Centro e Iguatemi lideram brigas entre agentes de trânsito e motoristas

Especialista explica os motivos e diz o porquê dessas brigas ocorrerem com frequência

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  • Fernanda Varela

Publicado em 25 de setembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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A cena que parou a Avenida ACM nesta segunda-feira (25), quando um motociclista que presta serviços para um aplicativo de entregas se irritou com um agente de trânsito e começou a "lutar" com ele, é mais comum do que se imagina.

De acordo com um levantamento feito pela Superintendência de Trânsito do Salvador, as regiões com as maiores ocorrências desse tipo são justamente as do Iguatemi e Centro. 

Só este ano, já foram registradas 22 situações de agressão contra agentes de trânsito. O número, no decorrer dos anos, tem aumentado. No ano passado, de janeiro a dezembro, foram 41 queixas, quatro a mais do que o total registrado em 2017, com 37. Já em 2016, foram 28 casos. Os crimes mais comuns são ameaça, desacato e lesão corporal leve.

O CORREIO conversou com o educador de trânsito Rodrigo Ramalho, que assistiu ao vídeo. "Nesse caso, acredito que há a questão da pressão, do medo em não cumprir um tempo. Quando o agente de trânsito fiscaliza, ele é o obstáculo que frustra a expectativa do indivíduo para alcançar um objetivo, que era passar pelo local, seguir o fluxo. Isso gera frustração, que gera reação agressiva, principalmente em quem já está com nível de estresse elevado. Além disso, o rapaz do vídeo parece ser jovem, e nessa idade a pessoa tem mais testosterona", explica.

Ele justificou ainda o motivo das regiões do Centro e do Iguatemi serem as que registram maior índice de conflitos com agentes de trânsito tem explicação. "Eu acredito que a densidade populacional gera um estresse maior nos indivíduos que estão nesses ambientes. Inclusive porque são locais onde há mais congestionamentos", opina.

Ele acrescenta ainda que a falta de local para estacionar também é um dos motivos de gerar mais estresse entre os motoristas. "Nessas regiões (Centro e Iguatemi), não tem espaço para estacionar, são locais considerados críticos, que envolvem inclusive um custo de estacionamento. Também há formação de fila dupla, o que gera mais engarrafamento e mais estresse", complemente.

Rodrigo explica ainda que, diante desse cenário, é natural que os motoristas também sintam medo quando passam a ser fiscalizados. "São locais centrais, então tendem a ter mais fiscalização. Isso, junto ao que já foi citado, sobre engarrafamentos e falta de local para estacional, é a mistura perfeita para esse tipo de conflito. As pessoas sentem medo da multa e, quando o agente fiscaliza, o medo é externado em forma de agressividade na maioria das vezes, como um mecanismo de defesa", acrescenta ele, que é autor do livro “Educação Emocional no Trânsito: o medo e raiva dos condutores”.

Nada de arma De acordo com a Transalvador, os agentes de trânsito não têm prerrogativas para usar qualquer tipo de armamento. Ou seja, não é permitido o uso de armas letais, como as de fogo, nem as não-letais, como spray de pimenta, cassetetes e pistola de eletrochoque.

Um dia após a confusão entre o agente e o motociclista, algumas pessoas que supostamente testemunharam o fato, enviaram áudios que viralizaram no aplicativo de mensagens WhatsApp, declarando que o agente, que não teve o seu nome divulgado pela Transalvador, estaria armado com spray de pimenta.

Apesar das acusações, o órgão esclareceu que o profissional portava um spray à base de gengibre, que não tem venda proibida e pode ser utilizado por qualquer cidadão para defesa pessoal, para se proteger de ataques. Apesar disso, a Transalvador disse que "de qualquer forma, uma sindicância já foi aberta na autarquia municipal para analisar a situação".

Relembre a briga No início da tarde desta segunda-feira (23), um motociclista ficou irritado com o congestionamento no local e partiu para a briga com um agente da Transalvador. De acordo com o órgão, o agente de trânsito que aparece no vídeo estava ordenando o tráfego na via, "quando o motociclista começou a proferir uma série de agressões verbais, seguidas de agressões físicas ao agente, que tentou se defender".

A ação foi registrada por motoristas, e vídeos circulam pelas redes sociais. Nas imagens, é possível observar que o motociclista tira o capacete e tenta acertar o agente de trânsito, que tenta se defender com as mãos e não revida. Pouco depois, o homem que estava na moto foge do local. 

Por meio de nota, a Transalvador informou que, após o episódio, o agente prestou queixa na 16ª Delegacia (Pituba). Acrescentou ainda que o órgão "irá adotar as providências necessárias para identificar o agressor e repudia todo tipo de violência para com seus servidores".  

Procurada, a Polícia Civil confirmou que o caso foi registrado na 16ª Delegacia no início da tarde desta segunda-feira (23). Acrescentou ainda que, "de acordo com as informações iniciais prestadas pelo agente, a discussão teve início após um motociclista ignorar a ordem para não atravessar um cruzamento. O motoboy passou a agredir o agente de trânsito e o ameaçou de morte".

De acordo com a Transalvador, como o motociclista não atendeu à ordem de parada do agente de trânsito, ele pode ser autuado por esta infração, que é de natureza grave, com multa no valor de R$195 (art 195 do Código de Trânsito Brasileiro). Acrescentou ainda que, "caso alguma outra infração seja identificada, isto será apurado e ele será devidamente autuado por cada uma delas".