Cerca de 2 mil bares podem fechar na Bahia por conta da crise

No 1º trimestre, um em cada três estabelecimentos teve prejuízo

  • D
  • Da Redação

Publicado em 7 de setembro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

O São Joaquim Botiquim, no Rio Vermelho, fechou as portas há uma semana (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Cerca de 2 mil bares e restaurantes devem fechar as portas até o final do ano em toda a Bahia, segundo estimativa da Associação Brasileira de Bares e Resturante na Bahia (Abrasel-BA). A situação reflete a crise no cenário nacional onde, no primeiro trimestre de 2017, 31% das empresas fecharam no vermelho. 

Em Salvador, o impacto da crise pode ser sentido nas áreas boêmias da cidade. No Jardim Brasil, por exemplo, a maioria dos bares e restaurantes encerraram as atividades. Segundo os moradores, a situação ficou mais complicada nos últimos três anos e o fechamento dos bares influenciou diretamente nas rotinas. 

“Nós preferimos frequentar locais que sejam mais perto, porque ir para outro local significa ter dois gastos: o do consumo e o de transporte. Com esses fechamentos, nós perdemos opções”, afirma uma servidora pública que pediu para não ser identificada.

Esta semana, o Alô Alô Correio divulgou, com exclusividade, o fechamento da churrascaria Fogo de Chão, no Rio Vermelho. O bairro também sente os efeitos da crise. Segundo o presidente da Abrasel-BA, Luiz Henrique Amaral, a falta de segurança e a instabilidade econômica são responsáveis pelos resultados.

“O setor está enfrentando sérios problemas, sobretudo no Nordeste, por conta da crise. Em média, os brasileiros gastam 50% menos que os americanos com alimentação fora de casa. Por conta da atual situação, as pessoas não estão saindo para comer fora, e quando fazem isso, gastam menos que o normal. A falta de segurança é outro fator que contribui para esse cenário”, afirma Amaral. A churrascaria Fogo de Chão anunciou o encerramento das atividades essa semana (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Faturamento  A pesquisa da Abrasel aponta que a situação nacional ainda é de crise, mas que houve melhora na comparação entre o último trimestre de 2016 e o primeiro de 2017. A previsão de faturamento ainda está em queda, mas o prejuízo foi suavizado de 3,93% para 1,84%. No total, 37% das empresas tiveram faturamento infeiror a 2016, 29% mantiveram a receita e apenas 34% conseguiram aumentar o faturamento.

A situação financeira levou 12% dos empresários a acreditar que vão fechar as portas nos próximos 12 meses. Segundo Amaral, na Bahia, esse número é maior porque há menos estabelecimentos que em outras regiões do país e, por isso, a crise é sentida mais fortemente. São 50 mil bares e restaurantes no estado, sendo 10 mil em Salvador e Região Metropolitana. 

O empresário Paulo Almeida, 45 anos, dono do São Jorge Botequim, no Rio Vermelho, resolveu encerrar as atividades há uma semana. Ele contou que o movimento caiu mais de 50% nos últimos meses.

“Foi um prejuízo muito alto. Já tive outros empreendimentos antes, mas agora estava apenas com esse. Com o fechamento, eu estou desempregado”, afirmou, sem mensurar o prejuízo. “Terei que trabalhar por muitos anos para me recuperar”, diz.  Estabelecimentos com placas de 'Vendo' são cada vez mais comuns (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Emprego Quando o assunto é emprego, a situação também não é das melhores. O Nordeste teve redução de 2,24% no número de postos de trabalho na comparação com 2016. A média nacional também foi negativa - 2,98% - e 40% das empresas reduziram o quadro de funcionários. Só 12% dos empresários conseguiram aumentar o número de colaboradores.

O cenário atual preocupa quem depende dos estabelecimentos para trabalhar. Para o presidente do Sindicato dos Empregados em Hoteis, Bares e Similares da Bahia (Sindhotéis-BA), José Ramos, o fechamento de estabelecimentos cria um clima de tensão entre os funcionários. “A pessoa pensa: ‘se acontece com o meu vizinho, daqui a pouco acontece comigo’. E se a margem de lucro cai, o primeiro a ser cortado é o trabalhador”, diz.

