'Choro dia e noite. Minha vida acabou', diz mãe de estudante desaparecido

Família aguarda laudo para comprovar se corpo encontrado em mala é do jovem

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 7 de janeiro de 2019 às 15:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Wendel

Mãe de estudante desaparecido chora (Foto: Bruno Wendel) As marcas profundas na região dos olhos são evidências de muitas noites mal dormidas. Visivelmente abatida, a dona de casa Tânia Maria Ataíde dos Santos, 52 anos, desabafa: “Hoje tem 23 dias que choro dia e noite”. Ela é mãe do estudante Jonas Ribeiro dos Santos Neto, 17, desparecido desde o dia 15 dezembro. No entanto, a família acredita que o corpo encontrado dentro do porta-malas de um carro, no bairro de São Cristóvão, é do rapaz. 

Confortada pelo marido e pai de Jonas, o pedreiro Djalma de Sena Santos, 52, Maria falou sobre os sequestradores e prováveis assassinos de Jonas. “Fico pensando dia e noite o que eles fizeram com meu filho. O que leva pessoas a agirem daquela forma gratuitamente com alguém? Meu filho era um menino de bem"."Não desejo a dor que estou sentindo para ninguém, nem para as mães dessas pessoas que fizeram isso com o meu filho. Sei que as mães deles não têm culpa pelos filhos agirem assim. Peço a Deus para que elas nunca passem pelo que estou passando”, completa.Até um dia antes da descoberta do corpo em São Cristóvão, a mãe de Jonas acreditava que o rapaz poderia estar vivo. “Eu tinha esperança que eles fossem dizer que meu filho estava em algum lugar e que voltaria para casa", admite ela, que não consegue levar uma vida normal desde o sumiço do garoto."Hoje, não sinto fome, não consigo dormir. Minha vida acabou. Às vezes acordo, ouvindo os passos dele subindo as escadas. Era o meu bebê, meu bebê grande, só tinha tamanho", chora ao falar do filho, de 1,80 m. "Queria que Deus trocasse a minha vida pela dele. Ele morreu tão cedo, não viveu nada. Não é justo”, completou Maria, que é integrante de uma igreja protestante. 

Caçula Jonas é o caçula de quatro filhos – dois homens e duas mulheres. A mãe dele relembrou o momento em que decidiu ter o quarto filho. “Meu filho mais velho me pediu um irmão. Então, decidi engravidar, mesmo os médicos condenando porque tenho pressão alta. Levei a gravidez até o fim", lembra ela, que relatou que o irmão de Jonas é um dos que mais está abalado com a notícia do corpo encontrado na mala do carro."Meu filho mais velho está em estado de choque quando soube que o irmão que ele tanto desejava está morto. Ele não sai para lugar algum”, declarou.Relembre o caso Um corpo foi encontrado na mala de um Fiat Palio roubado a um quarteirão da casa da família de Jonas, em São Cristóvão. O morto estava vestido com camisa preta e bermuda jeans clara, exatamente como Jonas saiu de casa pela última vez, no dia 15 de dezembro. “O aparelho no dente também. Meu marido reconheceu”, conta Maria, chorando.

O corpo tinha marca de tiros e estava com mãos e pés amarrados, além de um saco na cabeça. Jonas está desaparecido desde o dia 15 de dezembro de 2018 (Foto: Acervo Pessoal) Jonas tinha ido a um aniversário em Itapuã, na casa de um amigo do Colégio Estadual Helena Mateus, onde concluiu, em 2018, o 2º ano do Ensino Médio. Segundo a família, Jonas deixou a festa por volta das 22h e já estava no ônibus, retornando para casa. No entanto, por distração, passou do ponto que deveria descer e foi parar no fim de linha do Parque das Bromélias.

Para a família, Jonas foi mais uma vítima da guerra entre facções, que punem com pena de morte as pessoas que moram em território adversário, inclusive inocentes.

“Foi o que soubemos. Meu filho foi tirado do ônibus por um grupo que perguntou onde ele morava. Ele respondeu: ‘Planeta dos Macacos’. E levaram ele”, contou o pai do rapaz, o pedreiro Djalma de Sena Santos, 52, enquanto amparava a mulher.