Colapso: faltam leitos de UTI para bebês com covid-19 em Recife

'Clima de guerra', diz médica

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Publicado em 6 de maio de 2021 às 08:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Sérgio Bernardo / JC Imagem

A alta dos casos de covid-19 também tem sido uma realidade na faixa etária pediátrica, segundo relatos de médicos plantonistas do Hospital Barão de Lucena (HBL), no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, e de números publicados nos boletins epidemiológicos da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES). 

Sobre os quadros graves de covid-19 até os 9 anos, o Estado acumula 686 casos — 32 a mais, em comparação com o dia 5 de abril. Nessa data, eram 654 registros de quadros graves da doença — 22 a mais, em relação a 5 de março. 

Referência no atendimento a bebês e crianças com sintomas respiratórios, o HBL iniciou a quarta-feira (5) com um cenário de superlotação, repetindo as dificuldades de meses anteriores.

"Na emergência pediátrica do Estado onde eu trabalho tem, neste momento, 10 bebês em respiração mecânica esperando vaga de UTI (unidade de terapia intensiva). Outros cinco precisando de intubação, mas não tem mais tubo nem ventilador. As famílias do interior que não têm onde ficar estão dormindo no chão do lado de fora da emergência", descreveu ontem uma médica do HBL em rede social. 

Ao vivenciar essa situação, ela expressa um sentimento semelhante ao de milhares de profissionais que têm atuado na linha de frente do combate à covid-19 para salvar vidas, mesmo diante de tantas adversidades. "A equipe está exausta; várias pessoas afastadas por depressão."

Outra médica do HBL, ouvida pela reportagem deste JC, reforçou que faltam respiradores e máscaras para fazer a ventilação não invasiva, popularmente conhecida pela sua sigla, VNI. 

"Os profissionais estão muito sobrecarregados. Hoje (ontem) está sendo um dia muito difícil. Estamos vendo o caos novamente no HBL. É um clima de guerra", relata a médica. 

Ela acrescenta que o hospital tem 12 leitos de UTI para crianças que estão com sintomas respiratórios mais severos. Mas essas vagas não têm sido o suficiente para a demanda atual. 

"A emergência tem recebido um número muito maior nos últimos dias. No sábado, por exemplo, eram 37 pacientes, e parte deles em vermelho (classificação que indica risco de gravidade)."

Resposta da SES Questionada pela reportagem sobre o cenário de superlotação relatada pelos profissionais do HBL, a SES enviou nota em que informa reforço nos plantões da emergência pediátrica para atender a demanda atual. 

"Com isso, a escala, que era feita com quatro profissionais, passou a ser feita com seis, além de mais um médico evolucionista", diz. 

A SES acrescentou que, enquanto aguarda transferência para leito de UTI, o paciente conta com a devida assistência, com suporte ventilatório, quando necessário, e acompanhamento de equipe multiprofissional, inclusive com fisioterapeutas.

"Mensalmente acolhe mais de 500 crianças em sua emergência e que muitos casos são de baixa complexidade, ou seja, deveriam receber a assistência nas unidades sob gestão municipal. Contudo, não nega atendimento, acolhendo e dando o devido encaminhamento para cada caso", frisa a nota. 

A direção do HBL destacou que o serviço está abastecido de medicamentos e insumos, além de realizar exames normalmente.

Ainda segundo a SES, a positividade para covid-19, entre o público pediátrico, é baixa. "Essa população representa 1,6% dos casos graves provocados pelo novo coronavírus no Estado." A secretaria reforça também que, de março a junho, Pernambuco passa por uma sazonalidade de vírus respiratórios, que causam as viroses comuns neste período do ano. 

Atualmente, segundo a SES, há mais de 170 vagas para essa população (neonatal e pediátrica), localizadas nas cidades do Recife, Olinda, Goiana, Garanhuns, Arcoverde, Serra Talhada, Salgueiro e Petrolina. Entre elas, são apenas 42 vagas de UTI pediátrica e 20 neonatal para todo o Estado.