Apesar do cenário, os empresários estão otimistas. No Nordeste, a expectativa é de que o crescimento do faturamento, até o final do ano, seja de 3,95% - a média nacional é de 2,47%. Para o presidente da Abrasel-BA, não existe uma receita para sair da crise, mas uma boa gestão e a redução de custos operacionais são indispensáveis para quem quer ver uma luz no fim do túnel.  Atualmente, existem 10 mil bares e restaurantes em Salvador. Irish Pub vai trocar de sede e mudar de nome para Club Bahnhof  (Foto: Betto Jr/ CORREIO) A atual sede do The Dubliners Irish Pub irá fechar. O bar, que também fica localizado na Rua da Paciência, na orla do Rio Vermelho, irá reabrir com um novo nome a cerca de 450 metros da atual sede. "Nós iremos para uma casa com dois andares e capacidade para receber até 700 pessoas, no antigo Idearium Studio Bar, aqui do lado. Com as festas que ocorrem aqui na frente, a gente acabou tendo uma redução de mais de 40% nas vendas", disse o dono do estabelecimento que preferiu não se identificar.

Na contramão Na contramão das portas fechadas, algumas casas resistem, e bem, à crise econômica, chegando a registrar um aumento de 40% no faturamento desde o início do ano. É o caso do bar Água Dura, no Rio Vermelho. No final de semana, as filas impressionam.

“Nós já esperávamos esse número por conta do planejamento que tivemos. O nosso diferencial é o preço: só cobramos o couvert artístico e colocamos preços acessíveis nas bebidas”, explica o empresário Pedro Dantas, 25 anos.

No mesmo bairro, o Caranguejo do Baiano também não teve impacto tão forte. “A crise está aí para todo mundo, mas não ao ponto de termos que fechar as portas ou demitir funcionários”, diz um membro da administração, sem se identificar. O bar registrou movimento maior com o fechamento do Boteco Marina e do São Jorge Botequim, a menos de um quilômetro.

O La Taperia e o Chupito, ambos no Rio Vermelho, também aumentaram o faturamento. Para o dono dos estabelecimentos, que preferiu não se identificar, a inovação foi uma saída para enfrentar a crise. Para ele, a localização dos bares também influencia. 

Já no Jardim Brasil, no cruzamento onde três bares fecharam, o Guapo Mexican Bar resiste. A dona, Janaína Tarrago, 32, afirma que com o encerramento das atividades, o bar acabou herdando os clientes dos outros três bares. Hoje, já fidelizou os clientes.

Sócio do La Pasta Gialla, na Pituba, Marcelo Reis diz que, mesmo com a crise, conseguiu manter uma média de clientes e pensa, inclusive, em ampliar o espaço. “Estamos sempre conectados nas redes sociais, atentos aos comentários e mantendo nossos perfis atualizados, além de buscar constantes atualizações no cardápio”, afirma. O Jardim Brasil perdeu bares, mas foi escolhido por novos empresários (Foto: Betto Jr/ CORREIO) O cenário também não assusta alguns empreendedores ousados que aproveitam o momento para arriscar. A pizzaria Paulistana será inaugurada ainda em setembro no Jardim Brasil. O dono, o empresário Cláudio Oliveira, 59, disse não temer passar pela mesma situação que os outros estabelecimentos que fecharam as portas no bairro.

“O nosso modelo de negócio é diferente. Eu já produzia as pizzas em casa há oito meses e, com isso, já fidelizei alguns clientes. O que eu pretendo é inovar e trazer uma pizzaria com um barzinho, que irá trabalhar com petiscos e com bar também”, contou.

Para oferecer um melhor preço para os clientes e driblar a falta de movimento, o empresário planeja criar o “pizza do dia”, que irá oferecer sabores específicos por um valor mais baixo diariamente. Ele tem uma estratégia para atrair a clientela, “nosso diferencial será o atendimento", garantiu.