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Da Redação
Publicado em 7 de setembro de 2022 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Se a população não vai até a vacina, a vacina vai até a população. Pelo menos, é nisso que resolveu apostar a prefeitura de Salvador. Na terça (6), a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), em parceria com a pasta da Educação (Smed), deu início à busca ativa em escolas da rede municipal de ensino, para aplicar as doses contra a poliomielite — ou paralisa infantil — e as da multivacinação, que disponibiliza 18 vacinas do Calendário Nacional de Vacinação de crianças e adolescentes menores de 15 anos. No primeiro dia de ação, dez instituições foram contempladas desde o bairro da Ribeira, na Cidade Baixa, até o de Cajazeiras X. Ao todo, foram vacinados, na terça, mais de 500 alunos.>
De forma irônica, a vacinação contra a poliomielite, administrada, desde 2016, em cinco doses — duas delas, de reforço, com a famosa ‘gotinha’ — tem avançado a conta-gotas: desde o começo da campanha, no dia 8 de agosto, mais de 32 mil crianças menores de 5 anos que moram no município compareceram aos postos para se proteger contra a pólio. O número corresponde a apenas cerca de 20% dos 152 mil pequenos que compõem o público-alvo na cidade, embora a meta seja chegar a 95%. No caso da multivacinação, voltada a uma população de 497 mil jovens menores de 15 anos, a cobertura está em 11%, com pouco mais de 58 mil cadernetas atualizadas.>
Nesse sentido, segundo o secretário da SMS, Decio Martins, a busca ativa em escolas visa facilitar o acesso à vacinação e não tem prazo para acabar. “A expectativa é vacinar todo o nosso público-alvo”, afirma. “Todas as crianças que estiverem na escola nós pretendemos atingir, e imunizar o máximo de pessoas possível”, acrescenta. O titular da Smed, Marcelo Oliveira, lembra que o certificado de vacinação é exigido aos responsáveis durante a realização da matrícula da criança ou adolescente. Ele destaca o papel deste órgão na campanha. “Eventualmente, esse certificado [de vacinação] está incompleto. Nós não rejeitamos a matrícula de nenhuma criança, mas orientamos os pais que vão até um posto de saúde, para completar o esquema vacinal, e tentamos acompanhar isso”, explica.>
Indisponibilidade representa empecilho Outro ponto abordado pelo secretário municipal da Educação é que a estratégia é uma alternativa à falta de tempo em razão da rotina acelerada de trabalho dos resposnsáveis pelas crianças. “A ideia de trazer o posto de saúde para dentro da escola é uma forma de você poupar os pais do esforço de levar ao posto no horário em que eles estão trabalhando”. Esse é o caso da atendente Érica Carvalho, 20 anos, mãe de João Miguel, de 6, que estuda na Creche e Pré-escola Primeiro Passo, em Cajazeiras X, e que estava com vacinas em atraso. “Aproveitei esse ‘tempinho’, essa oportunidade, para botar tudo em ordem”, conta.>
A iniciativa é capaz de contemplar, até mesmo, aqueles tutores que não têm disponibilidade para acompanhar a criança ou adolescente durante a vacinação na escola. Nesse caso, é necessário autorizar a aplicação do imunizante por meio de uma declaração prévia. De acordo com Islaine de Oliveira, 30 anos, professora do grupo 3 na mesma instituição, a aceitação em sua turma tem sido grande. “Eu consegui uma adesão muito grande aqui, na minha sala. Boa parte [dos pais] aceitou e até agradeceu”, afirma. Entusiasmada, a educadora revela que o consentimento foi considerável até por parte dos pequenos. “[Os pequenos] Eles se comportaram, e alguns que já estavam com a carteirinha [de vacinação] completa, mesmo assim, perguntam se não vão tomar a ‘gotinha’.”>
Baixos índices de vacinação contra a poliomielite preocupam Apesar de certificado, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como livre da poliomielite em 1994, o Brasil não cumpre, desde 2015, a meta de vacinar 95% do público-alvo, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Causada pelo poliovírus selvagem, a doença pode provocar sintomas mais leves, como os de um resfriado comum, como também problemas graves no sistema nervoso, a exemplo de paralisia irreversível — sobretudo, em menores de 5 anos.>
Além da falta de disponibilidade, a coordenadora de Imunizações de Salvador, Doiane Lemos, atribui a baixa procura pela proteção a vários fatores, desde a falta de disponibilidade para levar a criança ou adolescente a um posto de saúde até a sensação de não estar ‘vendo’ a doença. “Não há uma causa única para isso [baixa procura]. [As pessoas] Elas baixam a guarda, ou seja, passam a não temer, porque não sabem o que é pólio, sarampo ou um quadro grave de meningite”, avalia. “Então, a poliomielite, justamente, não está acontecendo porque nós estamos sendo vacinados”, finaliza.>
Outro possível motivo para os baixos índices tanto da vacinação contra a pólio como da multivacinação é a preocupação em haver alguma reação adversa caso essas doses sejam administradas num curto intervalo de tempo em relação ao imunizante contra a Covid-19, cuja campanha ainda está em andamento. O Ministério da Saúde, no entanto, esclarece que essas vacinas podem ser aplicadas na população a partir de 3 anos de idade dentro de qualquer intervalo — e até simultaneamente — em comparação às demais vacinas do Calendário Nacional de Vacinação.>
Vacinas à disposição durante o ano inteiro O Ministério da Saúde anunciou, na terça-feira (6), a prorrogação das campanhas nacionais de multivacinação e contra a pólio. A previsão inicial era que as estratégias fossem até esta sexta (9). Agora, os pais e responsáveis têm até o dia 30 para buscar um dos 156 postos de saúde da rede municipal e atualizar a caderneta de crianças e adolescentes. As unidades funcionam de segunda a sexta-feira, exceto feriados, entre 8h e 17h.>
As doses ficam disponíveis nos postos de saúde de todo o país ao longo do ano. São elas: hepatites A e B; pentavalente (DTP/Hib/Hep. B); pneumocócica 10-valente (VPC10); inativada poliomielite (VIP); oral poliomielite (VOP); rotavírus humano (VRH); meningocócica C (conjugada); febre amarela; tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba); tetraviral (sarampo, rubéola, caxumba e varicela); DTP (tríplice bacteriana); varicela; e HPV quadrivalente (papilomavírus humano). Para os adolescentes, estão à disposição as vacinas HPV; dT (dupla adulto); febre amarela; tríplice viral; hepatite B; dTpa; e meningocócica ACWY (conjugada). Todos os imunizantes que integram o Programa Nacional de Imunizações (PNI) são seguros e estão registrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).>