Chega a cinco o número de vítimas fatais em catedral paulista

População de Campinas e região se despediu das vítimas de atirador

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  • Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2018 às 06:18

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ari Ferreira/AFP

A prefeitura de Campinas(SP) confirmou na tarde de ontem a morte de Heleno Severo Alves, 84 anos, baleado anteontem durante um ataque na catedral na região central da cidade. Ele estava internado no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, onde passou por cirurgia. Outros quatro fiéis morreram durante o ataque: José Eudes Gonzaga Ferreira,  68 anos, Elpidio Alves Coutinho, Sidnei Vitor Monteiro,  67, e Cristofer Gonçalves dos Santos. No início da tarde, a catedral foi reaberta com uma missa em homenagem às vítimas.

O autor dos disparos que deixaram mais três pessoas feridas foi identificado pela Polícia Civil. Trata-se do analista de sistemas Euler Fernando Grandolpho,  49 anos. Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), ele já ocupou um cargo de auxiliar de promotoria, mas exonerou-se da função em 2014. 

Grandolpho abriu fogo contra pessoas que rezavam logo após uma missa. Em seguida, foi baleado por policiais e atirou contra a própria cabeça.

Amparado pelo filho e pelo neto, o aposentado Milton Monteiro,  71 anos, foi  ao Instituto Médico-Legal (IML) do Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição para reconhecer o corpo do caçula, Sidnei Vitor Monteiro, morto por um atirador na Catedral Metropolitana da cidade. A mulher do idoso também foi baleada, mas não corre risco de morte.

“Ao mesmo tempo em que choro pelo meu filho, ergo a mão para o céu por minha mulher (Jandira,  65 anos). Ela parou a bala com a mão e graças a Deus está viva”, contou o aposentado. Ele diz não saber como dar a notícia da morte de Sidnei à mulher, com quem é casado há 50 anos. “Ela falava com ele por telefone dez vezes por dia. Eram grudados”, lembra.  

Sidnei Vitor era ajudante de eletricista na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e se encontraria com a mãe para ir ao dentista. “Ela é muito católica, decidiu rezar na catedral. Foi aí que aconteceu”, disse Monteiro. 

A empregada doméstica Edna Rodrigues chegou aflita ao IML em busca de informações sobre a irmã Lourdes,  79 anos. Ficou aliviada ao saber que ela estava fora de perigo. A idosa foi atingida por um tiro e encaminhada ao Hospital Mário Gatti. “Não vai precisar nem de cirurgia. Graças a Deus. Ela vive na igreja e eu também”, conta. 

Casal foi agradecer O aposentado José Eudes Gonzaga Ferreira,  68 anos, e sua mulher, Maria de Fátima Frazão Ferreira,  65, estavam indo ao banco sacar o dinheiro da aposentadoria e entraram na Catedral de Campinas para agradecer pelo benefício.

“Todo mês eles faziam isso, sacavam o dinheiro e passavam na igreja para agradecer. Dessa vez, eles fizeram diferente, foram à igreja primeiro”, relata do genro Donizeti Soares,  61 anos. Maria de Fátima levou um tiro na coxa e sobreviveu. Baleado também, José Eudes não resistiu.

Donizeti conta que o casal era muito unido. “Eram companheiros, estavam casados há 37 anos e um vivia para o outro. Não sei o que vai ser de minha sogra”, lamenta. 

Maria de Fátima foi ao velório em cadeira de rodas. Abatida, chorou, assim como a filha, Flávia. A idosa continua com a bala alojada na coxa. Ela teve alta para ir ao velório, mas precisará passar por uma cirurgia. 

O corpo de Cristofer Gonçalves dos Santos também estava sendo velado no Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição, mas os familiares não quiseram dar entrevistas. O clima era de choro e desolação. 

A dona de casa Damiana Francisco Leandro Alves,  76 anos, não consegue se conformar com a sequência de fatos que resultaram na morte do marido, o aposentado Heleno Severo Alves,  84 anos. “Logo cedo, ele pegou o rosário, o livro de orações e disse que ia rezar, mas perdeu o circular. Eu falei que era para não ir, que tem coisa que vem por bem, é um aviso. Falei, vai descansar, homem. Mas ele, ‘não, eu tenho que ir’”, lembra. 

Damiana conta que estava vendo televisão quando ouviu falar do tiroteio na igreja, onde ele devia estar. “Falaram dos tiros, e já veio um aperto. Quando puseram as imagens, eu já vi ele caído, a perna com a bota, a mesma roupa. Ele caído lá, no meio daquela bagunça toda”, diz.  

Natural de Juazeiro (BA), a senhora conta que o marido era pernambucano de Exu. 

O atirador Euler Grandolpho,  49 anos, não era casado nem tinha filhos. Órfão de mãe há oito anos, morava com o pai em bairro de classe média de Valinhos (SP). Segundo um amigo, era “um cara inteligente”. Dono de oficina mecânica, o amigo ficou surpreso com o caso. “Estive com ele no sábado. Não sei o que deu na cabeça dele”, diz. Nos últimos meses, Grandolpho vendeu um carro e uma moto. “Disse que estava com muitos gastos”, lembrou o amigo. 

Identificado como analista de sistemas, Grandolpho assumiu em 2012 o cargo de auxiliar de promotoria do Ministério Público Estadual, mas foi exonerado em 2014. Aposentado, o pai de Grandolpho é ministro da eucaristia em uma igreja de Campinas. “Uma família muito boa”, disse uma mulher ligada à paróquia. Amigos dizem desconhecer se ele tinha problemas psiquiátricos e parentes deixaram o Instituto Médico-Legal anteontem sem falar com a imprensa. 

Em diário, atirador cita perseguição e outras chacinas Responsável pelo ataque que terminou com cinco fiéis mortos na Catedral Metropolitana de Campinas, no interior, Euler Fernando Grandolpho,  49 anos, vivia recluso, tinha as despesas pagas pelo pai, reclamava de vizinhos e teria mania de perseguição, segundo investigações da Polícia Civil. Em anotações pessoais do atirador, os agentes encontraram referências ao massacre de Realengo, em 2011, no Rio, e à chacina em Fortaleza, neste ano.

No dia do crime, policiais fizeram apreensões na casa e conversaram informalmente com o pai e uma irmã de Grandolpho. 

Segundo o delegado José Henrique Ventura, titular da Deinter de Campinas, os escritos vão passar por análise. “Uma primeira avaliação indica que as anotações são desconexas”, avalia.

PMs narram ação: ‘Não tínhamos certeza de nada’ Dois policiais militares que estavam na praça em frente à Catedral de Campinas conseguiram evitar que o ataque do atirador tivesse ainda mais vítimas. Eles foram os primeiros PMs a chegar ao local do crime. O atirador, que se matou logo após o ataque diante do cerco dos policiais, portava uma pistola 9 mm e mais um revólver calibre 38. As duas armas estavam com as  numerações raspadas. 

“Vimos pessoas correndo para fora da igreja, desesperadas”, diz o sargento De Souza, 31 anos, há oito anos na polícia. “Não tínhamos certeza se era tiro, atentado. Procuramos progredir para averiguar o que estava acontecendo. Não tínhamos certeza de nada”, lembra. Ele estava acompanhado do soldado Lucas Amaral, 22.

Ao passarem pela entrada principal da igreja, os policiais viram pessoas correndo, uma delas baleada. 

Primeiro, esconderam-se atrás de uma parede, enquanto o atirador disparava contra pessoas que corriam na direção deles. “Ali a gente ainda não tinha campo de atuação, por terem pessoas na nossa frente. Quando já não tinham mais fiéis na nossa frente, conseguimos atuar, progredindo no terreno”, diz De Souza.

O sargento e o soldado continuaram em direção a uma coluna da catedral, onde conseguiam se proteger dos tiros. “Tinha bastante gente em desespero, pedindo ajuda. E a gente teve que manter a calma. Continuar abrigado para não ser atingido”, conta o soldado. 

Segundos os policiais, quando o atirador caiu, ele “fez um disparo na própria cabeça”. “Se a gente não conseguisse neutralizá-lo ali, ele podia sair e atingir muito mais pessoas no calçadão, que é muito movimentado. Mas deu tudo certo. Lamentamos pelas vítimas. Fizemos tudo o que estava possível no nosso alcance para evitar ao máximo o mal maior”, diz De Souza. 

Logo depois, chegou a Guarda Municipal de Campinas.