Cloroquina das blogueiras: o que não te contam sobre produtos endeusados no Instagram

Influenciadoras digitais divulgam itens sem comprovação científica e ocultam informações importantes para a decisão de compra

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 2 de outubro de 2021 às 10:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Reprodução/Instagram

Confinada do reality A Fazenda 13, a influenciadora alagoana Marina Ferrari, 28, virou alvo de chacota nos últimos dias por causa de uma fake news: em suas redes sociais, ela divulgou uma goma de vitaminas como forma de prevenção contra o coronavírus. Gravado em 2020, o vídeo voltou a circular após a influencer ter sido anunciada para o programa da Record. 

Gomas, cremes, chás e pílulas aparecem nas publicidades dos criadores de conteúdo para internet, mas alguns destes produtos estão para a sua saúde assim como a cloroquina está para a covid-19: zero comprovação científica de que funcionam. Quando pouco transparentes com seus públicos, os influenciadores digitais vão se tornando, lamentavelmente, sinônimos de propaganda enganosa e colocando a vida de outras pessoas em risco. Como o fenômeno dos influencers é algo mais recente na história das redes sociais, não há ainda legislação específica para responsabilizá-los pelas publicidades que fazem.

 Américo Neto, presidente da regional baiana da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap-BA), adianta que a comunicação comercial feita por este pessoal já tem sido vista como algo preocupante e que necessita de disciplina. A dica é: antes de comprar qualquer produto, consultar um especialista da área.

Fontes consultadas: Danilo Oliveira, farmacêutico e professor do curso de Nutrição da Rede UniFTC; Luana Ferrari, nutricionista da Clínica Emeg; Tâmara Gomes, fisioterapeuta ligada à Unifacs; Candice Belchior, dentista clínica e mestre em Ortodontia pela Ufrj; Daiana Costa, fisioterapeuta dermatofuncional e Tâmara Ferreira, nutricionista clínica e esportiva.

1. Gomas de vitamina para cabelo e unhas

Gominhas de suplementação vitamínica ficaram populares por causa das promessas de crescimento e fortalecimento dos cabelos e unhas, mas elas têm mais marketing do que eficácia comprovada. Quase sempre carregados de açúcares e corantes, esses docinhos podem trazer riscos à saúde, como ocorrência de hipervitaminoses, que provocam diarreia, vômito, prisão de ventre e náusea, problemas que muitas vezes as pessoas não desconfiam que têm origem no consumo de vitaminas.

Os profissionais da saúde andam preocupados com o uso indiscriminado de suplementos sem orientação e por longos períodos. Não são poucos os relatos das próprias blogueiras que dizem comer além da dose diária recomendada do produto só porque são gostosinhas. 

O conteúdo desses suplementos, somado com o que você come diariamente, pode resultar em uma ingestão excessiva de vitaminas e minerais. Como o corpo humano não é capaz de armazenar vitaminas e minerais em excesso, ele é forçado a eliminá-los através da urina. No fim das contas, essas gomas podem ser um dinheirão jogado pelo ralo. 

“Suplementação vitamínica é uma coisa boa em casos específicos, como pacientes que têm limitação com alimentação, gestantes, crianças no início da vida, definitivamente não é para todo mundo”, alerta Luana Ferrari, nutricionista da Clínica Emeg.

2. Colágeno em pó para a pele

Por enquanto, a ciência ainda não tem um consenso se consumir colágeno contribui para que o organismo produza mais colágeno. Há estudos que dizem que sim, outros que não. A reposição dessa proteína animal por via oral, seja em pó ou cápsulas, não é uma unanimidade entre os entendedores. 

Sabe-se, até então, que a vitamina C tem ação antioxidante e previne o envelhecimento da pele, contribuindo para a síntese natural de colágeno. Outros nutrientes como cobre, zinco, selênio, manganês e silício, estes encontrados em carnes, peixes e castanhas também são aliados nesse processo.

“Muitas vezes, o colágeno é vendido como algo que vai resolver a questão das rugas e da flacidez na pele. As pessoas estão gastando um dinheiro alto com isso e não existe um carimbo: ‘Olha, esse colágeno que comi agora, que suplementei em pó, cápsula ou goma, vai para minha pele e cabelo’. Não é assim que funciona. Essas proteínas vão para onde o corpo decide que está precisando”, explica Luana Ferrari.

Se você tem uma boa alimentação, seu corpo terá os nutrientes necessários para produzir o colágeno de que necessita e, para controlar a perda dele, é importante evitar hábitos que prejudicam a pele como fumar, tomar sol e comer muita ‘porcaria’.

3. Pasta de carvão ativado para clarear dentes

Esse é um tipo de produto que age na remoção de pigmentos externos dos dentes, então, de certa forma, ele funciona, mas não é bem visto por especialistas. Em forma de pasta ou pó, essas fórmulas prometem uma solução rápida e fácil para o branqueamento dos dentes, só que o marketing esconde que o carvão ativado é um mineral corrosivo que desgasta o esmalte dentário — o que leva a pessoa a ter mais sensibilidade e dor ao comer e beber. 

Por vezes, a publicidade faz parecer que o carvão ativado dá o mesmo resultado de um clareamento feito em consultório odontológico e que você ainda está pagando menos por isso, mas, na verdade, só removem sujeira superficial e ainda de maneira abrasiva.

“As campanhas de marketing ainda têm a mania de usar vocabulários que remetem ao natural, ao ecológico, ao vegetal, ao orgânico. Carvão vegetal é uma palavra do marketing. Essas pastas não têm o selo da Associação Brasileira de Odontologia e artigos científicos, em geral, não comprovam a eficácia desse produto”, diz a ortodontista Candice Belchior.

4. Chás para desinchar barriga

Em geral, esses chás têm função diurética, ou seja, estimulam a fazer xixi. De fato, ajudam na eliminação de líquidos. O que as blogueiras não costumam contar é que de nada adianta tomar esses chás se você não se exercita e nem controla a alimentação. Se uma pessoa consome mais calorias do que gasta, pode tomar a quantidade de chá que for, dificilmente verá resultados. As ervas auxiliam, mas sozinhas não fazem milagres. É bem comum, aliás, que pessoas aumentem a dose dos chás na tentativa de perder peso, de se livrar de um inchaço, e esse comportamento acaba gerando problemas intestinais.

5. Creme ou gel redutor de medidas

Nenhum creme funciona para quebra de células de gordura. Géis e cremes “redutores” nem mesmo fazem drenagem linfática, ela é feita com as mãos. Em massagens modeladoras, fisioterapeutas conseguem ajudar a espalhar a gordura, mas trata-se de efeito momentâneo e logo o corpo voltará a ter a forma do dia a dia — o chamado Efeito Cinderela. 

“Não digo que esses cremes são completamente ruins porque, quando usados em home care, acho uma ótima opção, já que a pessoa tira um momento de autocuidado, ela hidrata, massageia a região. Membros inferiores, quando massageados, ativam a circulação, o que ajuda no aspecto da celulite. Os cremes são coadjuvantes. Associados, eles são bem-vindos, mas isolados não têm poder de redução de gordura”, diz Daiana Costa, fisioterapeuta.