve poucos discos gravados. Nos oito anos que teve Timor como produtor, no entanto, o sambista fez uma tour de shows em vários locais do Brasil. Além de Salvador, o cantor também passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Sempre muito animado, Riachão levava os shows já com mais de 90 anos e, segundo Timor, ele ficava triste por não conseguir sambar. 

Planos futuros Vera Bassin, da empresa Viver Projetos, que vai dar continuidade aos planos da vida de Riachão de forma gratuita, explica que eles vão transformar a casa do sambista em uma associação, que vai levar o nome dele e levar o seu legado adiante, com oficinas e workshops. "A casa, como um todo, vai servir para a gente dar continuidade a todos os projetos e sonhos que Riachão tinha em vida. A gente já está com um cronograma de eventos. Estamos aguardando agora o busto [estátua com o rosto de Riachão] que foi doado pela Prefeitura de Salvador e vai ficar no lugar preferido do cantor, que é na varanda da sua casa, no lugarzinho que ele sempre ficava compondo", explicou Vera. 

Na data de falecimento do sambista, dia 29 de março, a Viver Projetos tem a intenção de lançar a biografia e o documentário sobre a história e a vida de Riachão. Já em novembro de 2022, a empresa vai lançar o Festival Riachão, aqui em Salvador. A iniciativa da festa, segundo Vera, é revelar outros artistas e compositores para mostrar a qualidade do que se tem na Bahia. 

*Com orientação da Chefe de Reportagem Perla Ribeiro