Colégio da Polícia Militar atrasa pagamentos de vale alimentação durante a pandemia

Alguns alunos nunca receberam o auxílio durante os mais de quatro meses de isolamento

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  • Wendel de Novais

Publicado em 28 de agosto de 2020 às 19:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Divulgação)

Mães e pais de alunos da unidade do Colégio da Polícia Militar (CPM), localizado na Av. Dendezeiros, na Cidade Baixa, reclamam sobre atrasos no pagamento de um vale alimentação de R$ 55 para auxiliar na alimentação dos alunos no período em que estão longe das salas de aula. O valor, que deveria constar em um cartão de alimentação que os alunos receberam, não foi depositado uma vez sequer para centenas de crianças segundo informações dos pais.

De acordo com a Secretaria de Educação do Estado da Bahia, o vale é uma ação do Governo da Bahia e, até o momento, foram pagas três parcelas, que não correspondem a valores mensais. O total investido para a execução da iniciativa é de R$ 132 milhões de recursos do Estado.

O processo de depósito é liberado após uma divulgação da lista com os nomes dos alunos que já poderiam receber o valor através do cartão e efetuar uma compra no mercado credenciado. No entanto, muitos dos estudantes não tiveram seu valor liberado após mais de quatro meses e três parcelas de depósitos promovidos pela instituição. 

Raissa Gomes, 30 anos, que é mãe de uma aluna e está desempregada devido à pandemia, relata que o valor nunca foi creditado no cartão do seu filha. "O nome da minha filha nunca saiu em nenhuma das listas enviadas pelo CPM que informam a liberação do vale. Já tem quase um mês desde que a última lista foi enviada com uns 20 alunos e eu estou aguardando até hoje uma nova pra ver se sai o nome da minha filha. Se eu não tivesse pegando esse auxílio do governo, estaria passando necessidade. Eu sei que R$ 55 reais é pouco, mas é um direito dela porque parece que o CPM está selecionando a quem eles dão os cartões. Eu queria saber qual o critério de seleção que eles usam", declara.

Questionada sobre o critério adotado para a liberação dos valores, a Secretaria de Educação não respondeu até a publicação desta reportagem.

Quem passa por situação parecida com a de Raíssa é Emerson Pereira, 40, agente de portaria, que afirma que a sua situação financeira não é das melhores e o vale representaria um alívio para garantir a alimentação básica da filha.

"A situação da minha filha continua sem resolver, sem receber a valor do vale alimentação. Temos passado por aperto, e, no momento, seria de muita ajuda esse vale alimentação. A gente continua na luta e tentou cobrar o colégio, mas nada se cumpriu até agora", lamenta.

Uma outra mãe, que não quis se identificar por medo de represália do CPM, disse que o filho não recebeu o valor mesmo depois de uma atualização de seus dados realizada no colégio.

"Meu filho não recebeu o auxílio alimentação. Fizemos uma atualização cadastral na escola e no site da Secretaria de Educação e, até o momento, não caiu nada. Mandei e-mail para a secretaria e fiquei sem retorno sobre os questionamentos que fiz", revela. 

A secretaria explicou que o atraso da liberação dos valores está atrelado à necessidade de rever dados e atualizar o sistema com as novas informações. “Foi necessário fazer a atualização dos CPFs dos estudantes, documento fundamental para a liberação dos cartões do vale-alimentação estudantil, e cujos números só foram informados à SEC agora no mês de agosto”, diz.

A equipe técnica da secretaria também salientou que já fez os encaminhamentos para regularizar a situação e os estudantes serão avisados pela escola para o recebimento dos cartões e reforçou que todos os estudantes regularmente matriculados na rede estadual de ensino têm o direito ao vale-alimentação estudantil, no valor de R$ 55 por estudante.

Jogo de empurra Segundo os pais, quando eles tentaram entender a situação e passaram a cobrar da escola e da secretaria um posicionamento e uma estimativa de quando o valor seria disponibilizado, o que houve foi um verdadeiro jogo de empurra. O CPM afirmava que a secretaria ainda não tinha repassado a lista e a secretaria relatava que os cartões e as listas já estavam em poder do colégio.

Jucimeire Bispo dos Santos, 53, é autônoma e reclama da confusão dos órgãos ao indicar de quem é a responsabilidade do caso. "Já estamos são cinco meses de pandemia e nada do nome da minha filha e de outros colegas. Quando vamos lá no colégio, eles falam que é pra aguardar que já enviaram tudo pra secretaria de educação. Quando entramos em contato com a secretaria de educação, eles falam que a culpa é do colégio. No meio disso, nós perdemos tempo e valores em transporte para ir até o local e não recebemos nenhuma resposta", diz

Raíssa também questionou os dois órgãos sobre a situação. Ela afirma estar cansada de um órgão culpando o outro. "Entrei em contato com a escola e mais uma vez eles informaram que o erro é da secretaria de educação. Disseram que eles mandam os cartões e as listas e a escola só faz repassar. Falei com a secretaria de educação e eles informaram que o cartão de minha filha está na escola desde o dia 15 de junho. Eu já tô cansada de um jogando a culpa para o outro e ninguém resolvendo nosso problema", diz.

Ao CORREIO, a Secretaria de Educação, através de sua assessoria, explicou que houve um atraso na entrega dos dados dos estudantes para a secretaria, que só aconteceu em agosto. "Foi necessário fazer a atualização dos CPFs dos estudantes, documento fundamental para a liberação dos cartões do vale-alimentação estudantil, e cujos números só foram informados à SEC agora no mês de agosto", clarifica.

A secretaria também salientou que, para qualquer demanda sobre o vale-alimentação, os pais dos estudantes devem procurar a direção da escola ou entrar em contato com a Ouvidoria pelo telefone 0800 284 0011 ou pelo e-mail [email protected].

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro