Cerca de 12 mil bares e restaurantes serão fechados a partir de quarta

Medida é para frear a propagação do coronavírus. Movimento caiu nos últimos dias

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  • Gil Santos

Publicado em 24 de março de 2020 às 05:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO

Na mesma medida em que cresce o número de infectados com o novo coronavírus na Bahia aumentam também os estragos provocados pela doença na economia. Nesta segunda-feira (23), a prefeitura de Salvador anunciou que será preciso fechar bares e restaurantes para evitar a proliferação da doença. O setor disse que entende e que apoia a decisão do município, mas que ainda não sabe como vai fazer para conseguir pagar as contas já que o serviço de delivery sozinho não resolve o problema.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA), Daniel Alves, atualmente, Salvador possui cerca de 12 mil estabelecimentos desse tipo. O setor emprega garçons, cozinheiros, copeiros, pessoal de limpeza e outros milhares de trabalhadores que dependem dessa atividade para viver.

“Entendemos perfeitamente a determinação da prefeitura e estamos à disposição para o que precisar. Tivemos uma conversa com o prefeito e solicitamos que permanecesse aberto o delivery e a retirada dos alimentos no local, muito mais por questão humanitária do que por uma questão econômica. Acreditamos que em um determinado momento isso vai ser importante para todos, porque vai haver uma dificuldade de alimentação ou porque as pessoas não vão querer mais sair de casa”, afirmou.

O decreto anunciado pelo perfeito ACM Neto e publicado na edição extra do Diário Oficial do Município, nesta terça-feira (24), determina que todos os salões de bares e restaurantes sejam fechados a partir desta quarta-feira (25). Na prática, o estabelecimento ainda poderá vender quentinhas e fazer entregas, mas estará proibido de receber os clientes em mesas, de incentivar o consumo no local e terá que evitar aglomerações. A iniciativa é para diminuir a possibilidade de transmissão da Covid-19. Quem descumprir a determinação terá o espaço interditado e poderá ser multado.

Uma alternativa pensada por alguns empresários é usar o sistema delivery para tentar amenizar as perdas, mas isso ainda é pouco para o tamanho do problema. Segundo o presidente da Abrasel, apenas 40% dos estabelecimentos de Salvador oferecem esse tipo de serviço e alguns já estavam pensando em abrir mão dessa ferramenta.

“Uma pesquisa realizada pela Abrasel mostrou que o faturamento do delivery vem caindo. Na última semana, por exemplo, apenas 17% dos estabelecimentos que têm esse serviço apresentaram crescimento no faturamento na comparação com a semana anterior, ou seja, a imensa maioria ou não cresceu nada ou teve perdas”, contou.

Questionado sobre quais ações os empresários vão adotar para mitigar os prejuízos, Daniel disse que isso ainda está sendo estudado e que o setor está analisando o tamanho do estrago. Ele acredita que a solução pode estar em Brasília. Nos próximos dias, representantes da Associação vão buscar apoio do Governo Federal na concessão de subsídios e incentivos fiscais para manter as empresas de pé e o pagamento dos funcionários. “O cenário é muito incerto. Qualquer medida do governo é bem-vinda, mas não é definitiva”, disse.

Conscientização Apesar da insegurança, o setor parece estar consciente. Segundo a Abrasel, alguns bares e restaurantes já encerram as atividades antes mesmo do decreto ser publicado, mas muitos alegaram que o movimento caiu mais de 90% na última semana. Uma rede de confeitaria cobrou, através das redes sociais, mais participação do governo para garantir o pagamento dos funcionários e a suspensão da cobrança de impostos por 90 dias para amenizar as perdas do setor.

Os pequenos comerciantes também se queixaram. Antônio Santos, 53 anos, tem uma lanchonete em Paripe, no Subúrbio Ferroviário. Ele contou que por lá o movimento diminuiu em comparação com outras semanas, e que o público está tomando consciência aos poucos. Ele tem medo de fechar e não consegui mais reabrir o negócio.

“Tenho cinco funcionários que dependem desse trabalho. Minha família depende desse trabalho. A gente sabe dos riscos de contaminação e entende que essa medida é para o bem da população, incluindo minha família e eu, mas não tem como não ficar assustado. A gente nunca passou por uma situação dessas”, contou.

Segundo o prefeito ACM Neto, o fechamento dos bares e restaurantes é uma ação necessária para frear a proliferação do novo coronavírus. O decreto vale por 15 dias, mas pode ser prorrogado. O município vai apostar na conscientização e na fiscalização para fazer valer a norma. Questionado se a cidade daria alguma contrapartida aos empresários por conta do decreto, Neto disse que não.

“A depender de quanto tempo a gente viva essa crise do coronavírus e do impacto que isso tenha na arrecadação do município, pode ser que a prefeitura seja obrigada a suspender obras, a definir esquema próprio de pagamento de fornecedores e servidores, então, não posso nesse momento dar nenhum benefício para qualquer setor econômico tendo em vista que a prefeitura é a ponta mais fraca desse elo”, afirmou.

Ele orientou os empresários a cobrarem respostas de Brasília. “O Governo Federal é a ponta mais forte. É quem tem a obrigação de liderar e de construir um plano de retomada econômica do país que olhe para todos os setores. A prefeitura dará sua contribuição se tiver condições de dar. Eu tenho que arcar com as obrigações da prefeitura e estou tendo uma ampliação ainda incalculável dos gastos com a saúde pública”, afirmou.

Enquanto isso, o movimento nesses estabelecimentos segue anormal. O Rio Vermelho, bairro mais boêmio da cidade, estava irreconhecível no último fim de semana. Muitas mesas vazias e garçons mirando o horizonte, na esperança que apareçam dias melhores.

Confira outras ações anunciadas pela prefeitura

1. Salões de bares e restaurante ficam interditados por 15 dias, contados a partir desta quarta-feira (25). Será permitido apenas delivery e a compra no local;

2. Será criado um serviço de Call Center para concentrar todas as demandas sobre o novo coronavírus, como denúncias e orientações;

3. Proibição de atividades sonoras, como festas e paredões, dentro e fora dos estabelecimentos. Casas de shows também estão proibidas de funcionar;

4. Agentes da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) e da Guarda Municipal farão rondas nos bairros. PM pode ser solicitada;

5. As rondas acontecerão nas principais ruas dos bairros, campos de futebol, praças e em todos os espaços públicos que possibilitem aglomerações;

6. A prefeitura vai usar 100 carros de som para conscientizar a população sobre as novas regras e sobre as ações voltadas para o enfretamento ao novo coronavírus;

7. Cinco Mercados Municipais que não oferecem mercadorias essenciais serão fechados para evitar aglomeração: Itapuã, Cajazeiras, Bonfim, Liberdade e Dois de Julho.

8. Lojas de Conveniências terão que se adequar às normas aplicadas aos bares e restaurante, ou seja, os produtos vendidos não podem se consumidos no local da venda;

9. Estão proibidas obras em prédios habitados, residencial e comercial, que não forem consideradas essenciais. A regra se aplica também as obras já em andamento;

10. Academias de condomínios devem ser interditadas até segunda ordem para evitar aglomeração de pessoas;

11. A prefeitura estuda fechar o comércio de rua e a decisão pode ser tomada ainda essa semana;

12. Templos religiosos terão que suspender atividades; 

13. A meta do Município é gerar entre 200 e 250 novos leitos para pacientes com o novo coronavírus. A compra de respiradores está em andamento;

14. O decreto entra em vigor nesta quarta-feira (25), por 15 dias, mas pode ser prorrogado;