Com demolição, mar volta a ser visto por outros pontos da Avenida Oceânica

Com fim do Salvador Praia Hotel, Orla ganhará um mirante com acesso à praia

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 1 de outubro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Era por volta das 15h quando dona Selma Santos, 42 anos, iniciava sua volta para casa. Depois de um dia de faxina, a diarista parou para ver o mar antes de pegar o ônibus que a levaria para casa. A cena poderia ser comum para quem frequenta a Orla de Salvador, mas ganhou um novo significado nesta segunda-feira (30).

A brisa que agora alcança Selma veio graças ao fim do processo de demolição do antigo Salvador Praia Hotel, que teve sua primeira fase concluída em setembro. 

“Tem anos que eu trabalho aqui, e geralmente eu nem lembrava do mar. Agora dá até mais gosto de ir limpar as janelas”, brincou Selma, que presta serviços para alguns apartamentos em prédios na Avenida Oceânica. 

O processo de demolição do hotel, que encerrou suas atividades em 2009, teve início em maio deste ano, sob coordenação da empresa Moura Dubeux, responsável pelo novo empreendimento que vai ser construído no local.

Depois de quatro meses de obras, o mar deu o ar da graça mais uma vez para que tem costume de passar pela região. O terreno do hotel, agora, passa por uma fase de limpeza para que seja feita a retirada das fundações - essa é a última fase antes que a antiga construção seja completamente retirada do espaço. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) O início da transformação na paisagem não foi notado apenas por Selma. A Avenida Oceânica é um caminho bastante comum para quem, por exemplo, pedala ou corre. É o caso do americano Peter Cohen, 55, que há seis anos veio morar em com a família em Salvador.

“O mar aqui é muito bonito, a natureza faz a diferença na cidade e, agora, a corrida está bem mais agradável”, opina o antropólogo. Já a aposentada Ângela Cruz, 62, aproveita a brisa do mar, mas admite que já está preocupada com o futuro. “Espero que eles não construam algo que tapem de novo a praia. Tomara que o novo prédio valorize”, diz ela. 

Ângela pode ficar tranquila. No local, serão erguidos dois empreendimentos: um apart-hotel e um prédio com apartamentos de luxo. Para construir as torres, no entanto, a construtora responsável precisou oferecer algumas contrapartidas para a cidade. Dentre as ações, a requalificação do calçadão na avenida e a construção de um mirante.

“A praia de Ondina, ficava escondida, não só do ponto de vista visual, mas de acesso. Com a construção do mirante, as pessoas terão acesso a um ambiente que tem potencial para ser um espaço de praia mesmo, de pé na areia”, explicou o secretário de cultura e turismo de Salvador, Cláudio Tinoco. 

Ele acrescentou ainda que a substituição de um empreendimento como um hotel por um equipamento privado não representará prejuízos para o bairro. “Ondina é um dos principais pontos hoteleiros da cidade. Quando você muda o cenário, tira uma ruína e coloca um empreendimento moderno e novo, mesmo que privado, e isso impacta muito na convivência dos turistas que circulam por ali”, acredita.

O titular da pasta turística revela também que a construção do mirante trouxe novos planos para a praia de Ondina. “Estamos em processo para implementar um equipamento de uso da praia, um quiosque, assim como o da vila do Jardim dos Namorados e da Vila Caramuru, no Rio Vermelho. Vai ser um equipamento que vai oferecer produtos e serviços ao turista, que vem antes até do empreendimento privado”, completa Tinoco, que acrescenta que a expectativa é que o novo equipamento seja implementado ainda em 2019.

O setor de turismo, apesar de sentir a perda do equipamento hoteleiro, concorda com o benefício da requalificação que será trazida pela nova construção. “É um grande hotel que marcou a história de Salvador e perdê-lo foi um impacto. Mas, quando você tira uma construção abandonada, que deixava a cidade feia, a cidade fica mais bonita esteticamente. Isso é ótimo”, comentou o vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens na Bahia (Abav-Ba)

Demolição O processo para tirar a construção do terreno de 12 ml m² da Orla da cidade não foi simples. “Tivemos que fazer um estudo para realizar tudo da forma mais segura possível. Contratamos uma empresa especializada, fizemos um estudo e preparação do terreno”, explica o diretor de engenharia da Moura Dubeux, Roberto Cardoso.

O engenheiro diz ainda que algumas medidas foram tomadas para garantir a segurança. “Com o estudo, vimos que a forma mais segura de fazer era tirar a construção de cima para baixo, para não usar implosivos. Construímos ainda uma barricada para evitar que qualquer material fosse parar na rua”, explicou.

Depois de meses de trabalho, com a conclusão dessa primeira etapa, e depois que o terreno for limpo e liberado dos entulhos, a demolição continuará com a retirada das fundações do Salvador Praia Hotel, que ainda estão no local. “A previsão é que me novembro já tenhamos retirado todo o Salvador Praia Hotel do terreno”, disse o profissional.

Segundo a empresa, a obra para a construção dos novos edifícios devem durar 48 meses e gerar 350 empregos diretos no canteiro de obras. Somados, os dois prédios contarão com 303 unidades.

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro